O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a chamar o ex-presidente Michel Temer de "golpista" e afirmou que recebeu um país "semidestruído" durante pronunciamento ao lado do presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, nesta quarta-feira, 25, em Montevidéu. No discurso, Lula disse ainda que suas relações com chefes de Estado não têm viés "ideológico".
"Hoje o Brasil tem 33 milhões pessoas passando fome. Significa que quase tudo que fizemos de benefício social no meu país, em 13 anos de governo, foi destruído em seis anos, ou em sete anos, nos três do golpista Michel Temer, e quatro, do governo Bolsonaro", disse o petista depois de lembrar as boas relações que o Brasil teve com o Uruguai ao longo dos mandatos petistas.
O ex-presidente Michel Temer rebateu a declaração e disse que o petista mantém os "pés no palanque" e insiste em olhar para o "retrovisor." Vice de Dilma Rousseff, o emedebista o País não foi "vítima de golpe algum" durante o processo de impeachment da ex-presidente. "Foi na verdade aplicada a pena prevista para quem infringe a Constituição."
Ao contrário do que ele disse hoje em evento internacional, o país não foi vítima de golpe algum. Foi na verdade aplicada a pena prevista para quem infringe a Constituição.
— Michel Temer (@MichelTemer) January 25, 2023
Como mostrou o Estadão, Lula tem usado a primeira viagem internacional de seu terceiro mandato para fazer acenos à base do PT e afagar regimes autoritários da América Latina, mantendo discurso com tom eleitoral e revanchista. Antes de ir ao Uruguai, o petista visitou a Argentina, onde participou da cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
Na Argentina, o petista já havia classificado o impeachment de Dilma Rousseff como um "golpe de Estado". A ex-presidente sofreu impeachment em 2016 por promover "pedaladas fiscais", prática revelada pelo Estadão que consiste em manobras contábeis feitas pelo Executivo para cumprir metas fiscais. A declaração de Lula foi contestada por juristas, uma vez que o processo de afastamento está previsto na Constituição e foi referendado pelo Congresso Nacional.
No Uruguai, Lula disse ser preciso "trabalhar junto" para o crescimento da região. Ele também reconheceu a necessidade de abrir mais o comércio bilateral. "Não precisam pensar como eu sob o ponto de vista ideológico, não precisam gostar de mim do ponto de vista pessoal", declarou.
O petista fez novos acenos ao multilateralismo e reforçou sua vontade de uma nova governança mundial. "Voltei à Presidência porque acredito no multilateralismo e quero fortalecer o Mercosul, Unasul, Celac e brigar por uma nova liderança mundial", afirmou o presidente em Montevidéu. "Quem sabe, não estaria havendo a guerra da Rússia e Ucrânia se a ONU tivesse mais representatividade", acrescentou. "Até hoje os Estados Unidos não assinaram o Protocolo de Kyoto", cobrou ainda o presidente.
O petista ainda prometeu discutir junto ao ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, a possibilidade de transformar o aeroporto de Rivera em aeroporto internacional. A construção de uma ponte entre os países também foi citada. "Única mágoa que tenho do Uruguai foi a Copa do mundo de 1950. Mas já faz muito tempo", brincou Lula, após dizer que espera mais reuniões com Lacalle Pou.
Uruguai não pode perder tempo, diz Lacalle Pou
Lacalle Pou, por sua vez, declarou que a reunião com Lula trouxe "otimismo". Lacalle destacou que o encontro foi "produtivo" e mostrou que o Uruguai "não pode perder tempo" nas suas negociações comerciais.
"A visão que o presidente trouxe com sua equipe me gerou bastante otimismo. A questão é que o Uruguai não pode perder muito tempo. Temos que levar pouco tempo para fazer essas coisas, por isso levo uma visão positiva sobre essa reunião", disse o presidente uruguaio.
Lula tenta frear as tratativas do Uruguai de negociar um acordo comercial com a China e agora tenta emplacar a ideia de falar com Pequim em bloco, por meio do Mercosul.
Ao citar a discussão que teve sobre a balança comercial com o presidente brasileiro, Lacalle reiterou ser preciso fazer um trabalho imediato. Apesar de diferenças ideológicas, o presidente disse que há boas intenções em ambos os países, reiterando o tom amistoso do encontro.
Em um aceno ao mandatário uruguaio, Lula reconheceu que cada presidente quer proteger os interesses de seu país, mas reiterou que entende como necessário pensar em um desenvolvimento conjunto da América do Sul.