BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a articuladores políticos do governo que acelerem as negociações para impedir a perda de votos no Congresso com o racha do União Brasil. Nos bastidores, ministros do PT admitem que foi um erro ter depositado todas as fichas apenas em indicações feitas pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e por Luciano Bivar (PE), presidente do partido.
Na tentativa de contornar uma dissidência na base aliada antes mesmo do início do ano legislativo, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, se reuniu nesta terça-feira, 17, com o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Vetado pelo PT da Bahia para comandar o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, o deputado é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e tem influência sobre a bancada. Agora, governo depende dele, em grande parte, para não perder apoio.
Com três ministérios no novo governo, o União Brasil pretende anunciar independência em relação ao Palácio do Planalto no fim deste mês, com a divulgação de um manifesto para deixar evidente o descontentamento. A bancada da Câmara se queixa de não ter sido consultada antes das nomeações para o primeiro escalão e afirma que em nenhum momento se comprometeu a votar com propostas encaminhadas por Lula. O partido tem 59 deputados e 10 senadores.
"Nenhum filiado é proibido de participar do governo, mas a posição da bancada é de independência", disse Elmar. Se não tivesse sido barrado pelo PT, o deputado - que foi relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição - comandaria hoje o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional.
Uma operação de última hora liderada por Alcolumbre, porém, levou para a Integração o ex-governador do Amapá Waldez Góes. Filiado ao PDT, Góes entrou na cota do União com o compromisso de se afastar do antigo partido e ajudar a "pacificar" a sigla de Alcolumbre e Bivar.
Em 2019, o então governador foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) a seis anos e nove meses de prisão, em regime semiaberto, acusado de desviar recursos de empréstimos consignados de servidores estaduais. A ação foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e está paralisada na Corte.
Para acalmar a "revolta" no União, que também não se sentiu contemplado com as indicações de Daniela do Waguinho (RJ) no Ministério do Turismo e de Juscelino Filho (MA) em Comunicações, o Planalto apresentou uma oferta a Elmar. Quer que ele mantenha o controle da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que ficou conhecida como "estatal do Centrão".
A autarquia foi uma das principais destinatárias dos recursos do orçamento secreto e alvo de investigações, após denúncias de corrupção. Em conversas reservadas, no entanto, o grupo de Elmar afirma que, com o fim do orçamento secreto, a Codevasf ficou "esvaziada".
No diagnóstico da cúpula do PT, uma ala do União Brasil está criando dificuldades com o objetivo de mudar os ministros. Além de não querer ser vista como base aliada de Lula, essa corrente também ameaça formar um bloco com o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, e isolar o PT na disputa por cargos na Mesa da Câmara e em comissões. A eleição que vai escolher os presidentes da Câmara e do Senado está marcada para 1.º de fevereiro.
A esse imbróglio se soma a briga interna nas fileiras do União, que também abriga o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, senador eleito. Luciano Bivar, por exemplo, tentou destituir Elmar da liderança da Câmara. Queria emplacar na cadeira o deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), mas não obteve sucesso na empreitada. Alcolumbre bateu o pé para encaixar Waldez Góes na Integração. Na avaliação do Planalto, porém, Alcolumbre e Bivar não têm conseguido conter a rebelião no partido.
O União Brasil também reclama que o PT quer ocupar a estrutura de todos os ministérios, como o do Turismo. Acusada de ligações com a milícia no Rio de Janeiro, Daniela do Waguinho fez poucas indicações até agora porque, na versão de seus aliados, os principais postos estão com a Embratur, comandada por Marcelo Freixo.
O escândalo envolvendo a ministra - que, ao entrar para o governo, adotou o nome Daniela Ribeiro - só foi ofuscado por causa dos atos golpistas no último dia 8, em Brasília. Deputada reeleita com mais votos no Rio, ela e o marido - o prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos Carneiro, conhecido como Waguinho - fizeram campanha para Lula no segundo turno. O presidente se sentiu "devedor" do apoio dado pela dupla e fez uma mudança no ministério para chamar Daniela. Não imaginava, porém, que teria tanto problema no caminho.