Mesmo após admitir confusão, o jornalista e ativista norte-americano Michael Shellenberger afirmou que havia outros indícios de que os órgãos públicos teriam tentado violar a privacidade e censurar adversários políticos.
O jornalista e ativista norte-americano Michael Shellenberger confundiu um processo do Ministério Público de São Paulo (MPSP) contra uma liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC) com uma ameaça do ministro Alexandre de Moraes (STF) contra um advogado do X (antigo Twitter). O erro foi admitido pelo próprio ativista, nesta quinta-feira, 11.
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Desde a semana passada, Shellenberger está disseminando os conteúdos do chamado "Twitter Files Brazil" - que consiste num recorte de documentos vazados, em 2022, pelo bilionário Elon Musk sobre as operações do X em todo o mundo. Em um post nesta semana, o jornalista disse ter visto uma troca de e-mails.
"Alexandre de Moraes e outros funcionários do governo ameaçaram processar criminalmente o advogado do Twitter no Brasil se ele não entregasse informações privadas e pessoais, incluindo números de telefone das pessoas e suas mensagens diretas pessoais", afirmou.
A informação, no entanto, foi rebatida pela advogada e especialista em direito digital Estela Aranha. Usando a data dos prints, ela encontrou o único processo em âmbito criminal que existia contra um advogado do Twitter. A ação referia-se a um pedido do MPSP para ter acesso a informações como e-mail e telefone de um perfil identificado como ligado ao crime organizado.
Shellenberger afirma que começou sua cruzada no Brasil quando descobre arquivos que demonstram que “Alexandre de Moraes e outros funcionários do governo ameaçaram processar criminalmente o advogado do Twitter no Brasil se ele não entregasse informações privadas e pessoais” pic.twitter.com/UxWEb4N8j8
— Estela Aranha (@estela_aranha) April 10, 2024
No processo, o então Twitter se nega a fornecer tais dados por mais de uma vez.
"Não tem STF, TSE, não tem Ministro Alexandre de Moraes, não tem liberdade de expressão ou debate político", escreve a advogada.
Depois do exposto por Aranha, o jornalista Shellenberger voltou atrás do que dizia em sua publicação original, assumindo o erro. Ainda assim, o norte-americano frisou que, para ele, há outros indícios de que o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e Alexandre de Moraes teriam tentado violar a privacidade e censurar adversários políticos.
"'Em 30 de março de 2022, um dia após a posse de Moraes como presidente do TSE, o TSE mandatou o Twitter para, no prazo de uma semana e sob ameaça de multa diária de R$ 50.000 (US$ 10.000) , fornecem dados sobre as estatísticas de tendências mensais das hashtags #VotoImpressoNAO (“PrinteVoteNo”) e #VotoDemocraticoAuditavel (“VotoDemocráticoAuditavel”)....Além disso, o TSE exigiu informações de assinatura e endereços IP dos usuários que utilizaram a hashtag #VotoDemocraticoAuditavel." Primeiro, esta é uma violação óbvia da privacidade. Uma pessoa deveria poder publicar críticas sobre tudo o que quisesse, incluindo eleições, sem que a polícia secreta do governo invadisse a sua privacidade", escreveu.
Shellenberger afirma que começou sua cruzada no Brasil quando descobre arquivos que demonstram que “Alexandre de Moraes e outros funcionários do governo ameaçaram processar criminalmente o advogado do Twitter no Brasil se ele não entregasse informações privadas e pessoais” pic.twitter.com/UxWEb4N8j8
— Estela Aranha (@estela_aranha) April 10, 2024