Quatro pessoas ligadas a Luiz Inácio Lula da Silva confirmaram à BBC Brasil na manhã deste sábado que a negociação foi encerrada e que o ex-presidente irá se entregar ainda hoje à Polícia Federal. Os interlocutores, no entanto, não deram detalhes de como será feita a operação de saída de Lula do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde passou as duas últimas noites.
O juiz federal Sergio Moro havia definido sexta-feira como o dia em que Lula deveria se apresentar à PF e, assim, começar a cumprir a pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas uma estratégia do petista acabou por alterar o roteiro traçado pelo magistrado, estendendo para o final de semana o imbróglio sobre a situação.
Após um dia marcado pela reunião de uma multidão em volta do Sindicato dos Metalúrgicos, a Polícia Federal anunciou que não cumpriria o mandado de prisão contra o ex-presidente na sexta, enquanto fontes ligadas ao petista sugeriam que ele poderia se entregar às autoridades nos próximos dias.
Nomes do PT e de partidos aliados e líderes de movimentos sociais passaram a sexta-feira entretendo milhares de militantes em frente ao prédio.
Lula, porém, não apareceu fora do local até a manhã deste sábado, quando ocupou o palanque da missa celebrada por Dom Angélico Bernardino no próprio sindicato, em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia. Morta no ano passado, Marisa completaria 68 anos no sábado.
Ao mesmo tempo, o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin negou, na manhã deste sábado, pedido de liminar feito na véspera pela defesa de Lula, pela suspensão da prisão.
Na sexta-feira, o Supremo Tribunal de Justiça havia negado também um habeas corpus da defesa, que questionava a decretação da prisão antes que os advogados pudessem apresentar seus últimos recursos - os chamados "embargos dos embargos" no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
Negociações
Se o tom público dos aliados de Lula podia soar virulento, por outro lado, ao longo da tarde de sexta-feira, um grupo de emissários do ex-presidente sentava-se à mesa com representantes da Polícia Federal para negociar a possível prisão.
As conversas eram lideradas pelo ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e pelo advogado Sigmaringa Seixas. Sigmaringa é amigo pessoal, antigo articulador petista junto ao Judiciário e homem de confiança de Lula.
Já Cardozo liderou a Polícia Federal ao longo dos quase seis anos em que esteve à frente da pasta da Justiça, na gestão Dilma Rousseff. Nesse período, ele conquistou a confiança da corporação por não intervir nos procedimentos investigativos, especialmente naquelas da Operação Lava Jato. Seu comportamento de pouca interferência em relação à corporação chegou a provocar críticas do próprio Lula. Mas foi justamente o estilo que o converteu em um negociador privilegiado do destino de Lula.
Por meio de ambos, o ex-presidente pleiteava ser preso em São Paulo, não em Curitiba, onde uma sala de 15 metros quadrados na sede da PF o esperava há dias. Também fazia questão de estar presente, ao lado dos filhos, à missa em homenagem à Marisa Letícia neste sábado.
Outra exigência de Lula era não passar por práticas vexatórias, como ser algemado (possibilidade que o próprio Moro já havia excluído em sua ordem de prisão), ser colocado em camburão e ter seu cabelo raspado.
Na prática e distante dos olhos da militância, Lula admitia se submeter à ordem judicial e ir para a cadeia em breve. No entanto, deixava claro que sua força política e popular o credenciavam a se entregar em seus próprios termos, e não naqueles estabelecidos pelo juiz Sergio Moro.
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