A possibilidade de que o julgamento final do processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff seja concluído ainda este mês elevou a temperatura na Comissão Especial do Senado, reunida nesta quarta-feira (3) para discutir o relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), já apresentado e lido ontem.
A polêmica veio após a declaração do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que ontem (3) defendeu o início do julgamento no dia 25 de agosto. Renan disse que, se for preciso, a Casa deverá trabalhar inclusive no fim de semana para agilizar a conclusão do processo.
A discussão ocorre porque senadores defensores e contrários ao impeachment não têm dúvidas de que o processo será levado até a fase final. A data do julgamento, no entanto, será marcada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que ainda não se manifestou oficialmente sobre o assunto, embora tenha adiantado que não pretende levar os debates para o fim de semana.
A sessão começou com muito bate-boca entre senadores favoráveis e contrários ao impeachment. Os defensores de Dilma Rousseff acusam o presidente da Casa e a base de apoio de Michel Temer de pressionar, a pedido do presidente interino, um desfecho mais rápido para o processo. Já os apoiadores de Temer acusam os defensores da presidenta afastada de tentar procrastinar a conclusão do processo.
"Vamos fazer aquilo que é a expectativa da sociedade, do povo brasileiro: decidir este processo. Chega de procrastinação, chega de chicana, chega de manobra vil para tentar ganhar mais 24 horas, 48 horas de um processo que já está encerrado", disse o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
"O que está acontecendo é uma tentativa de impedir a defesa da presidenta Dilma. Eu não vejo porque isso. E 48 horas fazem diferença, sim, em um julgamento desta magnitude. E, principalmente, porque o número de votos para aprovar esse impeachment é um número de votos apertado. Nós sabemos disso. E que estão sendo disputados. Em 48 horas, temos condições de fazer argumentação, de ouvir mais testemunhas, de fazer o convencimento. Aliás, é um fato. Desde que iniciamos os trabalhos aqui, tivemos uma mudança, inclusive da população, em relação ao impeachment", disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
TV Senado
Antes do início discussão propriamente dita do relatório, apenas um fato uniu governistas e oposicionistas. Todos exigiam que a TV Senado, que transmitia a reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), passasse a transmitir ao vivo a Comissão Especial do Impeachment. O senador Ronaldo Caiado (DEM_GO), primeiro inscrito para a discussão, chegou a dizer que preferia abrir mão de ser o primeiro e ir para o final da fila para ter a fala garantida pela transmissão de TV, ao final da reunião da CCJ.
Já Gleisi Hoffmann disse que os apelos para que a transmissão da reunião fosse feita ao vivo não tinha nada a ver com vaidade dos senadores e nem com " vontade de aparecer", mas, sim, com a preocupação de permitir que a população acompanhasse a discussão, devido a sua importância.
A TV Senado interrompeu a transmissão da CCJ para dar vez a Comissão do Impeachment.
Discussão
Por determinação do presidente do colegiado, Raimundo Lira (PMDB-PB), neste momento cada senador tem 10 minutos para se manifestar sobre o relatório de Anastasia. Ao fazerem suas defesas , eles aproveitam para adiantar como pretendem votar. Os advogados de defesa e acusação também terão 20 minutos cada para fazerem suas observações.
Amanhã (4), o colegiado volta a se reunir exclusivamente para votar o relatório. Devido ao jogo da seleção brasileira olímpica de futebol masculina contra a África do Sul, que vai ocorrer amanhã, às 16h, no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, a reunião que estava marcada para as 11h foi antecipada para as 9h.