A deputada estadual Isa Penna (PCdoB) entrou nesta segunda-feira, 25, com uma representação no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) pedindo a cassação do deputado Delegado Olim (PP) por quebra de decoro parlamentar. Olim afirmou que a colega, vítima de importunação sexual na Casa, teve "sorte" de ser assediada, numa referência à projeção que teria conquistado após o caso.
Além da perda de mandato, Isa Penna também requer o afastamento preventivo de Olim da posição que exerce no Conselho de Ética. Ela protocolou ainda uma notícia-crime no Ministério Público de São Paulo em que pede instauração de procedimento de investigação criminal contra o deputado.
Olim foi o relator do processo de Arthur do Val (União Brasil) no Conselho da Alesp e responsável pelo parecer que pede a cassação do ex-deputado pelos áudios com falas sexistas sobre mulheres ucranianas. Na declaração contestada por Penna, ele se referia a um episódio de dezembro de 2020, em que câmeras da Alesp flagraram o deputado Fernando Cury (sem partido) colocando as mãos nos seios de Isa Penna. Punido internamente na Casa, Cury foi suspenso de suas atividades por 180 dias.
"Sorte dela porque ela vai se eleger por causa disso. Ela só fala nisso", disse Olim, em entrevista ao podcast Inteligência LTDA na última quarta-feira, 20. Um dia após a declaração, o deputado ainda afirmou à TV Globo que Isa Penna tem o direito de se incomodar com sua fala e acrescentou que a indignação daria a ela "mais cinco minutos de fama".
"O jeito que eu coloquei, que eu errei, de expressar. Então ela está no direito dela e tudo bem, mais cinco minutos de fama, sem problema nenhum", afirmou.
Na ocasião, Olim também publicou nota em que disse que se "expressou mal" e que "a intenção era dizer que a deputada Isa Penna ficou mais conhecida com o caso infeliz e repugnante do assédio do deputado Fernando Cury".
Caso Cury
Durante a entrevista ao podcast, Olim também minimizou a atitude de Cury, a quem chamou de "um cara do bem", e disse que o colega estava bêbado no dia em que assediou Isa Penna.
Com base na declaração, a deputada também solicitou que o Conselho de Ética apure "eventual suspensão ou impedimento" de Olim no processo que culminou na punição de Fernando Cury.
Na ocasião, o primeiro voto de Olim no colegiado foi por uma pena mais branda a Cury, de quatro meses de afastamento, que a definida posteriormente em plenário.
"Tal conduta é necessária para que haja a garantia da regularidade dos processos éticos-disciplinares com julgadores imparciais, o que parece, não foi o caso de julgamento pregresso e que concluiu com penalidade mais branda a Fernando Cury", escreveu a defesa de Isa Penna.
"Delegado Olim é um deputado que, depois do assédio, já tentou me intimidar e falou de forma irônica sobre o caso com outros parlamentares. Só que, desta vez, ele fez isso em público", alegou, em nota, a deputada.
Em entrevista ao Estadão um dia após as declarações de Olim, a presidente do Conselho de Ética, Maria Lúcia Amary (PSDB), criticou a postura do deputado. "A fala foi absolutamente inoportuna, inconsequente em relação ao momento que estamos vivendo. O empoderamento das mulheres não se faz por essa vertente", afirmou. Ela lembrou ainda que, em caso de processo contra o parlamentar, ele não deverá votar enquanto membro do Conselho.
Procurada, a assessoria de imprensa de Olim não retornou até a publicação desta reportagem.