BRASÍLIA E SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e disse que o gestor estadual fez uma declaração "profunda e desnecessária" sobre o Propag, programa de renegociação de dívidas dos Estados. Na avaliação do presidente, Zema deveria lhe dar um prêmio pelo acordo. Na declaração, ele citou que a palavra "obrigado" é simples, mas para dizê-la, é preciso ter grandeza.
"Esse acordo das dívidas de Minas Gerais, dos Estados como um todo, o governador de Minas Gerais deveria vir aqui me trazer um prêmio. Um troféu do primeiro presidente da República que ele tem conhecimento que nunca vetou absolutamente nada de nenhum governador, de nenhum prefeito por ser contra ou por ser oposição", afirmou o presidente em evento para a assinatura do contrato de concessão da BR-381/MG nesta quarta-feira, 22, no Palácio do Planalto. O governador foi convidado para participar do evento, mas não compareceu.
"Ele [Zema] fez uma crítica profunda e desnecessária", completou. Lula, porém, disse que não vai revelar esses comentários porque "o papel do presidente da República num ato como este não é falar mal de ninguém".
Na esteira dos comentários sobre o acordo de renegociação das dívidas dos Estados, o chefe do Executivo federal disse que empresários também resistem em agradecer ao governo federal pelos investimentos feitos. "A palavra 'obrigado' é tão simples, mas para falar 'obrigado' é preciso ter grandeza. As pessoas têm que ter grandeza, têm que ter caráter, humildade, para agradecer uma coisa que é feita", comentou.
O programa, sancionado por Lula, oferece condições como redução de juros e parcelamento das dívidas estaduais em até 30 anos. Em contrapartida, exige que os Estados destinem recursos a áreas prioritárias como saúde e educação. Governadores da oposição, incluindo Zema, têm criticado a medida, afirmando que os vetos limitam os benefícios esperados.
Segundo Zema, a "mutilação" do texto aprovado impõe custos adicionais ao Estado, enquanto o governo federal "mantém 39 ministérios, promove viagens luxuosas e aplica sigilo de 100 anos no cartão do presidente".
Haddad rebateu Zema por sancionar um aumento de quase 300% no próprio salário, mesmo durante a vigência do Regime de Recuperação Fiscal. Ele também afirmou que a proposta inicial apresentada pelo governador de Minas para renegociar a dívida era inferior ao texto final sancionado por Lula.
Zema contra-atacou, dizendo que Minas Gerais, pelo quarto ano consecutivo, zerou o déficit fiscal e já pagou mais de R$ 8 bilhões à União. "O exemplo tem que partir de cima", afirmou.
Lula chegou a classificar cinco governadores como "ingratos" por criticarem os vetos ao projeto de renegociação das dívidas dos Estados com a União. "Os governadores, que são cinco maiores e que devem mais e que são ingratos porque deveriam estar agradecendo ao governo federal e ao Congresso Nacional, fizeram críticas porque alguns não querem pagar. A partir de agora, vão pagar", disse o presidente, em referência aos governadores Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro; Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Romeu Zema, de Minas Gerais; Ronaldo Caiado (União), de Goiás; e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo.
Os cinco Estados são os mais endividados do País e, em comum, são governados por políticos que fazem oposição a Lula. Somados, eles representam 90% das dívidas dos entes federativos.
Zema rebate Lula e diz que seu foco é trabalhar
Em publicação no X (antigo Twitter) nesta quarta-feira, 22, Zema respondeu diretamente ao presidente. "Lula, o PT prometeu essa mesma obra nos 188 meses de governo, mas não entregou. Por isso, quando for colocar máquina na pista, fiscalizar ou inaugurar trechos da obra na BR-381 eu estarei à disposição. Meu foco é trabalhar, não perder tempo com eventos burocráticos."
O governo federal formalizou nesta quarta a assinatura do contrato de concessão da BR-381/MG. A rodovia será administrada pela Concessionária Nova 381, do grupo 4UM Investimentos, com previsão de investimento de R$ 10 bilhões em 30 anos de concessão, já considerando aportes amortizados no longo prazo (Capex) e despesas operacionais (Opex). Lula afirmou que o objetivo do governo é baratear o preço do pedágio para as pessoas mais pobres, sem deixar de priorizar a qualidade das estradas.
"Não tem sentido a gente dizer que está fazendo investimento e depois, a gente faz outorga, o cara paga uma fortuna para adquirir a estrada e depois, quem vai pagar é o povo, que tem que andar pela estrada", disse o presidente.
"Quando a gente quer fazer parceria com os empresários, a gente quer fazer uma estrada, a gente quer fazer o melhor possível, mas o empresário precisa ganhar, senão ele não faz o investimento. E é preciso que a gente estabeleça essa regra, e essas regras foram estabelecidas com uma coisa extraordinária", completou.