Após quase cinco horas, terminou o primeiro depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância.
O ex-mandatário foi ouvido em Curitiba (PR) como réu no processo em que é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter recebido R$ 3,7 milhões em "vantagens indevidas" da empreiteira OAS.
A capital paranaense passou o dia em clima de tensão, com protestos contra e a favor de Lula e diversos bloqueios das forças de segurança para evitar confusão. Além disso, a Justiça havia proibido acampamentos na cidade e restringido a circulação nos arredores do prédio onde ocorreu o depoimento.
A audição de Lula marca a reta final do processo, embora não exista um prazo para Moro aplicar sua sentença. Se condenado, o ex-presidente pode pegar até 22 anos de prisão. Os outros réus são o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e cinco executivos ligados à OAS, incluindo seu ex-presidente Léo Pinheiro.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), o petista teria recebido R$ 3,7 milhões em "vantagens indevidas" para favorecer a empreiteira em contratos com a Petrobras. Entre esses benefícios estariam um apartamento tríplex no Guarujá e R$ 1,3 milhão pagos pela OAS à empresa Granero para armazenar o acervo presidencial de Lula.
A defesa do ex-presidente tentou vários recursos para adiar o depoimento, mas todos foram recusados pela Justiça. De acordo com os advogados do petista, ele e sua esposa, a falecida Marisa Letícia, chegaram a visitar o apartamento em questão pois planejavam comprá-lo, mas o negócio acabou não acontecendo.
Durante a audiência com Moro, Lula negou que fosse proprietário do tríplex. De acordo com o petista, não haveria condições de ele ter um apartamento no Guarujá por ele ser uma figura pública. Além disso, garantiu que não ter ordenado nenhuma reforma no imóvel. "Fui lá, coloquei 500 defeitos no apartamento e nunca mais falei com o Léo Pinheiro sobre o apartamento", disse.
Comício
Após o depoimento, Lula se dirigiu a uma praça em Curitiba e discursou para a multidão que se deslocou para a cidade para apoiá-lo. No palco, estavam a seu lado a ex-presidente Dilma Rousseff, o presidente do PT, Rui Falcão, a senadora Gleisi Hoffmann e o líder do Movimento Sem Terra (MST), João Pedro Stédile.
"Haverá um momento em que a história irá mostrar que nunca antes na história deste país alguém foi tão perseguido como eu estou sendo nestes últimos anos. Algum dia alguém irá poder contar a história do que fizeram com a presidenta eleita democraticamente, a presidenta Dilma Rousseff, e eu quero estar vivo para ver esse momento", disse.
Lula acrescentou que não foi apresentada nenhuma prova contra ele durante o depoimento. "Eu esperava que, depois de dois anos de massacre, eu chegasse lá e tivesse um documento dizendo 'o Lula comprou o apartamento', 'o Lula pagou tanto pelo apartamento', 'o apartamento é dele', 'o Lula já dormiu no apartamento'. Nada, nada. Eu quero ser julgado por provas", declarou.
O tom de campanha do discurso era claro e foi confirmado já nas últimas palavras do ex-presidente, quando ele reiterou sua vontade de retornar ao Palácio do Planalto. "Eu estou vivo e me preparando para voltar a ser candidato a presidente deste país, eu nunca tive tanta vontade como eu tive agora", afirmou.
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