Executivos da empreiteira Odebrecht afirmaram, em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato, em Brasília, que fizeram repasses milionários em dinheiro vivo, por meio de caixa dois, às campanhas de 2010 e 2014 do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
O conteúdo dos depoimentos, que fazem parte do acordo de delação premiada firmado por vários funcionários da empresa, foi revelado nesta sexta-feira (09/12) pelo jornal Folha de S. Paulo.
Segundo o diário paulista, executivos citaram duas pessoas próximas a Alckmin como intermediárias dos repasses e disseram que nunca chegaram a discutir o assunto diretamente com o governador.
Primeiramente foram repassados R$ 2 milhões em espécie ao empresário Adhemar Ribeiro, irmão da primeira-dama, Lu Alckmin. O pagamento foi feito no escritório de Ribeiro, em São Paulo, segundo o jornal. Em 2010, Alckmin foi eleito no primeiro turno, com 50,63% dos votos válidos.
Em 2014, ano em que o tucano foi reeleito com 57% dos votos, o intermediário do caixa dois foi Marcos Monteiro, atual secretário de Planejamento do governo paulista, disseram os executivos. A Folha, no entanto, não teve acesso aos valores que teriam sido repassados nesta negociação.
De acordo com o jornal, dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indicam que não houve doações diretas da Odebrecht à conta da candidatura de Alckmin nos anos de 2010 e 2014.
Em nota enviada à Folha de S. Paulo, a assessoria de imprensa do governador afirma que "é prematura qualquer conclusão com base em informações vazadas de delações não homologadas".
Acordos de delação e leniência
O jornal cita Carlos Armando Paschoal, ex-diretor da Odebrecht em São Paulo e um dos responsáveis por negociar doações eleitorais para políticos, como um dos executivos que denunciaram o caixa dois. Ele é um dos 77 funcionários que assinaram acordos de delação premiada com a Lava Jato.
Os depoimentos tiveram início nesta semana, mas a maioria está prevista para a semana que vem, incluindo a do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht. Ele já foi condenado a 19 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
A empresa também assinou um acordo de leniência com a Lava Jato - uma espécie de delação, mas para empresas, em que garante o direito de continuar sendo contratada pelo poder público.
Além de revelar aos investigadores práticas ilícitas cometidas por diretores e funcionários, a construtora se compromete a pagar uma multa de US$ 2,5 bilhões de dólares (cerca de R$ 6,8 bilhões). O valor será dividido entre Brasil, que deve ficar com maior parte, Estados Unidos e Suíça.