A condenação de Lula pelo juiz federal Sergio Moro não deve diminuir a vantagem que o ex-presidente, hoje líder nas pesquisas de intenção de voto, tem na corrida eleitoral de 2018, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil. Eles acreditam que os eleitores do petista são indiferentes a notícias negativas sobre ele - e citam a corrida de 2008, quando Lula se reelegeu mesmo após as denúncias do Mensalão.
Caso os desembargadores do Tribunal Federal da 4ª Região (TRF-4), que julgarão o recurso do ex-presidente, o condenem em segunda instância nos próximos meses, entretanto, Lula se tornaria inelegível e abriria espaço para candidatos menos ligados à política tradicional - como Marina Silva (Rede-AC), Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e João Doria (PSDB-SP). Em qualquer situação, dizem os analistas, o PT adotará um discurso emocional na campanha, de vitimização do ex-presidente.
"O impacto da notícia [da condenação] sobre a imagem de Lula não é forte. Ele já passou por episódios como o do mensalão e ainda assim conseguiu se eleger", diz o diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino.
Para ele, mesmo que Lula fique fora da disputa do próximo ano, seu "poder de influência" continuaria forte e sua imagem seria explorada pelo partido para alavancar o candidato substituto. A força desse capital político não é a mesma que elegeu Dilma Rousseff, ele pondera, mais segue expressiva. "Lula não é carta fora do baralho", comenta.
"Quem já decidiu o voto, decidiu a despeito das denúncias. Se ele fosse inocentado, também não haveria mudança", afirma o cientista político e professor do Insper Carlos Melo. A sentença de nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro divulgada na quarta-feira, ele avalia, não mancha a imagem do petista e será combustível para que o PT "dramatize" a condenação durante a campanha, "vitimizando" o ex-presidente.
A reação, ele acrescenta, seria semelhante à de qualquer outro candidato na mesma situação. "É algo parecido com o que Temer vem fazendo em relação à PGR [Procuradoria Geral da República, autora das denúncias contra o atual presidente]".
2018 sem Lula
Em uma disputa ao Planalto sem Lula, diz Paulino, do Datafolha, candidatos menos associados à política tradicional, como Marina Silva (Rede-AC) e Jair Bolsonaro (PSC-RJ), saem na frente. Pesquisas feitas pelo instituto em junho mostram que as intenções de voto na candidata crescem de 15% para 22% nessa situação.
"Quem realmente pode ganhar com a condenação dele são os dois que vêm atacando a figura do Lula, que se posicionaram no campo oposto: Bolsonaro e Doria, supondo que concorram em 2018", acrescenta Danilo Cersosimo, diretor do instituto de pesquisas Ipsos Public Affairs, que faz o levantamento "Barômetro Político".
"Ainda que Bolsonaro e Doria tenham índice de aprovação pequeno em comparação com Lula ou outros, de acordo com nossas pesquisas, aprovação e desaprovação não necessariamente significam votos. Quem consegue converter sua aprovação em probabilidade de votos são Lula e Moro. Mas Moro não deve se candidatar."
Para Cersosimo, a condenação de Lula, mesmo que não signifique prisão imediatamente, pode reforçar o cenário "pulverizado e fragmentado" das eleições do próximo ano.
"Se Lula não concorre, o capital eleitoral dele, em tese, se distribuiria entre outros nomes mais à esquerda como Ciro, Marina, etc. Mas acho que essa pulverização das pessoas que votariam no Lula na verdade ajudará os candidatos que estiverem no polo oposto."
As pesquisas do Datafolha com um 2018 sem Lula candidato também sinalizam maior pulverização, com aumento expressivo da proporção de votos brancos e nulos. "O aumento da indecisão favoreceria candidaturas que flertam com a negação da política", ressalta Paulino.
A sentença de Moro, acrescenta Melo, do Insper, também mexe com o xadrez político à medida em que gera maior apreensão em Brasília. "Uma série de outros agentes passarão a se perguntar se a condenação abriu uma série ou se foi seletiva", destaca. Seja qual for seu desfecho, ele conclui, o episódio de quarta-feira deve aumentar a pressão da sociedade sobre o sistema político e judiciário do país.
Reação
Movimentos sociais e centrais sindicais organizaram na quarta-feira atos em algumas cidades e entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) declararam que fariam reunião para discutir o episódio.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, disse à BBC Brasil que a decisão contra Lula teria motivações políticas. "Os advogados do companheiro Lula estão cuidando disso, ainda tem recursos. E acho que é uma medida que tomaram contra ele porque é um cidadão brasileiro que está em primeiro lugar nas pesquisas. Tem um jogo político por trás."