BRASÍLIA _ O deputado Lindbergh Farias (RJ), integrante da ala do PT que critica em público a meta de zerar o rombo das contas públicas ano que vem, foi às redes sociais neste domingo, 10, para rebater declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre contas públicas e crescimento da economia. O chefe da equipe econômica discordou neste sábado, 9, da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e disse não ser verdade que o déficit fiscal gera crescimento econômico.
Na rede social X (antigo Twitter), o deputado chamou a fala de Haddad de "sofisma". "De fato, déficits aparecem com mais frequência em momentos de desaceleração econômica. Agora, é inquestionável que estímulos fiscais em situações de baixo crescimento, como devemos enfrentar em 2024, têm sim um papel enorme no crescimento do PIB", escreveu Lindbergh.
Reforçando o discurso da ala do governo que teme que o déficit zero pretendido pela Fazenda leve a bloqueios de emendas e investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento em 2024, quando ocorrem as eleições municipais, o parlamentar, que é companheiro de Gleisi, afirmou que a meta de Haddad pode levar a um contingenciamento de R$ 53 bilhões em obras do PAC.
Neste sábado,9, durante a Conferência Eleitoral do PT, o tema da meta de déficit zero traçada para o próximo ano rendeu discussões dentro do partido. Haddad e a presidente do PT discordaram sobre a relação entre o resultado primário e o crescimento da economia. Enquanto o ministro disse não haver correspondência entre déficit e avanço do PIB, Gleisi criticou a meta zero e defendeu sua flexibilização.
Haddad explicou a uma plateia de filiados ao partido que essa relação não é automática e citou como exemplo as gestões anteriores de Lula, em que houve superávit primário de 2% e a economia cresceu, em média, 4%. Ele lembrou que Gleisi havia falado, mais cedo, que o déficit de 2023 se aproximava de 2%.
"Não é verdade que déficit faz crescer. De dez anos para cá, a gente fez R$ 1,7 trilhão de déficit e a economia não cresceu. Não existe essa correspondência, não é assim que funciona a economia. Depende, dependendo da situação econômica você tem que ampliar os investimentos", disse, ao citar a expansão de gastos de 2009, na esteira da crise econômica global de 2008.
No mesmo evento, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que deve haver déficit orçamentário ano que vem se for preciso. O deputado avaliou que a busca pela meta de zerar o rombo das contas públicas pode fazer com que a sigla perca as eleições municipais. Ele defendeu ainda que é necessário "mobilizar bem" a militância para que a legenda saia vitoriosa na disputa pelas prefeituras em 2024.
Junto de Gleisi, Lindbergh Farias é um dos integrantes do PT que não esconde a insatisfação com a meta traçada por Haddad, alvo que ganhou sobrevida após o governo desistir apoiar uma mudança do objetivo fiscal dentro do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024. O deputado chegou a propor duas emendas para alterar a meta, sugerindo déficit de 0,75% ou 1%, mas a estratégia não foi endossada pelo Planalto que, por ora, deu vitória a Haddad no debate.
A disputa no governo em torno da meta fiscal havia esquentado no final de outubro, quando Lula disse que "dificilmente" o governo conseguiria zerar o rombo das contas públicas em 2024. Diante dessa declaração, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, aumentou a pressão para uma mudança na meta para um déficit de 0,50% no ano que vem. Haddad, contudo, ganhou tempo para tentar aprovar medidas no Congresso que aumentem a arrecadação federal.