Acusado de cobrança de propina em contratos com o poder público, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral foi preso na manhã desta quinta (17) pela Polícia Federal.
A prisão marca o ponto mais baixo da trajetória pública do ex-governador, que há apenas seis anos foi eleito com 66% dos votos. Confira os 10 momentos mais marcantes da carreira de Cabral:
Primeira eleição
Cabral foi eleito pela primeira vez em 1990 como deputado estadual pelo PMDB com grande apoio dos idosos - ele organizava bailes da terceira idade no Rio. Foi reeleito outras duas vezes, em parte por se aproximar do eleitor recusando mordomias na Assembleia e indo ao trabalho com o próprio carro.
Aproximação com Garotinho
Em 2002, Cabral foi eleito senador com o apoio do ex-governador Anthony Garotinho, que por sua vez chegou ao poder com uma ampla coalizão de partidos de esquerda. Garotinho, que também foi preso na mesma operação da Polícia Federal esta semana, ainda o ajudou a se eleger governador em 2006.
Apoio do PT
Em 2010, Cabral também recebeu o apoio do PT - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a subir nos palanques para fazer campanha.
Cabral foi eleito já no primeiro turno com boa parte dos votos válidos. A aprovação da população em relação às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas favelas na época também colaborou para sua popularidade.
A euforia 'Rio cidade olímpica'
Em 2009, junto com o então presidente Lula, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, e o então prefeito do Rio, Eduardo Paes, Cabral assinou o contrato que oficializou o Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Cerca de 30 mil pessoas comemoraram o feito na praia de Copacabana - o clima era de euforia e vitória.
Reviravolta
O jogo virou para Cabral em 2011, quando foi revelada sua amizade com Fernando Cavendish, da Delta Construções, após a queda de um helicóptero a caminho da Bahia, onde o empresário comemoraria seu aniversário.
Na época, Cavendish, o mesmo que o entregou à Polícia Federal em sua delação, era acusado de tráfico de influência no governo federal - sua empresa faturou R$ 11 bilhões de dinheiro público em obras feitas entre 2007 e 2012. Somente em 2011, a Delta havia faturado R$ 1,4 bilhão em obras públicas no Rio.
Luxo e escândalos
A situação piorou em 2012, quando Garotinho, seu ex-aliado político, publicou fotos de Cabral e seus secretários dançando em jantares luxuosos em Paris com Cavendish. Uma das fotos mostrava os secretários de Cabral dançando com guardanapos na cabeça.
Caso Amarildo
No ano seguinte, caiu sobre o ex-governador o peso do Caso Amarildo, o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza em julho de 2013 logo após prestar depoimento na UPP da Rocinha. O caso ganhou ampla repercussão popular e na imprensa e este ano 12 dos 25 policiais militares denunciados pelo desaparecimento e morte de Amarildo foram condenados a penas de reclusão.
Helicóptero pessoal e protestos
Ainda em 2013, a revista VEJA revelou que Cabral gastava R$ 312 mil mensais em helicópteros que levavam sua família para passear.
Com a ebulição dos protestos de junho de 2013, a população do Rio se voltou contra Cabral, e a popularidade de seu governo despencou de 45% para 12%, segundo medição do Ibope. Protestos eram constantes e ele era frequentemente vaiado em solenidades.
Cabral chegou a tentar reverter a situação devolvendo aos cofres públicos o valor referente a suas diárias de hotel em uma viagem privada que fez à França em 2008, mas sua popularidade nunca foi recuperada.
Anel de R$ 800 mil
Em 2014, seu vice Luiz Fernando Pezão foi eleito governador do Rio, mas Cabral voltou aos holofotes no mês passado, quando Cavendish afirmou em sua delação premiada que, em 2009, pagou por um anel de R$ 800 mil para que Cabral presenteasse sua mulher, Adriana Ancelmo, em seu aniversário. Em nota, o governador confirmou o presente, mas disse não saber o valor do anel na época. Ele também disse ter devolvido o presente após as denúncias contra a Delta.
Prisão
Cabral foi preso na manhã desta quinta-feira (17) no Rio. Ele recebeu dois mandados de prisão preventiva, um expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, e outro pelo juiz Sergio Moro, em Curitiba.
Os mandados dizem respeito a duas operações diferentes - a Calicute, tida como um braço da Lava Jato no Rio, com base na delação premiada do empresário Fernando Cavendish, e a própria Lava Jato, baseada na delação da Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia.
A operação Calicute, responsável pelo mandado de prisão de Cabral, investiga o desvio de recursos públicos federais em obras realizadas pelo Governo do Rio de Janeiro, um prejuízo estimado em mais de R$ 220 milhões. O nome da operação é uma referência à cidade na Índia onde Pedro Álvarez Cabral, descobridor do Brasil, se envolveu em uma sangrenta disputa com comerciantes locais, em um episódio conhecido com "Tormenta de Calicute".