Os protestos que ocorreram neste domingo (4) contra a corrupção e em defesa da Operação Lava Jato levaram pelo centenas de milhares de pessoas à orla da zona sul do Rio de Janeiro. A Polícia Militar e o Exército não divulgaram informações oficiais. Os organizadores do evento calcularam cerca de 600 mil pessoas.
A aglomeração teve início por volta das 10h desta manhã na Avenida Atlântica, em Copacabana, entre as ruas Xavier da Silveira e Bolívar, na altura do Posto 5, mas rapidamente tomou diversas outras ruas, pelas pistas e calçadões da orla, com muita gente portando faixas, cartazes e vestindo as cores verde e amarela da bandeira brasileira.
Com palavras de ordem e gritos de protestos, os manifestantes atacavam, principalmente, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia e do Senado, Renan Calheiros. Seguindo a iniciativa de Maia, Renan também tentou aprovar requerimento de urgência para o Senado votar o projeto com as alterações propostas pela Câmara ao projeto de lei de autoria popular com 2,5 milhões de assinaturas com dez medidas de combate à corrupção.
O protesto na cidade atendeu a convocação dos Movimentos Vem Pra Rua (VPR) e Brasil Livre (MBL), da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro (Amaerj) e da Associação do Ministério Público do Estado (Amperj). Na avaliação dessas entidades, "a manifestação é uma oportunidade para que todos se juntem contra a responsabilização criminal de juízes e membros do Ministério Público".
Para Adriana Balthazar, do Movimento Vem pra Rua, os congressistas ainda não perceberam que o povo acordou e que o Brasil já não é mais o mesmo. “Os congressistas estão se esquecendo que, em 2015 a 1016, a população saiu às ruas por sete vezes com pautas diferentes, mas tendo sempre uma em comum: o apoio à Lava Jato e contra a corrupção”, disse. “A gente esclareceu para a população o que eram as dez medidas contra a corrupção, e eles vem na calada da noite e mudam o projeto. Não para melhorar, para aperfeiçoar, mas maldosamente em benefício próprio.”
Para ela, a atuação iniciada na Câmara dos Deputados culminou com a tentativa do presidente do Senado de tentar empurrar um processo de abuso de autoridade que está engavetado desde 2007. “Esse desrespeito da Câmara para com os 2,5 milhões de brasileiros que assinaram a inciativa foi um tapa na cara e as mudanças foram feitas para salvar a própria pele deles mesmos, mas não sairemos das ruas até que isto mude”, enfatizou.
Sanear o país
Para o delegado federal Jorge Barbosa Pontes, o país vem vivendo um movimento histórico. Ressaltando falar em nome próprio, não em nome da instituição ou da classe dos delegados, Pontes ressaltou que esse é o momento de sanear o país. “O Brasil está errado há mais de cem anos, mas este processo de mudança não é instantâneo. As pessoas pedem prisões, mas esquecem que o processo penal é algo demorado, amarrado”, criticou.
Segundo o delegado, a nova geração de policiais federais e de procuradores e juízes está fazendo um trabalho heroico que deveria ter sido feito. “O que estamos vendo agora não é uma manifestação qualquer, mas uma das fases da Operação Lava Jato, de quem nós somos hoje aqui também executores”, declarou.
Também presente ao ato, o promotor Público Carlos Henrique garantiu que os promotores e os magistrados têm orgulho de estarem participando da manifestação com a população. “Sabemos que estamos do lado certo. O que o Congresso está querendo, ao falar de abuso de autoridade, na verdade é calar, impedir a Lava Jato, a atuação do juiz [Sérgio] Moro”, diz.
O promotor disse que o Ministério Público não se intimidará com as tentativas de incriminar juízes e procuradores por abuso de autoridade. “Nós, promotores e juízes não temos medo de bandidos e não nos deixaremos nos intimidar. Estaremos do lado da população no combate a todos os tipos de criminalidades. Foi quando começamos a colocar na cadeia políticos e empresários do alto escalão, nos andares mais alto, que vieram essas reações contra o MP [Ministério Público] e contra a magistratura”, avaliou.
Indignação
O público que compareceu à manifestação em Copacabana era eclético e variado. Em meio à multidão, adolescentes, adultos e idosos, como Natal Antônio Abranches, 73 anos, entoavam o sentimento de indignação. “O motivo de estarmos aqui é para protestar contra essa corrupção toda, tem tanto ladrão que tá saindo pelo ladrão. É que está terra é tão rica que enquanto eles dormem ela se recupera”, disse.
Segundo o aposentado, a votação da Câmara foi feita por traidores da pátria, que agiram em defesa própria e para salvar a própria pele porque estão todos eles “enfronhados no cargo para roubar”. A jornalista e arquiteta Elisabete Soares, 56 anos, fazia coro aos protestos. “A Câmara dos Deputados parece que não é brasileira, porque essa decisão foi uma afronta ao povo brasileiro”, comentou.