Procurado em 190 países, Pizzolato pode estar escondido no Brasil

Versões de fuga para Itália podem ser estratégia para confundir trabalho da PF, segundo fonte consultada pelo Terra

19 nov 2013 - 19h39
A Interpol emitiu um alerta de procura por Henrique Pizzolato, condenado por envolvimento no mensalão
A Interpol emitiu um alerta de procura por Henrique Pizzolato, condenado por envolvimento no mensalão
Foto: Interpol / Reprodução

Com ordem de captura em 190 países, através de alerta conhecido como Difusão Vermelha no sistema de comunicação da Interpol, o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado no processo do mensalão e considerado foragido da Justiça, pode estar escondido no Brasil. Até a tarde desta terça-feira, não havia nenhuma confirmação de saída do fugitivo do território nacional.

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A Polícia Federal prefere não descartar a possibilidade de fuga internacional, mas uma fonte oficial do órgão que atua na operação de buscas ao ex-diretor do BB disse, com exclusividade ao Terra, que setores de inteligência da PF desenvolvem operações sigilosas para localizar Pizzolato no Brasil. "Não podemos divulgar detalhes para não comprometer a metodologia do trabalho desenvolvido sob sigilo", informou a fonte.

Versões de supostos roteiros escolhidos para fuga através das fronteiras do Paraguai e Argentina, divulgadas pela imprensa, podem fazer parte de uma estratégia de um grupo de pessoas ligadas a Pizzolato com o objetivo de confundir o trabalho da polícia brasileira.

Com os passaportes, italiano e brasileiro, apreendidos pela Justiça no ano passado, a hipótese de fuga do ex-diretor do BB através de aeroportos de países vizinhos seria complicada, segundo um agente da PF. Antes do embarque, os passaportes apresentados por estrangeiros são verificados e é a realizada a conferência dos carimbos de entrada e saída. "Uma segunda via do documento sem carimbos ou mesmo um novo passaporte iria gerar dúvidas e possivelmente uma abordagem mais detalhada do passageiro", afirma o policial. Na segunda-feira, a Embaixada da Itália em Assunção, no Paraguai, informou que não houve emissão de novo passaporte para Pizzolato em território paraguaio, como chegou a ser divulgado inicialmente.

O Terra apurou que uma das linhas de investigação da polícia brasileira segue o deslocamento e a localização atual da arquiteta Andréa Hass, mulher de Pizzolato. Andréa teria deixado a cobertura em Copacabana, no Rio de Janeiro, dias após a saída do marido. Oficialmente, a PF não confirma a investigação.

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O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio responderam ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado doPP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

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O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles responderam por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro. A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) respondeu processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia incluía ainda parlamentares do PPPR(ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson. Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.

No dia 17 de dezembro de 2012, após mais de quatro meses de trabalho, os ministros do STF encerraram o julgamento do mensalão. Dos 37 réus, 25 foram condenados, entre eles Marcos Valério (40 anos e 2 meses), José Dirceu (10 anos e 10 meses), José Genoino (6 anos e 11 meses) e Delúbio Soares (8 anos e 11 meses).

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Após a Suprema Corte publicar o acórdão do processo, em 2013, os advogados entraram com os recursos. Os primeiros a serem analisados foram os embargos de declaração, que têm como função questionar contradições e obscuridades no acórdão, sem entrar no mérito das condenações. Em seguida, o STF decidiu, por seis votos a cinco, que as defesas também poderiam apresentar os embargos infringentes, que possibilitariam um novo julgamento para réus que foram condenados por um placar dividido – esses recursos devem ser julgados em 2014.

Em 15 de novembro de 2013, o ministro Joaquim Barbosa decretou as primeiras 12 prisões de condenados, após decisão dos ministros de executar apenas as sentenças dos crimes que não foram objeto de embargos infringentes. Os réus nesta situação eram: José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Henrique Pizzolato, Simone Vasconcelos, Romeu Queiroz e Jacinto Lamas. Todos eles se apresentaram à Polícia Federal, menos Pizzolato, que fugiu para a Itália.

Fonte: Especial para Terra
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