BRASÍLIA - A senadora Simone Tebet (MDB-MS) pode fazer uma "dobradinha" com a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP) no Ministério do Meio Ambiente. A ideia é defendida, nos bastidores, pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda há divergências no PT sobre como seria a configuração desse modelo.
Marina foi ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato de Lula, quando ainda era filiada ao PT, mas saiu desgastada com o partido. Se depender da cúpula do PT, Simone deveria ser a titular do Meio Ambiente, ou até de Agricultura, e Marina ficar com Autoridade Climática, cargo a ser criado.
A ideia é que Autoridade Climática seja acomodada sob a estrutura do Meio Ambiente. Até agora, porém, Marina resiste a essa configuração e prefere ser ministra. Simone, por sua vez, não aceita ir para Agricultura.
Terceira colocada na disputa presidencial, a senadora do MDB apoiou Lula no segundo turno da campanha. Ela só não entrou na lista de ministros anunciada nesta quinta-feira porque Lula cedeu à pressão do PT.
Simone queria comandar Desenvolvimento Social, mas a pasta é vista pelo partido como "coração do governo". O ministério foi entregue ao senador eleito Wellington Dias (PT-PI), ex-governador do Piauí, Estado onde Lula lançou o Fome Zero, em 2003. Foi esse programa que deu origem ao Bolsa Família, considerado vitrine da gestão petista.
Para a cúpula do PT, não era aceitável deixar Simone, uma possível adversária do partido na disputa de 2026, em um cargo de tanta visibilidade e, além de tudo, com um dos maiores orçamentos da Esplanada.
Ao anunciar a lista com 16 ministros, Lula disse ser mais difícil montar um governo do que ganhar as eleições. Nas entrelinhas, mandou um recado a Simone ao observar que ele e o PT são "devedores" de muitos que o ajudaram na campanha. "O presidente Lula sabe do papel que teve e tem a senadora Simone Tebet", afirmou Dias.
No relatório final do gabinete de transição, a proposta é que Autoridade Climática funcione como uma espécie de autarquia vinculada ao Meio Ambiente. Marina não concorda e quer que o cargo seja diretamente subordinado ao ministério. Dirigentes do PT, por sua vez, avaliam que seria recomendável a função ficar sob a estrutura da Presidência da República.
Diante de todas essas dúvidas, a situação de Simone não está definida. A aliados, a senadora que deixa o mandato agora tem dito que prefere ficar fora do governo a receber um "prêmio de consolação".