Os desentendimentos recentes entre parlamentares e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm causado confrontos intensos dentro da equipe palaciana, de acordo com informações da Folha de S.Paulo.
Interlocutores próximos do presidente atribuem a atual ausência de coesão no Congresso à falta de consideração dos ministros em relação aos acordos firmados com deputados e senadores.
Enquanto no círculo governamental, as dificuldades enfrentadas no Legislativo são atribuídas aos ministros que se recusam a abrir espaço para os recém-chegados, especialmente os do partido que compõem o centrão.
As reclamações não se limitam ao não cumprimento de ordens para nomeações e liberação de recursos, mas também incluem a disponibilidade de agendas e até mesmo o patrocínio de festas juninas.
Após ser alertado por membros do círculo próximo do governo, Lula tomou a decisão de que as orientações devem ser cumpridas sob o risco de exoneração. De acordo com aliados do presidente, se o problema persistir, ele pretende advertir sua equipe durante a próxima reunião ministerial.
Outras demandas
A demora na liberação de emendas impositivas e das verbas extras, que são parte do Orçamento dos ministérios, mas são indicadas por deputados, também é motivo de reclamação, inclusive por parte de aliados do governo no Congresso. Essa questão afeta todas as pastas.
Padilha
O ministro Alexandre Padilha, responsável pela Secretaria de Relações Institucionais e encarregado das negociações políticas com o Legislativo, conduziu uma série de reuniões com outros ministros com o objetivo de identificar os obstáculos existentes.
Na semana passada, o ministro realizou uma reunião com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente do Ibama, Agostinho Mendonça, que inicialmente se mostrava relutante em nomear indicações políticas para o órgão.
No entanto, de acordo com membros do governo, a própria Marina exerceu sua influência para persuadir Agostinho a cumprir os acordos estabelecidos.
No Ministério da Educação, até mesmo membros do Partido dos Trabalhadores (PT) têm expressado descontentamento com a resistência do ministro em aceitar indicações de colegas de partido. Diante das cobranças, Camilo Santana assegurou ter recebido total autonomia de Lula para formar sua equipe direta.
O Ministério da Saúde também tem sido fonte de dificuldades, despertando interesse do Partido Progressista (PP). Membros do PT reclamam que a ministra Nísia Trindade definiu as nomeações no ministério sem consultar os outros partidos e até mesmo os colegas de pasta.
Parlamentares afirmam que o PP tem o objetivo de assumir o controle total do ministério da Saúde.
Lula entra em campo
Após o risco iminente de derrota da medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios, ampliando o número de ministérios de 23 para 37, o presidente tomou a iniciativa de se envolver pessoalmente na articulação política.
A medida provisória foi aprovada em 31 de maio, após os deputados ameaçarem derrotá-la devido à insatisfação generalizada com a articulação política do governo.