Lula viveu com culpa o 'mensalão', revela Mujica em biografia

8 mai 2015 - 15h27

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva "não é um corrupto" e viveu o escândalo do "mensalão" com "angústia e alguma culpa", revelou o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, na biografia autorizada "Una oveja negra al poder" (Uma ovelha negra no poder, em tradução livre).

Trechos do livro dos jornalistas uruguaios Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz, publicado recentemente na Argentina, e que será apresentado nesta sexta-feira em Montevidéu, foram divulgados pela imprensa.

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De acordo com a biografia, Lula teria contado a Mujica no início de 2010, numa reunião em Brasília, que tinha que "lidar com muitas coisas imorais, chantagens" e que "esta era a única maneira de governar o Brasil".

Lula sempre negou ter qualquer informação sobre o escândalo que comprometeu grande parte da estrutura política do Partido dos Trabalhadores e do aparato governamental.

Em 2005, quando os detalhes do esquema de pagamentos mensais para comprar apoio político começaram a aparecer na imprensa, um indignado Lula disse se sentir traído pelas práticas inaceitáveis das quais não tinha conhecimento.

"Lula não é corrupto como foi (o ex-presidente Fernando) Collor de Mello e outros presidentes brasileiros", refletiu Mujica, de acordo com a biografia.

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A AFP tentou sem sucesso entrar em contato com Mujica.

Andrés Danza, um dos autores, afirmou à AFP que boa parte do livro se debruça em reflexões sobre o Brasil. "Mujica vê Dilma (Rousseff) e Lula como uma espécie de padrinhos, os dois lhe ajudaram muito. Sobre Dilma diz que sempre esteve a serviço do Uruguai, que é mais executiva do que Lula, mas que tem menos carisma".

A biografia também traz comentários sobre o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que teria revelado a Mujica que durante um desentendimento com a Colômbia o presidente russo, Vladimir Putin, aconselhou-o militarmente para um eventual confronto com o país vizinho.

E ainda fala sobre o apoio da presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, a Mujica durante as eleições de 2009.

Nas linhas do livro, também abundam críticas a membros do seu partido, ao Poder Judiciário, a organizações sociais e grupos feministas, e mesmo ao ex-vice-presidente Danilo Astori, que é descrito por Mujica como um homem sem carisma e "sex appeal".

O ex-presente admitiu aos jornalistas outras curiosidades como, sendo presidente, andava armado quando saia sozinho. "Podem me limpar, mas com certeza levo algum junto", disse Mujica.

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Os autores observam que Mujica teria informações de um suposto complô para derrubá-lo desde os primeiros anos de sua administração, e que, "para evitar um golpe de Estado, depôs ministros e líderes de todos os escalões, promoveu leis controversas, assumiu o protagonismo em conflitos internacionais, recebeu refugiados sírios, aceitou abrigar ex-prisioneiros de Guantánamo (...) tudo feitos para não deixar nenhuma dúvida de quem era o presidente".

Danza comentou que depois de ler a biografia, Mujica disse que concordava com algumas coisas e discordava de outras. "Ele provavelmente não queria que algumas coisas fossem escritas. Uma coisa sobre ele é que ele é verdadeiro, fala o que pensa, e isso às vezes trabalha a favor e outras contra".

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