Após acusar revisor de "chicana", Barbosa nega cercear falas de colegas

O revisor do mensalão, Ricardo Lewandowski, disse que o bate-boca da semana passada foi lamentável, mas que o episódio está superado

21 ago 2013 - 15h04
(atualizado às 20h11)
<p>Joaquim Barbosa negou intenção de cercear trabalho de colegas na primeira sessão após protagonizar bate-boca com Ricardo Lewandowski</p>
Joaquim Barbosa negou intenção de cercear trabalho de colegas na primeira sessão após protagonizar bate-boca com Ricardo Lewandowski
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil

Em uma espécie de reflexão sobre o bate-boca travado na última quinta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, negou nesta quarta-feira, no início da sessão da Corte, cercear a liberdade de expressão de outros ministros. O ministro Ricardo Lewandowski, que foi acusado por Barbosa de fazer “chicana” em favor dos réus, classificou o episódio como “lamentável”, agradeceu manifestações de solidariedade e  disse que a discussão está superada.

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“Longe de mim a vontade de cercear a livre expressão de qualquer membro dessa corte. Reafirmo aquilo que tive como norte, como direção, durante aquele episódio. A minha deliberação no sentido de evitar maiores delongas, sobretudo na conclusão desse processo que é de extremo interesse da sociedade brasileira. Acrescento que tenho uma visão bastante peculiar da presidência de um dos poderes da República, e eu não vejo a presidência do Supremo como um eco de vontades corporativas”, disse Barbosa, no início da sessão, sem citar Lewandowski. Não houve pedidos de desculpas por parte dos ministros durante a sessão.

Enquanto analisavam um embargo do ex-deputado Carlos Alberto Rodrigues Pinto, o Bispo Rodrigues na semana passada, Lewandowski suscitou a questão de que o Supremo teria condenado o réu por corrupção passiva com base numa legislação posterior mais severa do que a que valia na época do crime. O argumento foi rechaçado por outros ministros. Barbosa disse para o revisor que os embargos não eram para “arrependimento” e o acusou de fazer “chicana” (manobras para beneficiar a defesa).

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“Com referência ao lamentável episódio da semana passada, quero dizer que me sinto e me senti extremamente confortado pelas manifestações formais e explícitas da solidariedade que tive”, disse Lewandowski, antes de listar uma série de associações que publicaram notas em sua defesa. “Quero deixar esse episódio de lado, considera-lo ultrapassado, de modo que esse tribunal é maior que cada um de seus membros e a somatória de todos os seus integrantes”, afirmou.

Barbosa, em sua manifestação, reiterou o respeito aos demais ministros, mas deixou claro que sua função é trabalhar para a sociedade, com uma justiça célere. “Ratifico meu respeito ao tribunal e aos seus membros, mas ratifico que é dever do presidente para adotar todos para que o serviço seja célere, sem delongas, até por respeito à sociedade, que é quem paga nossos salários”, disse.

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O ministro mais antigo do Supremo, Celso de Mello, disse que o episódio da semana passada merece reflexão e defendeu a independência dos integrantes da Corte. "Direitos e garantias fundamentais  dos cidadãos dependem da liberdade e da independência dos magistrados", disse.

Para o decano, votos vencidos e minoritários também são importantes e não podem ser entendidos como "rebeldes". "Nos votos vencidos algumas vezes residem sementes das grandes transformações", disse.

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O ministro Marco Aurélio Mello também se solidarizou com Lewandowski. "Até quando divirjo da manifestação dada, defendo o direito de vossa excelência de proclamar o que pensa. Siga em frente, ministro, caminhamos rumo à quadra que a coragem de dizer as próprias verdades não mais será motivo de assombro", afirmou.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

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O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson. Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas. A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão.

Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.

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No dia 17 de dezembro de 2012, após mais de quatro meses de trabalho, os ministros do STF encerraram o julgamento do mensalão. Dos 37 réus, 25 foram condenados, entre eles Marcos Valério (40 anos e 2 meses), José Dirceu (10 anos e 10 meses), José Genoino (6 anos e 11 meses) e Delúbio Soares (8 anos e 11 meses). A Suprema Corte ainda precisa publicar o acórdão do processo e julgar os recursos que devem ser impetrados pelas defesas dos réus. Só depois de transitado em julgado os condenados devem ser presos.

Fonte: Terra
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