Lula foi aconselhado por Lira a manter Juscelino para não perder votos do União Brasil; leia análise

Presidente também conversou com Pacheco e Davi Alcolumbre; sem base aliada sólida, governo avaliou que não pode abrir mão de partido

6 mar 2023 - 18h38
(atualizado às 18h53)
Lula foi aconselhado por Lira a manter Juscelino para não perder votos do União Brasil; leia análise
Lula foi aconselhado por Lira a manter Juscelino para não perder votos do União Brasil; leia análise
Foto: Estadão

BRASÍLIA - A sobrevivência do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, passou por um cálculo político no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado por articuladores do governo no Congresso de que os padrinhos de Juscelino não aceitavam a demissão sumária do ministro e culpavam o PT pelos ataques. Na prática, uma dispensa de Juscelino, nesse momento, significaria votos contrários da bancada do União Brasil - a terceira maior da Câmara, com 59 deputados - a projetos do governo.

Lula conversou sobre o assunto, nos últimos dias, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e com o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), um dos fiadores de Juscelino. Todos o aconselharam a pedir que o ministro desse explicações públicas e não o jogasse ao mar agora.

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A estratégia ficou combinada na reunião desta segunda-feira, 6, entre Lula, Juscelino e os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil), no Planalto. O presidente não gostou do silêncio de Juscelino diante da avalanche de episódios de irregularidades com o uso do dinheiro público, revelados pelo Estadão.

De 26 a 30 de janeiro, por exemplo, o ministro usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e desfrutou de diárias pagas pelo governo para ir a São Paulo. Teve duas horas e meia de compromissos oficiais. O restante do tempo foi dedicado a uma agenda privada, como participação em leilão de cavalos de raça.

O Estadão também mostrou que, quando era deputado federal, Juscelino destinou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente a fazendas dele e de sua família, em Vitorino Freire (MA).

Divisão

Antes mesmo dos escândalos envolvendo o titular das Comunicações, porém, o União Brasil já estava dividido no apoio a Lula. Mesmo com três ministérios na Esplanada - Comunicações, Turismo e Integração -, o partido declarou "independência" do Planalto e ameaçou divulgar um manifesto dizendo que não seria "subserviente" ao governo.

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Sob pressão, Lula decidiu não pagar para ver, ao menos nessa temporada em que ainda não tem base aliada sólida na Câmara e precisa de votos para aprovar assuntos fundamentais para o crescimento da economia, como o novo arcabouço fiscal. A dificuldade foi admitida nesta segunda pelo próprio Lira, que comanda o Centrão.

"Temos um governo que foi eleito com margem de votos mínima e que precisa entender que temos Banco Central independente, agências reguladoras, Lei das Estatais e um Congresso com atribuições mais amplas", afirmou o presidente da Câmara, na Associação Comercial de São Paulo.

Pesou ainda para a decisão de manter Juscelino o fato de Lula não querer dar início a uma reforma ministerial com apenas dois meses de governo. Nos bastidores, porém, a situação do ministro é considerada insustentável a médio prazo.

O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), também avisou Padilha que a dispensa de Juscelino agora, sem que ele tentassse se explicar, representaria uma "humilhação" para o partido. Seria uma declaração de rompimento, que teria troco no Congresso.

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Uma entrevista na qual a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu o afastamento de Juscelino foi considerada o estopim para esse desfecho. Integrantes do União Brasil avaliaram que, ao pedir a cabeça do ministro, Gleisi conseguiu unir integrantes do partido, mesmo aqueles que não endossaram sua indicação. E assim Lula foi convencido a deixar Juscelino na Esplanada. Ao menos por enquanto.

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