Pouco depois de o presidente do Progressistas e senador Ciro Nogueira (PI) confirmar sua entrada no governo de Jair Bolsonaro como ministro-chefe da Casa Civil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se manifestou em entrevista citando o Centrão. "Bolsonaro ficava falando que ia acabar com a 'a velha política'... Qual é a nova política dele? Ficar refém do Centrão?", disse Lula à Rádio Difusora de Goiás.
Apesar da aproximação recente, o Centrão e a "velha política" foram alvo constante de Bolsonaro e aliados durante a campanha que o elegeu presidente em 2018. Do outro lado, o próprio Ciro Nogueira apoiou o PT naquele ano, chegando a chamar Bolsonaro de "fascista".
O bloco informal também já foi aliado de Lula e serviu como base de sustenção dos governos petistas até quando a ex-presidente Dilma Rousseff deu sinais de que não resistiria ao processo de impeachment. O então vice-presidente, Michel Temer (MDB), indicou que abriria o orçamento e os cargos da Esplanada aos parlamentares do Centrão, e então o grupo se afastou do petismo.
De olho em 2022, a interpretação de que o grupo pode ter "balançado" de novo após Lula recuperar seus direitos políticos pela anulação de suas condenações na Operação Lava Jato veio seguida de sinais claros da aproximação de Bolsonaro com o grupo.
"Eu sou do Centrão", disse Bolsonaro, ao confirmar a indicação de Ciro à Casa Civil, na semana passada. "Eu fui do PP, do PTB, do então PFL, no passado integrei siglas que foram extintas. O tal Centrão são alguns partidos que lá atrás se uniram na campanha do Alckmin e ficou, então, rotulado Centrão como algo pejorativo, algo danoso. Não tem nada a ver. Eu nasci de lá", declarou Bolsonaro à Rádio Banda B, de Curitiba.
Apesar do comentário desta terça, Lula também saiu em defesa do Centrão recentemente. "Não tratem o Centrão como um partido único", disse em maio. "Ao apagar as luzes da Câmara dos Deputados, cada partido tem interesse no seu estado. Vamos conversar individualmente com cada partido político."
O que é o Centrão
O grupo atua desde a época da Assembleia Constituinte. Em 1987, uma reportagem do Estadão já repercutia as ações do Centrão. Em 1988, por exemplo, em troca da nomeação de cargos públicos, os parlamentares do Centrão conseguiram aprovar o aumento de quatro para cinco anos do mandato do então presidente José Sarney (MDB). O grupo ganhou novo impulso a partir da ascensão do ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB-RJ) à presidência da Câmara, ocupando um vácuo deixado pela falta de articulação política do governo de Dilma.
Diferentemente das frentes parlamentares oficiais do Congresso, o chamado Centrão é um grande bloco informal determinado principalmente por comportamentos que visam a garantir vantagens políticas. Entre as principais moedas utilizadas pelo Centrão para barganhar seu apoio está a nomeação de cargos públicos.