O ex-procurador-geral da República Roberto Gurgel disse neste domingo (8) à BBC News Brasil que houve "omissão escandalosa" do governo do Distrito Federal na invasão de bolsonaristas ao Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Palácio do Planalto.
Para Gurgel, essa "omissão" sugere que existe uma "conivência" com os invasores, o que justifica a intervenção federal na segurança pública do DF, decretada no fim da tarde deste domingo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Diante da escandalosa omissão das autoridades do Distrito Federal, sugerindo possível conivência, temos presente, a meu ver, claríssima hipótese de intervenção federal no Distrito Federal", disse Gurgel, que foi procurador-geral da República por dois mandatos, entre 2009 e 2013.
Com a decretação da intervenção federal, o comando da segurança pública no DF passa temporariamente a um interventor subordinado à Presidência da República.
"Não existe precedente o que essa gente fez e, por isso, essa gente terá que ser punida. Nós vamos inclusive descobrir quem são os financiadores desses vândalos que foram à Brasília e todos eles pagarão com a força da lei esse gesto de irresponsabilidade, esse gesto antidemocrático e esse gesto de vândalos e fascistas", disse Lula ao anunciar que editou decreto para que o governo federal assuma o controle das ações de segurança na capital federal.
Mais cedo neste domingo, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, demitiu seu secretário de segurança Anderson Torres, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro. Mas políticos e juristas criticaram a demora do governador em agir e a inércia da Polícia Militar do DF diante dos invasores, além de levantarem suspeitas de que Anderson Torres, aliado de Bolsonaro, estaria agindo com conivência com os invasores.
"O interventor poderá requisitar, se necessário, os recursos financeiros, tecnológicos, estruturais e humanos do Distrito Federal afetos ao objeto e necessários à consecução dos objetivos da intervenção", diz o decreto editado por Lula.
Com a intervenção, poderão ser mobilizados "quaisquer orgãos, civis e militares" para conter a violência e a depredação do patrimônio público. Ou seja, poderão ser utilizados efetivos da PM, Polícia Civil, Força Nacional ou Forças Armadas.
Invasão e destruição
Milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram neste domingo áreas do Congresso Nacional, do STF e do Palácio do Planalto.
O grupo, que estava concentrado na frente do Quartel-General do Exército, se deslocou para a Esplanada dos Ministérios no início da tarde de domingo. Imagens veiculadas por emissoras de TV mostram centenas de pessoas nas rampas que dão acesso ao Congresso e ao Palácio do Planalto e em volta do prédio do STF.
No Congresso, centenas de pessoas subiram na laje do edifício, enquanto parte do grupo ingressou no Salão Verde e no plenário do Senado. As imagens mostram vidraças quebradas e pessoas enroladas em bandeiras do Brasil caminhando com tranquilidade dentro do prédio.
Outras imagens mostram membros do grupo dentro do gabinete da Presidência da República, no Palácio do Planalto, e no plenário do STF. Nesses locais, vidros também foram quebrados.
Por volta das 17h, segundo imagens de helicóptero transmitidas pela emissora GloboNews, seguranças haviam conseguido retomar o prédio do STF e expulsar os invasores.
Nos arredores do Congresso, policiais tentavam frear o avanço do grupo com spray de pimenta e gás lacrimogêneo.