Pouco antes da reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na tarde desta segunda-feira, 6, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União-MA), publicou um vídeo nas redes sociais negando irregularidades em suas viagens para São Paulo e para o Maranhão. Uma série de denúncias contra ele vieram à tona recentemente, como a acusação de que o político fez uso de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a leilões de cavalos - uma paixão sua.
O vídeo foi publicado em seu Instagram por volta das 16h. Ele começa falando que está sofrendo “ataques distorcidos”, e que pretende esclarecer os fatos. O primeiro ponto que ele toca é sobre a viagem feita até o Maranhão. “Foi uma viagem a trabalho, com reuniões com a gerência regional da Anatel, com o prefeito de São Luiz e até mesmo com o governador do estado”, diz.
Segundo ele, houve uma contagem errada de diárias, o que gerou um valor mais alto a ser pago. Juscelino afirma que o valor foi devolvido.
“Sobre as diárias, o que aconteceu foi que o sistema gerou automaticamente as diárias para todo o período. Um erro do sistema, sem ter diferenciado o final de semana. Sabe o que fiz? Eu devolvi as diárias assim que eu soube, ainda no dia 19 de janeiro. Devolvi porque é o certo a se fazer, e fiz por decisão minha, com ou sem a imprensa”, alega.
Quanto a viagem de Brasília para São Paulo, feita com o voo das Forças Aéreas (FAB), na qual ele teria ido para leilões de cavalos, o ministro diz que foi para uma agenda oficial.
“Isso não é verdade. Eu fui para reuniões com a diretoria da operadora Claro, e com as gerências regionais da Telebras e da Anatel, além da montadora Biagi. Eu fui sim de voo oficial da FAB porque estava indo para uma agenda oficial. E o meu voo da Fab se deu em voo compartilhado, solicitado por outro Ministério”, afirma sem especificar a pasta.
A respeito da ocultação de patrimônio e do uso de orçamento secreto para beneficiar a própria fazenda no Maranhão, Juscelino, nega, afirmando que é “ficha limpa”. “Isso é uma injusta distorção dos fatos, estou à disposição das autoridades para tratar de tudo que está sobre minha responsabilidade, mas é inaceitável que me envolvam com atos de terceiros, sou ficha limpa e não respondo a nenhum processo e é importante deixar isso bem claro”.
Relembre denúncias
Avião da FAB
Segundo reportagem do Estadão, Juscelino Filho utilizou avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e recebeu diárias para participar de leilões de cavalos de raça que chegam a valer mais de R$ 1 milhão.
No fim de tarde de uma quinta-feira, 26 de janeiro, Juscelino saiu de Brasília com destino a São Paulo para uma viagem que justificou como "urgente". Seus compromissos oficiais somaram duas horas e meia. Da tarde de sexta até o retorno na segunda-feira, dia 30, o ministro - que é apaixonado por cavalos - se dedicou a agenda inteiramente privada: assessorou compradores de animais, promoveu um dos seus, recebeu o 'Oscar' dos criadores e inaugurou praça em homenagem a um cavalo de seu sócio.
Sócio de haras
Gustavo Gaspar, sócio do haras de Juscelino Filho, era funcionário fantasma enquanto trabalhou na liderança do PDT no Senado Federal, revelou o jornal O Estado de S. Paulo. Após questionamentos da reportagem, Gaspar foi realocado para outro cargo.
Nos registros do Senado, Gustavo Marques Gaspar aparece como funcionário comissionado no Gabinete de Liderança do PDT com salário de R$ 17,2 mil. A reportagem esteve no local, porém, não o encontrou e também ninguém soube informar sobre o seu paradeiro.
Asfalto para fazenda
A primeira denúncia envolvendo Juscelino Filho surgiu no final de janeiro deste ano. Na ocasião, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou que o ministro utilizou R$ 5 milhões do orçamento secreto para levar asfalto até propriedades de sua família em Vitorino Freire (MA), incluindo uma fazenda da qual é dono. As informações foram reveladas pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta segunda-feira, 30.
De acordo com a reportagem, Juscelino direcionou recursos do orçamento para a cidade onde sua família tem influência. Sua irmã, Luanna Rezende (União Brasil), é prefeita do município. Para a obra, foram contratadas uma empresa de um amigo de longa data do ministro e um engenheiro cuja indicação veio de seu grupo político.
Dados falsos
Outra denúncia do jornal foi documentos com dados falsos que Juscelino apresentou para justificar 23 viagens de helicóptero durante as eleições de 2022.
Em prestação de conta à Justiça Eleitoral, Juscelino - que fez campanha para deputado federal - levou os nomes de três pessoas que ele identificou como "cabos eleitorais", mas a reportagem apurou que se trata de uma família, um casal e uma menina de dez anos, natural de São Paulo e sem relação com o político.
As viagens de helicóptero foram apresentadas para justificar o gasto de R$ 385 mil do Fundo Eleitoral para a campanha de Juscelino como deputado, mas a família cujo nome aparece nos documentos nega até mesmo conhecer o ministro. “Isso aí está errado, provavelmente é uma fraude. Não tenho nenhuma ligação com campanha nem com político no Maranhão”, afirmou Daniel Andrade, que aparece na documentação.
Andrade afirmou já ter usado o serviço da empresa aérea que aparece na documentação, mas para realizar viagens dentro do Estado de São Paulo, e não para o Maranhão, como consta no material enviado à Justiça Eleitoral. “Provavelmente, usaram meu nome e puseram na comprovação de despesas. Eles pegaram a lista de passageiros do voo que eu voei e replicaram", acrescentou.
Na prestação de contas, a campanha de Juscelino afirma, entretanto, que "todos os voos foram feitos em prol da campanha eleitoral, bem como todas as pessoas que constam nos relatórios prestaram serviços diretamente à campanha”.
Entre as viagens de helicóptero na documentação, está passagens por várias cidades do Maranhão, como Vitorino Freire, município que há anos tem influência política da família de Juscelino.
Recontratação de bolsonaristas
Juscelino Filho também recontratou nove servidores demitidos pelo atual governo e que ocuparam cargos estratégicos na gestão de Jair Bolsonaro (PL) para cargos importantes em seu ministério. A ação foi contra ordens dadas pelo atual presidente Lula, que cobra de seus ministros uma “desbolsonarização” das pastas.