Supremo começa hoje julgamento de recursos do mensalão

Novos ministros e manifestações populares são ingredientes extras que podem influenciar decisão

14 ago 2013 - 06h00
(atualizado às 06h09)

Com dois novos ministros e ainda à sombra das manifestações populares que tomaram as ruas brasileiras em junho, o Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta quarta-feira o julgamento dos recursos apresentados pelos 25 réus condenados no processo do mensalão. Entre os magistrados, a previsão é a de que essa nova fase seja concluída mais rapidamente que aquela que consumiu todo o segundo semestre do ano passado.  

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Para a defesa dos condenados, a mudança na composição da Corte é vista com bons olhos. Cezar Peluso deu lugar a Teori Zavascki. Já Luís Roberto Barroso substituiu Ayres Britto. Em seus votos, os dois ex- ministros seguiram quase sempre as posições do relator do caso e presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa.

Embora seja difícil prever o comportamento de Zavascki e Barroso no julgamento dos recursos, a saída de dois ministros que adotaram “linha dura” durante o processo garante alguma esperança para os réus, como relatam alguns advogados.

Barbosa será o primeiro a falar na sessão de hoje. Como não existe o papel do revisor nessa fase do julgamento, o voto seguinte não será do ministro Ricardo Lewandowski, mas do mais novo integrante, Luís Roberto Barroso. Zavascki virá em seguida. Outra mudança é que os advogados dos réus não terão direito a sustentação oral no plenário.

Os ministros devem começar a análise dos recursos pelo embargo de declaração de Rogério Tolentino, ex-advogado e ex-sócio de Marcos Valério. Ele foi condenado a seis anos e dois meses de prisão por corrupção ativa e lavagem de dinheiro, mas pede a revisão do cálculo da pena. 

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Até a última segunda-feira, o cronograma era outro. Inicialmente, os ministros começariam o julgamento dos recursos discutindo se aceitarão os chamados embargos infringentes. Esses recursos são previstos no regimento do STF e poderão levar a um novo julgamento para o crime no qual o condenado tenha tido ao menos quatro votos favoráveis. No entanto, com a morte da mulher do ministro Teori Zavascki, Maria Helena, Barbosa decidiu alterar a pauta do julgamento e começar pela análise dos embargos de declaração.

O embargo de declaração é um tipo de recurso usado para solucionar omissão, obscuridade ou contradição do acórdão, o documento que resume o julgamento ocorrido ao longo do segundo semestre de 2012. Em tese, ele não serviria para alterar o resultado do julgamento, mas há casos, como os que foram apresentados pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, pelo ex-presidente do PT José Genoino e pelo ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, em que isso pode ocorrer.

Depois do julgamento desses recursos, o tribunal vai entrar na parte mais polêmica dessa fase, os embargos infringentes. Se eles forem aceitos, não há previsão de quando o caso será encerrado, porque o processo poderá ser reaberto para 11 réus condenados. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares foi o único a entrar com embargos infringentes até agora. Joaquim Barbosa já negou o pedido, mas Delúbio recorreu ao plenário. 

Se a decisão tomada pelo plenário for diferente, outros réus poderão propor o mesmo recurso. Um deles é o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, em regime inicialmente fechado. Se for absolvido por formação de quadrilha, a punição cairia para sete anos e 11 meses, em regime semiaberto.

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Entre membros da Corte, o prognóstico é de que um resultado definitivo sobre o caso só deverá sair no segundo semestre de 2014. Isso porque, caso os embargos infringentes sejam aceitos pelos ministros, os réus teriam de esperar a publicação do acórdão do julgamento dos embargos de declaração, a interposição de recursos sobre esses mesmos embargos, o julgamento dos embargos infringentes e, ainda, mais recursos sobre o possível desfecho destes.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

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O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson. Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas. A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão.

Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.

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No dia 17 de dezembro de 2012, após mais de quatro meses de trabalho, os ministros do STF encerraram o julgamento do mensalão. Dos 37 réus, 25 foram condenados, entre eles Marcos Valério (40 anos e 2 meses), José Dirceu (10 anos e 10 meses), José Genoino (6 anos e 11 meses) e Delúbio Soares (8 anos e 11 meses). A Suprema Corte ainda precisa publicar o acórdão do processo e julgar os recursos que devem ser impetrados pelas defesas dos réus. Só depois de transitado em julgado os condenados devem ser presos.

Fonte: Terra
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