Lira quer análise maior de urgências e amplo debate sobre projeto do aborto antes de votação

Presidente da Câmara fez reunião com líderes de partidos e sugeriu mais tempo para discussão sobre projetos em regime de urgência

18 jun 2024 - 13h21
(atualizado às 16h37)

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), propôs às lideranças partidárias da Casa que a análise de urgências para a tramitação de projetos seja feita de forma mais criteriosa. A ideia é que os requerimentos apresentados na reunião do Colégio de Líderes só sejam apreciados no plenário na semana seguinte.

Dessa forma, haveria pelo menos sete dias para que os textos fossem debatidos. A sugestão ocorre após a urgência do projeto de lei que endurece a legislação do aborto no País ser aprovada de forma relâmpago e gerar repercussões que desagradaram ao presidente da Câmara.

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O presidente da Câmara, Arthur Lira, sugeriu mudanças sobre aprovação de requerimento de urgência de projetos de lei
O presidente da Câmara, Arthur Lira, sugeriu mudanças sobre aprovação de requerimento de urgência de projetos de lei
Foto: WILTON JUNIOR/Estadão / Estadão

De acordo com líderes da base governista, Lira quer uma avaliação melhor do conteúdo dos projetos antes de as urgências serem pautadas. Quando um requerimento de urgência é aprovado, o texto pula a etapa de análise em comissões e pode ter o mérito votado diretamente no plenário.

No caso do projeto do aborto, o presidente da Câmara sinalizou que haverá um "amplo debate" antes de o texto ser votado. A discussão sobre o aborto deve esfriar na Câmara, já que a "prioridade total" de Lira são os projetos de regulamentação da reforma tributária, que devem ser votados em julho.

Líderes da base do governo afirmam que Lira encontrará "uma saída para um debate mais para frente" sobre o aborto. E também dizem que a proposta analisada não necessariamente será a que é de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Lideranças da bancada evangélica que também se reuniram com Lira ressaltam que o debate do aborto "ganhou contornos nacionais" e que a relatora deve ser alguém de centro.

O projeto, de autoria de Sóstenes, equipara o aborto após 22 semanas de gestação ao crime de homícidio, mesmo em caso de gestação resultante de estupro. Com essa tipificação, a interrupção da gravidez poderia gerar penas de seis a 20 anos de prisão para a mulher que abortar e para quem auxiliar no procedimento.

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Lideranças religiosas do Congresso consideram que a redução da pena para a mulher que fizer o aborto após 22 semanas é um ponto passível de debate. Mas não veem com bons olhos a possibilidade de a relatora ser a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Mesmo sendo evangélica, o que em tese agradaria à bancada, a parlamentar é de esquerda.

Lira não gostou da amplitude que o tema do aborto ganhou nos últimos dias. No sábado, 15, milhares de pessoas protestaram na Avenida Paulista, em São Paulo, contra o avanço da proposta, cuja urgência foi aprovada em votação relâmpago na semana passada. O presidente da Câmara foi um dos principais alvos da manifestação, que teve cartazes com frases como "Lira, inimigo das mulheres" e "Fora, Lira".

Nos bastidores, o deputado alagoano afirma que há uma lista enorme de projetos com requerimentos para tramitação em regime de urgência aprovados, mas sem que o mérito tenha ido para votação. É o que deve acontecer com a proposta que trata de aborto.

Interlocutores de Lira dizem que não é do interesse dele aprovar o projeto. A ideia do presidente da Câmara, segundo esses aliados, era somente fazer um aceno à bancada evangélica com o avanço do texto, de olho no apoio dos religiosos para o candidato que ele escolher para sua sucessão na Casa, na eleição que ocorrerá em fevereiro de 2025.

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Na última quinta-feira, 13, antes dos protestos do fim de semana, Lira havia dito que o projeto seria relatado por uma deputada "mulher, de centro e moderada". Também afirmou, após participar de um evento em Curitiba (PR), que o tema "merece ter um debate mais aguçado".

Depois de se abster na votação do requerimento de urgência, o governo decidiu se posicionar contrário ao projeto. No sábado, 15, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, apesar de ser contra o aborto, considera uma "insanidade" querer punir a mulher vítima de estupro com pena maior que a do estuprador.

As ministras do governo também foram às redes sociais criticar a proposta. "Ser contra o aborto não pode significar defender o PL do estupro", escreveu Simone Tebet (Planejamento e Orçamento).

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta segunda-feira, 17, que não vê "ambiente" no Congresso para que o projeto do aborto avance mais. A declaração foi dada no Palácio do Planalto, após a reunião semanal de articulação política com Lula.

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Na semana passada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), declarou que o aborto é "naturalmente diferente" de homicídio e que a proposta jamais iria diretamente ao plenário da Casa, sem passar por comissões, como ocorreu na Câmara com a aprovação da urgência.

Como mostrou a Coluna do Estadão, o Centrão e a base de Lula na Câmara já tentavam desde a semana passada empurrar a votação do projeto para depois das eleições municipais.

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