O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta segunda-feira, 12, que seu "combustível pessoal está terminando com uma base que não se sente base". Lira, no entanto, disse que não fará nenhum tipo de votação que inquiete o País, mas mandou um recado ao Planalto. "O governo tem de se preparar para conviver com quem pensa diferente e dialogar com quem pensa diferente", declarou.
Em entrevista ao Jornal das Dez, da GloboNews, ele afirmou que o desenho da Esplanada dos Ministérios, feito ainda na transição, não teve o rendimento esperado pelo governo. "No governo atual, o presidente Lula optou por fazer na transição um desenho da sua Esplanada dos ministérios", disse.
Diante de falhas na articulação política, o governo Lula teve muita dificuldade nas negociações para aprovar na Câmara a Medida Provisória de reestruturação da Esplanada.
"Não há uma linha, um senão, que a Câmara tenha imposto ao governo em matérias essenciais ao Estado", afirmou. Lira ressaltou que a Casa não foi obstáculo para nenhuma votação do Poder Executivo e deu como exemplos as aprovações do arcabouço fiscal e da MP dos Ministérios.
"Eu tenho que olhar para todos os partidos na Câmara. Não estou formando base para mim, não há interesse velado meu a não ser fazer um bom papel para o País", disse.
Lira comparou a relação do governo com MDB, PSD e União Brasil com a do Centrão e rechaçou críticas de que o grupo político faz "toma lá dá cá". "Quando o MDB, PSD e União Brasil ocupam ministérios não é toma lá, da cá e nem troca, mas para continuar no mesmo sistema que o próprio governo criou ou escolheu, passa a fazer moeda de troca (com o Centrão)", disse.
O presidente da Câmara negou ainda que o Centrão queira a vaga da ministra da Saúde, Nísia Trindade. "Gosto da ministra Nísia, sempre tiver o maior carinho", declarou. "Não disputamos nenhum ministério", disse. Lira também afirmou que a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e o marido dela, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Wagner Carneiro, mais conhecido como Waguinho, são seus "dois amigos de primeira hora".
Como mostrou o Estadão, no entanto, o Centrão quer comandar Ministério da Saúde e cobrou espaço para grupo de Lira no governo. De acordo com o Estadão/Broadcast, o PP, partido de Lira, mudou de estratégia para conseguir o comando do Ministério da Saúde. Segundo apurou a reportagem, o partido fez chegar ao governo que poderia apadrinhar um nome "técnico" para a pasta. O ministério foi por muitos anos feudo do PP de Lira, sigla que hoje faz oposição a Lula.
Durante a entrevista, Lira afirmou que perguntou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se haveria a possibilidade de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ir para a Casa Civil no lugar do ministro Rui Costa, e o secretário-executivo da pasta, Gabriel Galípolo, ser o ministro da Fazenda. Lira admitiu que teve a conversa com Lula há uma semana, mas que o presidente rejeitou a ideia. "A partir daí, conversa sobre ministério cessou", contou Lira.
De acordo com o presidente da Câmara, Haddad continuará no comando da Fazenda e Galípolo, será diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), conforme indicação do governo ao Poder Legislativo.
Ainda assim, Lira defendeu Haddad como articulador político. "Haddad conversa, negocia e é franco nas conversas; isso é articulação", afirmou.
Conforme reportagem do Estadão/Broadcast, Lira sonha em ter Haddad, com o qual tem bom relacionamento, à frente da Casa Civil e Galípolo seria um nome para comandar a Fazenda.