Lula diz que é preciso campanha para derrotar bancada do orçamento secreto

O orçamento secreto foi adotado por Bolsonaro para garantir apoio no Congresso, sobretudo do Centrão

4 jun 2022 - 16h13
(atualizado às 17h56)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste sábado, 4, que é preciso fazer "uma campanha ferrenha" para "derrotar a bancada do orçamento secreto". O instrumento revelado pelo Estadão aumentou o poder dos congressistas sobre o Orçamento federal e é usado para barganhar apoio ao governo Jair Bolsonaro. Parlamentares petistas, no entanto, também foram contemplados com as chamadas emendas de relator.   

    As declarações do petista foram dadas durante evento com apoiadores e organizações de preservação do ambiente, em São Paulo. Na presença de parlamentares, Lula, que é pré-candidato ao Palácio do Planalto com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) na vice, afirmou que, para instaurar qualquer mudança na área, é preciso renovar o Congresso com a eleição de "deputados que acreditem no que a gente acredita" e "gente civilizada".

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    Lula  durante ato Belo Horizonte (MG)
    Lula durante ato Belo Horizonte (MG)
    Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação

    "Nós precisamos eleger uma maioria de deputados, porque, se a gente não derrotar a bancada do orçamento secreto, qualquer presidente... Eu ainda vou ter sorte que vou ter o Alckmin para brigar com eles lá, para negociar com eles. Ou seja, tem experiência aqui em São Paulo. Mas, sabe, né, é impossível imaginar que a gente vai fazer as mudanças que a gente precisa fazer se a gente não eleger um presidente e, junto desse presidente, senadores de melhor qualidade e deputados de melhor qualidade", disse o petista.

    Geraldo Alckmin, junto a Lula no evento de sábado. O petista diz que o ex-governador é um bom negociador para lidar com o Congresso. Foto: Reprodução YouTube de Lula

    Nas gestões petistas, a relação entre o governo e o Congresso foi marcada por escândalos de corrupção. Durante o governo Lula, houve o mensalão - compra de apoio parlamentar - e, na gestão Dilma Rousseff (PT), vieram à tona os desvios na Petrobras, revelados pela Operação Lava Jato.

    Reportagem do Estadão publicada nesta sexta-feira, 3, mostrou a preocupação do Centrão com a condução do governo em temas econômicos e o impacto na eleição. Haveria mais apoio a Alckmin do que a Lula, diante de um risco de impeachment, caso o petista decida, por exemplo, restabelecer a relação de presidencialismo de coalizão que manteve no passado e enfrentar o orçamento secreto.

    Lula já foi aconselhado por petistas que comandaram a Câmara no passado a alterar a correlação de forças - atualmente, os congressistas detêm mais recursos que alguns ministros. O ex-presidente já classificou como "podridão" o mecanismo que garantiu estabilidade a Bolsonaro e apoio eleitoral aos aliados do governo. "O Congresso Nacional não tem que ter orçamento próprio, do relator. Quem tem que cuidar do orçamento é o Poder Executivo deste País", disse Lula ontem em Porto Alegre em encontro com representantes do setor cultural.

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    No evento em São Paulo, o ex-presidente também citou o discurso de Bolsonaro de sexta-feira, 3, no Paraná, no qual o presidente afirmou que, "se precisar, iremos à guerra". "Estamos brigando com uma parte da sociedade organizada de forma 'miliciânica'", disse Lula. Ele pediu pressão da sociedade para "fazer o que precisa ser feito".

    Destruição no ambiente

    Lula afirmou que o primeiro desafio de seu eventual governo na área ambiental será "recuperar o que a gente já teve". Ele disse que o Brasil costumava ser referência mundial em preservação desde a Conferência de Copenhague, em 2009, mas que isso se perdeu nos últimos anos. "Vamos ter que nos matar para refazer o que já fizemos, em todos os setores, porque não tem pedra sobre pedra", afirmou.

    Sem citar Bolsonaro, Lula acusou "alguns governantes" de agirem com "desprezo e irresponsabilidade" com a questão climática e chegou a mencionar Ricardo Salles, primeiro ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro. "Salles era um desmatador profissional. O Brasil não merece isso."

    O ex-presidente disse que, para retomar a posição de destaque na proteção do ambiente, o Brasil precisa ter um plano de governo feito por diversos partidos e também pelas organizações envolvidas no tema. "Agora, não pode ser uma questão de um governo sai, o outro muda", afirmou. "Nós precisamos transformar isso em uma política de Estado de verdade".

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      Turismo ambiental

      Em sua fala, o ex-presidente também mencionou planos para criar turismo ambiental em áreas de preservação. Segundo ele, se o governo não "utilizar" esses espaços, eles tendem a ser invadidos com mais facilidade.

      Ele sinalizou, ainda, que mantém conversas com representantes do agronegócio para construir uma exploração mais sustentável. "Até do lado de lá tem gente que quer ganhar dinheiro, que é dono do agronegócio, mas quer agir com responsabilidade, porque sabe que o mercado internacional exige isso", disse.

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