As duras críticas de Lula a bancos e FMI em discurso na China

Presidente disse que organismos internacionais não podem ficar "asfixiando" países em desenvolvimento.

13 abr 2023 - 05h11
(atualizado às 07h33)
Lula durante discurso
Lula durante discurso
Foto: Divlulgação/Ricardo Stuckert / BBC News Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou seu discurso na cerimônia de posse de Dilma Rousseff (PT) como presidente do Novo Banco do Desenvolvimento (NDB) para criticar instituições financeiras tradicionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Nesta quinta-feira (13/04), ele disse que essas organizações não deveriam ficar "asfixiando" as economias de países em desenvolvimento.

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"Os bancos têm de ter paciência. Se for preciso, renovar o acordo e colocar a palavra tolerância em cada renovação porque não cabe ao banco ficar asfixiando as economias dos países, como está fazendo agora com a Argentina o Fundo Monetário Internacional", disse Lula em seu discurso.

A Argentina passa, há anos, por uma crise econômica e teve de recorrer a empréstimos do FMI. A relação do país com o organismo, porém, é alvo de críticas e divide a classe política local.

A posse de Dilma como presidente do NDB foi o principal evento de Lula nesta quinta-feira.

Posse de Dilma como presidente do NDB foi o principal evento de Lula nesta quinta na China
Foto: Ricardo Stuckert/PR / BBC News Brasil

O NDB foi fundado em 2014 pelos membros originais dos BRICS, grupo de países que reúne o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

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Cada país fez um aporte de recursos e a instituição financia projetos de infraestrutura em seus membros. O banco foi criado oficialmente em 2014 e agora, além dos BRICS, também conta com Egito, Emirados Árabes Unidos e Bangladesh. O banco também avalia a entrada do Uruguai.

Dilma assumiu a presidência do banco após uma articulação política liderada pelo governo brasileiro já sob o comando de Lula.

Ao desembarcar em Xangai, Lula foi recebido pelo vice-ministro das Relações Exteriores, Xie Feng
Foto: Ricardo Stuckert/PR / BBC News Brasil

Em seu discurso, Lula defendeu a criação de instituições financeiras alternativas para financiar projetos em países em desenvolvimento. Segundo ele, a ideia é evitar a dependência em relação a organismos como o FMI.

"Durante os oito anos em que eu estive na presidência do Brasil, nós tentamos criar o Banco do Sul, na perspectiva de unificar toda a América do Sul em torno de um projeto que nos permitisse financiamento para o investimento nas coisas necessárias do nosso país sem que a gente precisasse se submeter às regras colocada pelo Fundo Monetário Internacional", disse Lula.

"[O FMI] quando empresta dinheiro para um país de terceiro mundo ou qualquer outro banco quando empresta para outro país do terceiro mundo, as pessoas se sentem no direito de mandar, de administrar a conta do país", disse o presidente.

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"Vocês se lembram, sobretudo no Brasil, quando todo ano descia um homem e uma mulher no aeroporto do Rio de Janeiro ou de Brasília para ir fiscalizar as contas do nosso país. Nós mudamos a regra", disse Lula.

Lula também criticou a dependência internacional em relação ao dólar. Ele defendeu que os países em desenvolvimento passassem a adotar mecanismos para financiamento de projeto e exportações em suas moedas locais.

"Quem decidiu que é era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como padrão? Por que não foi yene? Por que não foi o Real? Por que não foi peso? Porque as nossas moedas eram fracas [...] porque hoje um país precisa correr atrás do dólar para poder exportar, quando ele poderia exportar sua própria moeda e os bancos centrais certamente poderiam cuidar disso", disse Lula.

"É difícil porque tem gente mal-acostumada porque todo mundo depende de uma única moeda. Eu acho que o século 21 pode mexer com a nossa cabeça e pode nos ajudar, quem sabe, a fazer as coisas diferentes", afirmou o presidente.

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Lula está na China para uma visita de Estado ao país. Nesta quinta-feira, além da posse de Dilma no NDB, ele tem encontros previstos com executivos chineses de empresas com a Huawei, do setor de telecomunicações, BYD, do setor automotivo, e estatais do ramo de infraestrutura.

Na sexta-feira (15/04), ele será recebido pelo presidente Xi Jinping, em Pequim.

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