João Dória se compara a ex-prefeito de NY para eleição em SP

28 ago 2015 - 06h20
(atualizado às 08h17)

Pelo menos cem retratos de João Doria Jr, ao lado de celebridades como Xuxa, Roberto Carlos, Hebe Camargo e Ayrton Senna, se enfileiram no escritório do empresário e apresentador de televisão, no 11º andar de um prédio elegante em São Paulo. Há três semanas, seus companheiros de TV José Luiz Datena e Celso Russomano (além da ex-apresentadora Marta Suplicy) passaram também a acompanhá-lo – não nas paredes de madeira escura, mas nas prévias da disputa ao cargo de prefeito de São Paulo, em 2018.

O empresário João Doria Jr
O empresário João Doria Jr
Foto: Lide

"Rádio e televisão têm penetração muito grande no Brasil", argumenta o pré-candidato pelo PSDB, com o mesmo sorriso das fotos. "Coincidência sermos quatro figuras midiáticas." Se o programa de entrevistas que apresenta há 23 anos, amarga audiência inferior a dos outros três, Doria sai na frente no prestígio entre políticos e poderosos.

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A seu lado estão 1,7 mil empresários que formam o Lide, organização que fundou em 2003 para fortalecer a "livre-iniciativa do desenvolvimento econômico e social" e promover encontros entre líderes do setor produtivo.

A soma da produção destes empresários representa, de acordo com Doria, 52% do PIB privado nacional.

Aconselhado por pessoas próximas a evitar "malhas de cashmere nas costas", a fim de desfazer a imagem ligada à elite, o apresentador promete à reportagem que vai substituir o figurino formal por "jeans, camiseta e tênis" em sua aproximação com o "segmento dos trabalhadores, do proletariado".

"Como candidato, você tem que estar aberto ao diálogo", diz. "Você não vai visitar a periferia de terno. Não condeno quem faça isso, mas eu não vou visitar áreas periféricas assim."

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SP X NY

Dono de 17 revistas sobre consumo, luxo e negócios, ele rejeita comparações com o também líder empresarial Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de SP), cuja candidatura ao governo estadual não decolou no ano passado.

"Nem Paulo Skaf, nem PMDB. Sou PSDB e meu nome é João Doria", diz, com a mesma entonação com que "demitia" os participantes do reality show que apresentou entre 2010 e 2011.

"Estou mais próximo a um Michael Bloomberg, que mostrou que eficiência de gestão no setor privado pode ser reaplicada no setor público", emenda.

O empresário americano, que tem em comum com Doria o ramo de mídia e comunicações, é hoje o 10º homem mais rico dos Estados Unidos, segundo revista, e foi prefeito de Nova York por três mandatos seguidos. "Um excelente prefeito", diz o brasileiro.

Cansei

Doria foi um criadores do Cansei, movimento que chegou a reunir 5 mil pessoas em São Paulo contra o governo do ex-presidente Lula e se desfez após poucos meses.

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Hoje ele afirma que o grupo, que abrigava empresários e artistas como Ivete Sangalo, Regina Duarte e Ana Maria Braga, foi um precursor dos protestos atuais contra o governo – que chegaram a levar mais de um milhão de pessoas às ruas no início de março.

E por que os protestos só decolaram recentemente? "O volume de denúncias de corrupção, usurpação, mentiras, ilegalidades e mal feitos cresceu a ponto de até as pessoas mais distantes da politica se revoltarem e engrossarem as vozes que, mais conscientes, já percebiam isso há mais tempo", justifica.

O apresentador da Band reitera sua defesa ao impeachment de Dilma Rousseff, a quem considera cada vez mais "frágil" e "dependente": "Alguém com 8% de apoio popular não tem mais legitimidade, não obstante ter sido eleita pelo voto direto, para comandar o país", diz. "Ela tem de direito esta representação, mas de fato não tem."

Ao mesmo tempo, faz comentários positivos em relação ao vice-presidente Michel Temer (PMDB) e elogia Joaquim Levy, ministro da Fazenda. "Ele sabe o que tem que ser feito, mas não tem apoio necessário para que seu programa seja implementado".

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Corrupção

Defensor de um "financiamento misto entre público e privado" em campanhas eleitorais, o empresário não poupa as empreiteiras investigadas pela Polícia Federal no esquema de corrupção da Petrobras. "Um erro não justifica o outro. Não é justificável o setor privado errar porque foi obrigado", diz, equiparando a corrupção em empresas à corrupção em governos. "Era melhor que nesse caso fosse prejudicado."

Algumas das construtoras, como a Brasken, controlada pela Odebrecht, cujo presidente está preso, chegaram a ser homenageadas no passado em eventos promovidos pelo Lide.

Para o empresário, o juiz Sergio Moro, que comanda os julgamentos dos crimes identificados pela operação, age com "total independência" e "tem mostrado vigor, isenção na aplicação da lei e determinação para fazer valer a lei doa a quem doer".

Ele é mais cético em relação a Rodrigo Janot, Procurador Geral da República, quem tem o poder de investigar e denunciar autoridades com direito a foro privilegiado. "Sinto o Janot mais próximo dos poderosos do que no sentimento mais amplo de estar isento e em condições de aplicar a lei a todos, indistintamente", diz. "Me causou má impressão."

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Na véspera da entrevista, o doleiro Alberto Youssef, delator do escândalo de corrupção, afirmou em depoimento à CPI da Petrobras que o senador Aécio Neves, companheiro de Doria no PSDB, também teria dinheiro ilegal de estatais. "Sempre é preciso provar, ou demostrar com clareza", rebate Doria. "Não dá para imaginar que alguém mencionado deva ser condenado. A investigação deve ser colocada para elucidar com clareza a inexistência do fato, ou a existência do mesmo."

Acelerar

O pré-candidato à prefeitura de São Paulo diz que a cidade precisa "voltar a acelerar", em referência à redução da velocidade máxima em vias expressas criada pelo petista Fernando Haddad, atual prefeito. "A população não gosta é quando isso é feito de maneira apressada, não dialogada", diz, citando também as ciclovias inauguradas na cidade.

"Isso cria conflitos, coloca em risco a relação entre pedestres, motoristas e ciclistas. Cria até um clima de inimizade, o que é ruim", completa.

Entre críticas à "falta de planejamento" da gestão atual e promessas de desenvolvimento para o "coração vibrante do pais, a cidade de todos os brasileiros, até aqueles que escolheram o Brasil para viver", Doria faz uma ressalva em relação ao oponente petista: "a gestão municipal não é desonesta ou errática em sua índole moral – o que já é um fato extraordinário em se tratando de PT."

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