BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, 31, que Jair Bolsonaro usou "todas as instituições" de Estado na tentativa de se reeleger em 2022 e acusou o ex-presidente de grampear telefones celulares através da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Durante live, o petista disse que "agora" se vê "escutas telefônicas" ao citar ações do governo anterior.
A agência foi alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga o rastreamento de celulares sem autorização judicial na gestão de Bolsonaro. Ao contrário do que disse Lula, a Abin, segundo as apurações, monitorava a localização de aparelhos, sem grampear ligações.
De acordo com a PF, a ação teria realizado ilegalmente 33 mil rastreamentos de celulares.
As declarações de Lula foram dadas durante o programa Conversa com o Presidente, uma espécie de live semanal produzida pela EBC.
"Ele (Bolsonaro) utilizou as Forças Armadas, utilizou as polícias estaduais, utilizou a Polícia Rodoviária, ele utilizou a Polícia Federal. Ele utilizou todas as instituições", declarou o petista.
Depois dessa fala de Lula, o apresentador, Marcos Uchôa, disse "a Abin, agora, com esse escândalo". Lula então respondeu: "A que ele não conseguiu utilizar para ele, agora nós estamos vendo escutas telefônicas de gente que não deveria ter escutado e que não tinha decisão judicial", declarou Lula.
Nesta segunda-feira, 30, completou-se um ano da vitória de Lula no segundo turno da eleição presidencial contra Bolsonaro. Na live, o petista defendeu o papel do Judiciário durante no período eleitoral.
"O que é importante em tudo isso é que o Brasil também tem pessoas boas que resistiram a isso. A Justiça Eleitoral, a Suprema Corte, tiveram papel excepcional na garantia do processo democrático", disse o presidente da República sobre as eleições.
O que disse a Abin
Em nota publicada após a PF deflagar a operação, a Abin disse que a corregedoria-geral da agência concluiu, em fevereiro, uma apuração interna - para verificar a regularidade do uso de um programa de geolocalização adquirido pelo órgão. Trata-se do sistema FirstMile.
Dois servidores da agência foram presos durante a operação da PF. Eles são suspeitos de usar o FirstMile para espionar políticos, advogados, jornalistas e ministros do Supremo Tribunal Federal durante a gestão de Bolsonaro.
Na época, a Abin era comandada por Alexandre Ramagem, aliado fiel de Bolsonaro e hoje deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.
Ramagem disse que o FirstMile foi adquirido antes do governo Bolsonaro, ainda na gestão de Michel Temer, e que, ao assumir a agência, determinou uma auditoria interna e encaminhou o contrato do sistema de espionagem para a corregedoria da agência.
"Esse sistema objeto da operação de hoje na Abin foi adquirido em 2018, antes do governo Bolsonaro. Quando assumimos a Abin, em 2019, promovemos auditoria formal de todos os contratos", escreveu o ex-diretor da Abin nas redes sociais.