O deputado federal Jean Wyllys (Psol) ironizou o silêncio do candidato governistas à Presidência da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), em relação à polêmica que dominou esta semana os corredores do Congresso e todas as redes sociais. O parlamentar cobrou uma postura do colega de mandato sobre as provocações do deputado Jair Bolsonaro (PP) à parlamentar petista Maria do Rosário. Repetindo declaração de 2003, Bolsonaro disse que não a estupra porque ela não merece. “É estranho que o principal candidato à Presidência da Câmara não tenha emitido nem um ‘ai’. É grave quando o futuro presidente da Casa, em plena campanha, silencia sobre a violência contra a mulher”.
As declarações foram feitas nesta sexta-feira, no Rio, durante o lançamento de um manual da ONU sobre promoção dos direitos humanos da comunidade LGBT no mercado de trabalho. Apesar de o tema ser outro, em vários momentos do encontro a polêmica envolvendo Bolsonaro foi citada por participantes. “Não foi só a Maria do Rosário que foi atingida. O Bolsonaro endossou a cultura do estupro, de que mulheres podem e devem ser estupradas”, completou Jean, afirmando que “uma pessoa destas não merece ser presidente da Câmara”.
O clima na Casa, diz o parlamentar, é de que há espaço para cassação de mandato contra Bolsonaro ou algum tipo de punição. Ontem, PT, PSB, PCdoB e Psol entraram com uma ação no Conselho de ética da Câmara pedindo a cassação do mandato. “Desta vez me parece que ele deu um passo adiante. Sabe aquela história de que o peixe morre pela boca?”, provocou Wyllys.
Os opositores e críticos do deputado na Câmara estão comemorando o fato de o PSDB, maior partido de oposição ao governo federal, ter emitido nota sobre o assunto. “É significativo o PSDB, depois de pressão social, ter emitido uma nota, apesar de tímida e que não cita o fato e o nome dele, mas, ainda assim, uma nota”.
Ativista de causas LGBT, o coordenador especial da Diversidade Sexual do Rio, Carlos Tufvesson, iniciou sua fala durante o encontro de lançamento do manual sobre os LGBTs no mercado de trabalho de forma emocionada. “Quero me posicionar contra essa barbaridade contra mulheres ou qualquer outro cidadão. É lamentável quando se vê o uso de um termo jocoso em que se insinua que caso a mulher seja bonita ela mereça ser estuprada. Faço um paralelo com o ódio nutrido contra os LGBTs”.
‘Não me arrependo’
Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira que não se arrepende do que falou e que só verá qual atitude tomar em relação aos pedidos de cassação quando tomar conhecimento das ações. Ele atacou o deputado Jean Wyllys, segundo ele, um “analfabeto” com comportamento que não é “aquele que um pai quer para seu filho”. “Ele não tem moral para falar em cassar ninguém. Manda ele procurar a turma dele”.
Bolsonaro se defendeu dizendo que o movimento está sendo orquestrado por pessoas que têm “bronca muito mais ideológica contra um deputado que defende a família, que está aberto a qualquer debate”. Ele ainda questionou a reportagem: “por que você não pergunta a Maria do Rosário porque (em 2003) ela me chamou de estuprador?”.