O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que o momento exige que todos os que ocupam postos de comando terem "equilíbrio" e "sensatez" e pontuou, ao defender que a harmonia entre os três Poderes segue essa premissa, que "ninguém tem poder absoluto".
Questionado em entrevista à rádio Bandeirantes se o momento pede que os ânimos sejam apaziguados, Maia lembrou que existem meios legais de se recorrer das decisões de cada Poder. Maia, assim como o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), baixaram o tom após o tensionamento político crescente com Jair Bolsonaro em função de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) tendo Bolsonaro ou aliados dele como alvos.
"Está na hora daqueles que comandam, todos nós, termos mais equilíbrio, mais sensatez, mais diálogo. E mostrar em conjunto as soluções", defendeu o deputado.
"Porque se cada um caminhar de uma forma, a sociedade recebe a informação e cada um faz de um jeito, então isso vai acabar gerando um resultado para a economia ainda pior e vai resultar, pior do que isso, em um número maior de mortos que poderia ser evitado."
O presidente da Câmara argumentou que o princípio dos três Poderes é organizado de forma a garantir o equilíbrio, lembrando que o presidente da República pode vetar um projeto do Legislativo, caso discorde, que há possibilidade de recursos à Justiça e que o Congresso também tem prerrogativas de rever algumas das decisões dos outros Poderes.
"Precisamos respeitar o devido processo legal, as instâncias do Supremo, respeitar o Judiciário, respeitar o Parlamento e, claro, respeitar o Poder Executivo, cada um na sua atribuição. Ninguém tem poder absoluto no Brasil, porque graças a Deus vivemos em uma democracia", afirmou, argumentando que "ataques" levam a conflitos e posições ainda mais radicalizadas.
Maia avaliou ainda como "bom" o aceno do presidente Bolsonaro, que reduziu a artilharia em live no fim da quinta-feira. O deputado ponderou, no entanto, que é necessário "que a gente mantenha uma constância", enfatizando que referia-se a "todos".
Em mais um passo desse movimento de panos quentes, Alcolumbre chegou a conversar com Bolsonaro, na tarde quinta-feira, pedindo calma ao presidente.
A quinta-feira havia começado turbulenta. Pela manhã, Bolsonaro afirmou, visivelmente irritado, que não haveria mais outro dia como o anterior, em referência à operação da Polícia Federal que cumpriu mandados de busca e apreensão na véspera contra aliados acusados de envolvimento na produção e distribuição de fake news.
"Não teremos outro dia igual a ontem. Acabou, porra!", disse Bolsonaro.
Mas na tradicional transmissão ao vivo no Facebook no fim do dia, ainda que tenha comentado a operação da PF, o presidente da República ensaiou uma aliviada no tom das críticas a ministros da Suprema Corte.
"Eu não quero brigar com Poder nenhum. Respeito todos os Poderes, mas a recíproca tem que ser verdadeira", disse.
O presidente já vinha se irritando com o STF, alvo frequente de apoiadores, que em algumas manifestações chegam a pedir o fechamento do tribunal e a volta de instrumentos do regime militar, como o AI-5.
Na última sexta-feira, dia da divulgação de vídeo de reunião ministerial no âmbito de um outro inquérito que apura se houve interferência na PF, Bolsonaro avisou que jamais entregaria seu telefone celular STF e que só o faria se fosse um rato.