Em uma tenda improvisada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta sexta-feira, 5, da inauguração do novo câmpus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na cidade de Osasco. A obra, no entanto, que já consumiu investimentos de mais de R$ 900 milhões, não está concluída e o petista foi cobrado por uma aluna do terceiro ano do curso de Direito, Jamile Fernandes, pelo empreendimento inconcluso.
Conforme a aluna, a inauguração de ontem contemplava apenas metade do projeto. "A obra não está concluída. O que está sendo inaugurada hoje (ontem) é apenas metade da obra. Faltam moradias estudantis, restaurante e auditórios. A universidade não é verdadeiramente nossa, do corpo discente apenas 8% são de alunos negros. Temos de trabalhar com a realidade", disse Jamile.
Durante inauguração do novo campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na cidade de Osasco, o presidente Lula foi cobrado por uma aluna do terceiro ano de direito, Jamile Fernandes, pela conclusão da obra. De acordo com a aluna, hoje está sendo inaugurada apenas… pic.twitter.com/zS2sih7DPO
— Política Estadão (@EstadaoPolitica) July 5, 2024
A construção dessa unidade havia sido prometida pelo próprio petista em 2008, mas só agora as obras principais estão concluídas. Os cursos do câmpus de Osasco começaram a funcionar em 2011, em um prédio cedido pela prefeitura da cidade. Agora ficaram prontos os edifícios acadêmico e administrativo da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen) do novo câmpus, em Quitaúna, mas ainda falta a conclusão da biblioteca.
Reuni
A pedra fundamental dessa unidade foi colocada por Lula no terreno em 2008, quando ganhava força um programa de expansão da rede federal de ensino superior, o Reuni. No seu segundo mandato, as unidades federais cresceram e se interiorizaram.
Essa ampliação, no entanto, sofreu críticas, incluindo de parte dos professores e alunos, pelas restrições de estrutura e por atrasos em obras. A Unifesp foi uma das instituições que se expandiram, com a criação de unidades em mais cidades, como Guarulhos e Diadema, e na Baixada Santista.
O contrato para o câmpus Quitaúna foi assinado apenas em 2016, com prazo previsto para a construção do prédio de 18 meses. As obras, porém, duraram oito anos.
No total, o projeto custou R$ 102 milhões. O espaço atenderá 1,4 mil alunos, com salas de aula, auditórios, restaurante universitário, laboratórios, entre outras estruturas acadêmicas e estudantis. A biblioteca, cuja construção começou em 2022, deve ficar pronta só no ano que vem.
Em sua breve fala durante o evento, o ex-ministro da Educação e atual titular da Fazenda, Fernando Haddad, rebateu a cobrança da aluna da Unifesp, alegando que a construção de universidades não tem fim. "A USP (Universidade de São Paulo) até hoje está sendo construída, prédios estão sendo construídos e professores sendo contratados", disse Haddad se dirigindo à aluna. Ele fez um relato sobre a implantação de universidades federais em São Paulo, Estado que já era bem servido por universidades e faculdades, durante os governos do PT.
"O presidente Lula me disse que era importante a presença de universidades federais em São Paulo porque São Paulo não tinha o sentimento de pertencimento", disse Haddad. "Aqui só se falava em Rodoanel, que até hoje não está concluído, apesar dos recursos enviados pelo governo federal", declarou o ministro.
Nas redes sociais, Lula criticou os governantes que lhe sucederam e atribuiu a demora das obras a "irresponsabilidades" e "falta de vontade". Entre os presidentes desse período, está sua sucessora e aliada petista, Dilma Rousseff.
'Aporte'
Em nota, a Unifesp informou que nos anos seguintes a 2016 "houve aporte de recursos pontuais sobretudo de emenda de bancada e emendas individuais, o que possibilitou que a obra não parasse, mesmo no período de pandemia". Em 2023, conforme a instituição, o Ministério da Educação (MEC) anunciou o recurso de R$ 18 milhões para a obra, "o que possibilitou a finalização dos edifícios acadêmico e administrativo do câmpus Osasco da Unifesp".
Procurado pela reportagem, o MEC não havia se manifestado até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.