A pré-candidata do Psol à Presidência da República, Luciana Genro, criticou nesta quarta-feira, em sabatina realizada na UlbraTV, a forma como o governo federal trouxe a Copa do Mundo 2014 ao País. De acordo com Luciana, “o governo tentou usar o amor que o povo tem pelo futebol para fazer negócios”.
“A Copa foi um grande negócio, principalmente para as empreiteiras. Aliás, não é casual que as grandes empreiteiras que fizeram as obras superfaturadas para a Copa são as mesmas que dão dinheiro para o PT, PSB, PSDB, porque há aí uma relação espúria entre o poder público e as empreiteiras. Os únicos que ganharam foram eles e os especuladores imobiliários, que se aproveitaram da Copa para aumentar aluguéis, para valorizar seus terrenos e prejudicar as pessoas pobres que moram no entorno dessas regiões”, disse ela a jornalistas do Terra, do site Sul21 e da UlbraTV.
Para a pré-candidata do Psol, as vaias recebidas pela presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo estão dentro deste contexto. “Acho que xingamentos de baixo calão são sempre prejudiciais ao debate político, mas fazem parte da democracia, todo mundo está sujeito a levar uma vaia, e ninguém pode fazer disso um grande drama. Acho que o que aconteceu no estádio (Arena Corinthians) poderia ter acontecido em qualquer lugar que a Dilma foi. Inclusive, o governo deveria refletir se, o que tinha no estádio era só gente rica, por que que ele gastou mais de R$ 30 bilhões para construir e reformar esses estádios? Só para abrigar gente rica?”, questionou.
“Acho muito natural que as pessoas estejam indignas com esse excesso de gasto para a Copa, e que ao mesmo tempo torçam para o Brasil. Todos somos brasileiros e torcemos pelo Brasil. Agora, isso não significa ser conivente com gastos abusivos, superfaturamentos de obras e com empreiteiras que lucram milhões enquanto que sequer o pobre consegue entrar no estádio para assistir ao jogo.”
Segundo Luciana, o Psol quer se apresentar como um veículo para as pautas levadas às ruas nas manifestações de junho de 2013. “Como dar voz a essas indignações? Resgatando essas bandeiras de junho que os governos não atenderam. Apesar de terem anunciado muitas medidas, quase nenhuma delas foi atendida. Vamos focalizar isso na campanha, buscando canalizar através da candidatura do Psol essa indignação”, explicou.
A pré-candidata também falou sobre a violência e as depredações promovidas por grupos de manifestantes durante os protestos, principalmente direcionadas a agências bancárias. “O tratamento que os bancos recebem por parte dos governos é leniente, então é legítima essa manifestação contra os bancos, mas é ineficaz. Acho muito mais eficaz uma organização da indignação. É isso que o Psol tenta pautar”, disse ela, afirmando que “tributaria muito” os lucros dos bancos se fosse presidente.
Luciana disse ainda que, assim como o candidato do Psol à Presidência em 2010, Plínio Arruda, quer ser convidada para os debates entre candidatos na televisão. "Não espero ser convidada, tenho o direito de ser convidada. O Psol é um partido que tem representação no Congresso, portanto as emissoras são obrigadas a nos convidar. Nós queremos estar nos debates, queremos estar frente a frente com Dilma, Aécio e Campos para botar o dedo nas feridas e dizer as verdades que eles não vão dizer.”
Mensalão
Para Luciana Genro, “o maior destaque” do seu currículo político foi ter sido expulsa do PT, em 2003, pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do partido José Genoino e o ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares, todos condenados no julgamento do mensalão. "Se eu não tivesse sido expulsa do PT, teria saído logo depois. Nossa expulsão do PT coroou a rendição do PT à lógica do poder", afirma.
Segundo a pré-candidata, as condenações dos petistas no processo do mensalão são “a exceção que confirma a regra”. “O Supremo Tribunal Federal foi duro com os petistas e extremamente leniente com o mensalão do PSDB, que simplesmente resolveu não julgar, mandou de volta para o Estado.”
“Eu quero que todos os crimes de corrupção sejam tratados com a dureza com que foram tratados os condenados no mensalão. Nós demos um passo a frente no sentido de termos condenados políticos, criminosos do colarinho branco, mas estamos muito longe de garantir que os crimes de corrupção tenham um tratamento realmente duro como deveriam ter”, afirma.
Segundo Luciana, o presidente do STF e relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, “teve atitudes corretas e equivocadas”. “Ele não é nem deus nem o diabo. O que ele fez com a advogado do Genoino, expulsando do tribunal, foi um absurdo. Ele tem uma personalidade autoritária, isso é inegável, mas ele cumpriu um papel importante, garantindo que o julgamento fosse até o final, que as condenações acontecessem”.
Para a pré-candidata do Psol, o atual modelo de guerra às drogas adotado em todo o País está fracassando. “A legalização da maconha me parece ser imperativa. Acho que o (José) Mujica (presidente do Uruguai) nos dá um grande exemplo no Uruguai (país que legalizou o consumo da droga). Primeiro que a maconha é uma droga que causa tão ou menos mal que o álcool. Evidentemente que ela traz prejuízos a saúde, assim como álcool, cigarros e vários remédios que são legalizados. Mas como evitar esses prejuízos? Justamente regulamentando”, explicou.
“A guerra às drogras fracassou porque o consumo diminui e porque só gerou mais violência e corrupção. O consumo segue enorme e a violência e a corrupção aumentaram estrondosamente. A guerra às drogas se transformou, na prática, em uma guerra aos pobres”, afirmou.