Em depoimento prestado ao juiz federal Sérgio Moro, o ex-executivo da Andrade Gutierrez, Flávio Gomes Machado Filho, disse que o então presidente do PT, Ricardo Berzoini, pediu propina em contratos firmados entre a empresa e o governo federal. O depoimento foi prestado ontem (25) a Moro em uma ação penal da Operação Lava Jato. De acordo com o ex-executivo, o pedido foi feito durante uma reunião, em 2008.
Durante o depoimento, Machado Filho - que assinou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República - relatou que foi apresentado a João Vaccari, que na época era assessor de Berzoini.
"[...] o João Vaccari me solicitou que eu conseguisse agendar uma reunião com o presidente Otávio Azevedo [da Andrade Gutierrez] com a presença do presidente Ricardo Berzoini", disse. "Dessa reunião [em 2008] participou pela Andrade, Otávio e eu, pelo Partido dos Trabalhadores, o presidente Berzoini, o João Vaccari e o Paulo Ferreira. Nesta reunião, o presidente do PT à época, Ricardo Berzoini fez essa colocação que gostaria que todo e qualquer contrato da Andrade Gutierrez junto ao governo federal tivesse o pagamento de vantagens indevidas no valor de 1%", acrescentou.Conversa desagradável Segundo o ex-executivo da Andrade Gutierrez, a conversa foi "desagradável". "Isso foi uma conversa entre eles [Otávio e Berzoini], nós outros três ficamos praticamente calados, foi uma conversa muito desagradável, senti claramente a reação do Otávio Azevedo, ele inclusive se resguardou para que desse uma posição final mais a frente, em outra reunião, alguma coisa nesse sentido porque ele tinha que internalizar essa colocação", contou. Machado Filho foi questionado por Moro a respeito dos desdobramentos da reunião. "Os executivos envolvidos em diversas áreas não achavam que isso seria devido porque não tinha nenhuma ajuda especial, não tinha nada. Até onde o meu conhecimento, é que isso aí foi aceito, entre aspas, no processo daí pra frente porque a ideia era retroagir os efeitos, quer dizer, para outros contratos que ainda não tivesse recolhido", disse o ex-executivo.
Durante o depoimento, Machado relatou como Berzoini fez o pedido na reunião. "Eu não lembro exatamente os termos, mas em linhas gerais: 'achamos que como vocês têm interesse em trabalhar, estreitar relacionamento junto ao governo federal, nós então estamos solicitando a participação sua nesse sentido'", disse. "Na verdade, nós entendemos como sendo uma pressão. Não foi uma solicitação 'pode aceitar ou não aceitar'. A gente achou quase como uma imposição". Segundo Flávio Machado, foi possível perceber no encontro que "poderia haver algum tipo de situação desconfortável" para a empresa. De acordo com ele, Berzoini falou de forma "firme", "incisiva" e "um pouco além do tom" com Otávio Azevedo. Segundo o depoimento, a forma de pagamento da propina não foi acertada na reunião.Venezuela Flávio Machado disse ainda que era demandado "eventualmente" por outros partidos e políticos. "Até pela minha posição, minha exposição perante os poderes constituídos eu era demandado eventualmente por diversos políticos, diversos partidos, principalmente em época de campanha, mas não era exclusividade minha porque, eventualmente, políticos, como têm bases em outros estados, procuravam outros executivos da Andrade em outras situações".
Ele relatou que houve pagamento de propina em um contrato envolvendo a Eletronuclear e uma obra na Venezuela. Segundo Machado, os pagamentos foram feitos por meio de doações oficiais.
Em nota, a Andrade Gutierrez disse que mantém o compromisso com a Justiça e que "tem feito propostas concretas para dar mais transparência e eficiência nas relações entre setores público e privado". A assessoria ressaltou que responde pela empresa e não fala em nome de Flávio Machado.
O PT informou, em nota, que "refuta as ilações apresentadas". "Todas as doações que o PT recebeu foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral". A reportagem não conseguiu contato com Ricardo Berzoini.