BRASÍLIA - Em discurso na solenidade organizada pelo governo para lembrar os atos extremistas no 8 de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os responsáveis pela depredação dos prédios públicos serão punidos. Ele prometeu ser intransigente na defesa da democracia. O petista minimizou o fato de o ato ter sido esvaziado, sem a presença de chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário.
"A democracia precisa ser cuidada com todo o carinho e vigilância por cada uma e cada um de nós sempre e sempre. Sempre seremos implacáveis contra qualquer tentativa de golpe. Os responsáveis pelo 8 de Janeiro estão sendo investigados e punidos", declarou o petista. E acrescentou: "Hoje é dia de dizer em alto e bom som: ainda estamos aqui", usando expressão que está no título do filme de Walter Salles e estrelado pela atriz Fernanda Torres.
Lula afirmou que os envolvidos terão direito à defesa em processo justo. "Ninguém foi ou será preso injustamente. Todos pagarão pelos crimes que cometeram, todos. Inclusive os que planejaram o assassinato do presidente, do vice-presidente da República e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Terão amplo direito de defesa, e terão direito à presunção de inocência", afirmou ele. O petista também declarou defender a liberdade de expressão, mas que não se pode ser tolerante com discursos de ódio.
Lula afirmou que é dia de dizer que a democracia está viva, e que não haverá mais ditadura. Ele também declarou que a democracia "só será plena" quando todos tiverem acesso a educação e saúde. Ele ainda mencionou a volta das obras de arte depredadas durante os ataques. "Se elas foram restauradas e devolvidas ao Planalto, é porque a democracia venceu", completou.
O presidente disse ainda que é possível construir as Forças Armadas com o propósito de defender a soberania nacional. Ele agradeceu ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, por ter levado os comandantes militares ao evento realizado na Praça dos Três Poderes.
"Quero agradecer o 'Zé Múcio', que trouxe os três comandantes das Forças Armadas para mostrar a esse país que é possível a gente construir as Forças Armadas com o propósito de defender a soberania nacional", declarou o presidente da República.
Lula está tentando reconstruir sua relação com as Forças Armadas no atual governo. Há forte influência bolsonarista no meio militar. O petista minimizou a ausência de algumas das principais autoridades do País no ato para relembrar os ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); e do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, não compareceram, apesar de terem sido convidados.
"Eu vi a preocupação de alguns meios de comunicação. Se ia ter muita gente, se ia ter pouca gente, se era fracassado ou não. Eu queria que as pessoas soubessem o seguinte: um ato em defesa da democracia brasileira, mesmo que tenha um só cara, uma só pessoa, numa praça pública, num palanque, falando em democracia já é o suficiente para a gente acreditar que a democracia vai reinar nesse País. As coisas que acontecem no mundo sempre começam com pouca gente", declarou o presidente da República.
Ele afirmou não ser possível alguém imaginar a existência de uma forma de governo melhor que a democracia. Disse que escapou de uma "tentativa de atentado de um bando de irresponsáveis", e chamou o grupo que teria planejado o possível ataque como "aloprados". Também mencionou sua viagem às pressas para São Paulo para operar a cabeça, e reclamou da demora para seu avião chegar a Brasília.
Na mesma solenidade, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que a depredação da democracia não começou naquele dia. Segundo ele, foi um processo sutil.
"Logo nos demos conta que o ataque à nossa democracia não começou em 8 de janeiro. O processo foi mais sutil, mais gradual. Passamos a viver um clima de desinformação crescente alimentado por ataques à eficiência da urna eletrônicas, ao próprio processo eleitoral e, por conseguinte, à nossa Justiça Eleitoral", declarou Lewandowski.
O ministro, que era integrante do Supremo Tribunal Federal na época dos ataques, disse que o episódio foi lastimável. "Nos deparamos com um verdadeiro cenário de guerra, algo inimaginável no Estado democrático de Direito", declarou o ministro da Justiça.
Ele afirmou que o Brasil viu surgir um "nacionalismo exacerbado" sob o "disfarce" do combate à corrupção. "Lamentavelmente, a história do Brasil nos mostra que tentativas de conspiratas não foram exceções", declarou. Ele defendeu firmeza e vigilância para preservar a democracia. Também afirmou que nas ameaças à democracia devem ser lembretes do valor que ela representa.