Nos últimos quatro anos, em que Jair Bolsonaro (PL) esteve à frente no comando do Brasil, a presença de militares em cargos civis mais que dobrou, ocupando até mesmo a cadeira principal do Ministério da Saúde durante a pandemia de Covid-19. O cenário incomodava seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prometeu, ainda na campanha, que teria que tirar "quase 8 mil membros das Forças Armadas" de cargos comissionados.
O petista parece empenhado em cumprir sua promessa o quanto antes. Até este domingo, 22, quase cem militare já foram exonerados de cargos no governo — incluindo o proprio comandante do Exército, Júlio César de Arruda, que tinha sido empossado no fim de dezembro passado.
Veja abaixo cinco pontos para entender o conflito entre Lula e o Exército:
1. Forças Armadas em cargos públicos
Uma das grandes marcas do governo Bolsonaro foi o protagonismo de militares em assuntos civis. Um exemplo claro disso foi a nomeação de Eduardo Pazuello para o Ministério da Saúde, em um dos momentos mais críticos da pandemia de Covid-19.
Em 2021, o número de membros da Forças Armadas em cargos civis já tinha mais que dobrado em relação à gestão anterior. Ao fim do mandato de Bolsonaro, eram cerca de 8 mil nomes nomeados.
2. Pedidos de golpe
A situação de militares no governo ficou ainda mais tensa após o fim das eleições presidenciais, quando bolsonaristas passaram a apelar às Forças Armadas por uma intervenção militar, destituindo o presidente eleito, Lula.
Os discursos eram apoiados, muitas vezes sutilmente, por militares com baixas patentes ou membros da reserva. Um militar da Marinha lotado no GSI (responsável pela segurança pessoal do presidente da República, do vice e seus familiares) chegou a gravar um vídeo em um ato antidemocrático dizendo "ter certeza" que Lula não iria "subir a rampa".
3 - Acampamentos golpistas
Bolsonaristas chegaram a acampar, por três meses, em frente a quartéis de todo o País pedindo apoio para o golpe. O cenário, que já era de desconfiança por parte de Lula, ficou ainda mais crítico com o apoio cego de parte da população.
4 - Terrorismo em Brasília
Não há como esquecer do dia 8 de janeiro em Brasília, quando centenas de bolsonaristas invadira as sedes dos Três Poderes e depredaram os prédios. A falta de uma ação de contenção para prevenir o ataque em massa chamou a atenção do petista e seus aliados.
Durante café da manhã com jornalistas no Planalto, três dias depois, Lula disse que a porta do palácio presidencial havia sido "aberta para essa gente entrar", em referência aos manifestantes golpistas.
Na ocasião o presidente deixou claro o entendimento de que a entrada dos invasores foi facilitada e disse que havia "gente das Forças Armadas aqui dentro conivente" com a depredação do local.
5 - Comandante contrariado
A demissão dos 80 militares do governo em apenas cinco dias parece ter sido impulsionada por um conflito que envolveu o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) nos últimos quatro anos.
Ainda em maio de 2022, com Bolsonaro, Cid foi escolhido para o comando do 1º Batalhão de Ações e Comandos, unidade de Operações Especiais, mas só assumiria em fevereiro deste ano. Dado o alinhamento do ex-ajudante de ordens com o ex-presidente, no entanto, o Planalto já havia indicado que esperava que Arruda anulasse a nomeação.
Lula determinou a imediata remoção do tenente-coronel do comando do batalhão. Arruda, no entanto, se recusou a cumprir a ordem. Cid também é investigado pelo STF e o então general já teria deixado claro que não aceitaria cumprir uma possível ordem de prisão contra o outro militar.
Assim, sem clima para uma conciliação, Lula decidiu exonerar o então general e trocar o comando do Exército.