Por que Harvard e MIT levarão Dilma, Moro e Suplicy aos EUA?

5 abr 2017 - 07h18
(atualizado às 07h59)
Dilma e Moro 'não foram convidados para fazer discursos', mas para responder perguntas, diz organizador de conferência
Dilma e Moro 'não foram convidados para fazer discursos', mas para responder perguntas, diz organizador de conferência
Foto: Reuters

O que têm em comum o juiz federal Sergio Moro, a ex-presidente Dilma Rousseff, o ator Wagner Moura, o bilionário Jorge Paulo Lemann, o filósofo Olavo de Carvalho, o vereador Eduardo Suplicy, a líder da Rede, Marina Silva, e os ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso?

Fora o fato de que todos deverão participar, no próximo final de semana, da principal conferência sobre o Brasil nos Estados Unidos, bem pouco.

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E é justamente por isso que eles estarão por lá.

"No Brasil, a direita e a esquerda simplesmente não conversam", disse à BBC Brasil o pesquisador David Pares, um dos presidentes da Brazil Conference, realizada pela Universidade de Harvard e pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

"As pessoas só compartilham o que já acreditam. Entendemos isso como falta de diálogo entre ideais diferentes e esse é o maior problema da polarização. A ideia da conferência é ajudar as pessoas a desmistificarem o polo oposto", afirmou.

Pares se refere à noção de "pós-verdade", termo que virou febre nos Estados Unidos no ano passado, sobretudo durante a eleição que elegeu Donald Trump.

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Pares explica: "Não acontece só no Brasil. Aqui houve uma surpresa enorme com a eleição de Trump. Os progressistas simplesmente não entendiam por que ele ganhou. Na pós-verdade, as pessoas ignoram coisas que são contraditórias ao pensamento delas e só procuram aquilo que alimenta suas convicções."

Uma das falas de abertura da conferência será do diplomata Dan Shapiro, embaixador dos Estados Unidos em Israel no governo Barack Obama e professor em Harvard. O tema é oportuno: "Como criar pontes entre pessoas com diferentes perspectivas?".

Dilma+Moro

Mais de cem palestrantes e moderadores deverão circular pelos corredores de Harvard e do MIT nesta sexta-feira e no sábado.

A conferência é organizada por estudantes das duas universidades e tem patrocinadores poderosos, como a Fundação Lemann e o banco BTG Pactual.

Mesas da edição do ano passado da conferência chegaram a reunir 300 pessoas
Foto: Divulgação Alessandro Molon / BBC News Brasil

Dilma e Moro se apresentarão separadamente. "Mas eles não foram convidados para fazer discursos. Serão entrevistados ao vivo e em público", afirmou Pares.

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Ainda não é possível prever, entretanto, o tom das entrevistas.

A ex-presidente será entrevistada por Frances Hagopian, professora de estudos sobre Brasil do departamento de Governo de Harvard. A docente já disse que o impeachment "não foi golpe porque obedeceu preceitos constitucionais", mas que "remover presidentes só porque são impopulares não abre um bom precedente".

Moro conversará com outro juiz federal, o também brasileiro Erick Navarro. Em março do ano passado, quando Moro foi criticado por divulgar gravações telefônicas entre Dilma e o ex-presidente Lula, Navarro foi um dos 280 magistrados a assinarem uma carta de apoio ao juiz.

"Construímos a estrutura da conferência para realmente não ter atritos. Não queremos que as pessoas 'se batam' durante as conversas. Isso não irá agregar nada", justificou o presidente da conferência. "A ideia é pensar em como transformar o país na prática, não importa se você é de direita ou esquerda."

Olavo, Suplicy, Dellagnol e Haddad

Uma das mesas mais aguardadas debaterá o tema "Violência urbana: causas e possíveis soluções".

A sessão reunirá José Mariano Beltrame, ex-secretário de segurança do Rio e criador do programa das UPPs (Unidades de Policia Pacificadora), o ator Wagner Moura (o capitão Nascimento, dos filmes Tropa de Elite), a advogada Luciana Boiteux (vice na chapa de Marcelo Freixo à Prefeitura do Rio em 2016) e o ativista do movimento negro paulistano Douglas Belchior.

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Vereador petista Eduardo Suplicy (à esq.) dividirá mesa sobre programas sociais com filósofo Olavo de Carvalho
Foto: Arquivo pessoal/Joao Fellet / BBC News Brasil

Mas apesar da preocupação dos organizadores em evitar atritos, haverá eventos com convidados tidos como "água e óleo" pela pouca afinidade ideológica ou intelectual.

O filósofo Olavo de Carvalho se encontrará, por exemplo, com o vereador por São Paulo Eduardo Suplicy (PT) em uma discussão sobre programas sociais no Brasil.

Também em lados opostos na política, o ex-prefeito de SP Fernando Haddad dividirá com ACM Neto (DEM), prefeito de Salvador, uma mesa sobre inovação no setor publico.

O ministro do STF Gilmar Mendes, também responsável pelo julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral, deverá integrar duas mesas.

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Primeiro, ao lado de José Eduardo Cardozo, ex-advogado geral da União e defensor de Dilma no processo de impeachment, discutirá reformas no financiamento de campanhas. Depois, debaterá o sistema prisional brasileiro com Rafael Custódio, da ONG de direitos humanos Conectas, e a professora de Harvard Isabela Ferrari.

Marina Silva, da Rede, também fala em dois momentos sobre sustentabilidade e desenvolvimento a longo prazo no Brasil.

A lista de convidados inclui ainda Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, Deltan Dellagnol, procurador da operação Lava Jato, e Alessandro Molon, deputado federal pela Rede. Incluirá ainda personalidades como o apresentador Luciano Huck, em rodada sobre tecnologia e inovação, o jogador Kaká, que falará sobre jogadores de futebol brasileiros nos Estados Unidos, e os músicos Gilberto Gil e Yamandu Costa.

As palestras e mesas redondas serão transmitidas ao vivo na página da Brazil Conference no Facebook (https://www.facebook.com/brazilconference/). Os ingressos para o evento presencial estão esgotados.

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