Movimentos críticos a Lula desistem de ir a Curitiba e trocam protesto por vigílias de 'boas energias'

8 mai 2017 - 18h12
(atualizado às 18h29)
Outdoor contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalado na cidade de Curitiba
Outdoor contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalado na cidade de Curitiba
Foto: Rodrigo Félix Leal / Futura Press

O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba, como réu da Operação Lava Jato, criou a expectativa de um grande confronto entre direita e esquerda na cidade.

Ambos os lados anunciaram a mobilização de milhares de pessoas para acompanhar o depoimento nas imediações da Justiça Federal na capital paranaense, o que levou a Polícia Militar do Estado a elaborar um plano especial de segurança para separá-los.

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No entanto, a dois dias do interrogatório, os principais movimentos de oposição ao petista dizem que não irão a Curitiba.

Grupos como MBL, Vem pra Rua, Revoltados Online e Nas Ruas confirmaram a ausência. Os primeiros anunciaram a desistência no fim do mês passado, para "seguir orientações do Exército e da polícia", e o Nas Ruas uniu-se a eles na semana passada.

O último a anunciar a desistência, na noite de domingo, foi o Revoltados Online, em vídeo publicado no YouTube. O fundador do movimento Marcello Reis disse que os membros estavam há dias em dúvida se viajavam para apoiar a Lava Jato e pedir a prisão do ex-presidente.

Segundo ele, o grupo temia que um eventual confronto com apoiadores de Lula - o que ele já considerava "fato" - prejudicasse o depoimento e a imagem da operação.

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Apelo de Moro

A decisão final veio com um vídeo do juiz Sérgio Moro publicado no domingo na página "Eu MORO com Ele", administrada pela mulher do magistrado, Rosangela.

Na gravação, Moro pede que simpatizantes da Lava Jato fiquem em casa. "Tudo o que se quer evitar é alguma espécie de confusão e conflito", afirmou.

Reis informou seus seguidores sobre a decisão logo depois da divulgação do vídeo.

"(Os manifestantes de esquerda) querem tirar o foco do depoimento do ex-presidente, fazer baderna e não queremos ser boi de piranha."

Outro motivo citado por Reis é a decisão da Justiça do Paraná de impedir acampamentos na cidade.

No sábado, em decisão liminar a pedido da Prefeitura de Curitiba, a juíza Diele Zydek, da 5ª Vara da Fazenda Pública, determinou a proibição de acampamentos entre 23h desta segunda-feira e 23h de quarta-feira.

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Argumentos semelhantes são usados por Nas Ruas, MBL e Vem pra Rua para justificar sua ausência.

"Não há motivo para ir. Vamos nos expor à violência que é comum entre os seguidores do Lula", disse à BBC Rogerio Chequer, fundador do Vem pra Rua.

Na noite de domingo, a porta-voz do Nas Ruas, Carla Zambelli, assumiu o mesmo tom ao explicar a mudança de planos durante uma transmissão no Facebook.

"Venho falando para não irmos a Curitiba há alguns dias e muita gente ficou me criticando. E aí, graças a Deus, o Moro soltou esse vídeo, que a gente não deve só ouvir como acatar", disse.

"Temos que tomar um cuidado tremendo agora para o juiz Sérgio Moro não se passar por irresponsável. O PT vai tentar responsabilizá-lo por qualquer briga que tenha lá."

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Vigílias

Se antes os planos eram tomar as ruas curitibanas, a estratégia agora é fazer vigílias em várias cidades brasileiras para "mandar boas energias" a Moro, nas palavras de Zambelli. O MBL está divulgando em suas redes um e-mail para quem quiser participar.

Outras formas de manifestação incentivadas são vestir verde e amarelo, pendurar bandeiras do Brasil nas janelas e protestar em frente às sedes da Polícia Federal de cada Estado.

Antes do cancelamento da viagem, diz Marcello Reis, 5 mil pessoas iriam à Curitiba por movimentos ligados ao Revoltados Online. Mil deles motociclistas, que sairiam de várias partes do país. O Nas Ruas anunciava um mar de pixulecos na cidade. Cogitava-se até o uso de trios elétricos.

Com a desistência, Reis diz que alguns militantes precisaram dar meia volta na estrada, porque já estavam a caminho. "Mas o pessoal é compreensivo."

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Apoio

Maior força de apoio ao ex-presidente Lula, a Frente Brasil Popular não cancelou sua participação na quarta-feira. Formada por vários movimentos sociais, como CUT (Central Única dos Trabalhadores) e MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), a frente informou que espera levar 50 mil pessoas a Curitiba.

No entanto, representantes da organização dizem que estão revendo o planejamento diante da decisão da Justiça do Paraná de proibir acampamentos na cidade.

A frente rebate as afirmações de movimentos críticos ao ex-presidente. Membros consultados pela BBC Brasil dizem que o objetivo da chamada "Jornada de Lutas de Curitiba" é mostrar apoio a Lula e defender a democracia de forma pacífica.

Coordenadores da organização estão se reunindo na tarde desta segunda-feira para decidir onde os manifestantes ficarão. Uma caravana do Piauí já teria chegado à cidade, mas a reportagem não a localizou.

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Além da presença incerta dos manifestantes, os lugares previamente apontados para concentrá-los também podem mudar, segundo a Polícia Militar.

Os apoiadores de Lula ficariam no calçadão da rua XV de Novembro e os críticos no Centro Cívico, a cerca de 4 km de distância. Na manhã desta segunda, nenhuma das áreas tinha sinais de protesto.

Lula pede adiamento

Todo o planejamento, porém, pode ser em vão, já que a defesa de Lula pediu o adiamento do depoimento marcado para quarta-feira.

Em habeas corpus impetrado no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, os advogados requerem a suspensão de prazos do processo para que possam analisar documentos que a Petrobras apresentou apenas recentemente ao processo.

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