Manifestantes vão às ruas de preto contra Bolsonaro

Protestos aconteceram em pelo menos cinco capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Belo Horizonte

7 set 2019 - 13h13
(atualizado às 15h09)

No mesmo horário em que começavam os desfiles de 7 de Setembro, no Parque do Anhembi, em outro ponto de São Paulo tinha início a concentração convocada por diversas lideranças de movimentos sociais e sindicais. Entre as palavras mais ouvidas estavam "Fora Bolsonaro" e "Lula livre".

Os organizadores, entre os quais União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), haviam conclamando os participantes a vestirem roupas pretas, em sinal de luto. Mas, além do preto, o vermelho - geralmente associado à esquerda -também predominava nos trajes. Da Praça Oswaldo Cruz, por volta das 11h30, o público saiu em cortejo pelas avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antônio, até o Monumento às Bandeiras, no Parque do Ibirapuera.

Publicidade
Manifestantes protestam na Av. Paulista no 7 de Setembro
Manifestantes protestam na Av. Paulista no 7 de Setembro
Foto: Taba Benedicto / Estadão Conteúdo

De acordo com a Polícia Militar, o movimento reuniu cerca de 500 pessoas. Segundo o coordenador da Central de Movimentos Populares, Hugo Fanton, um dos motes do encontro deste ano, que é realizado anualmente, foi "Esse sistema não vale", numa alusão aos desastres ambientais causados pela mineradora Vale em Brumadinho, Minas Gerais.

Além de UNE e Ubes, participaram do ato na capital paulista políticos do PT e do PSOL, centrais sindicais como CUT, Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e o Movimento dos Sem-Teto (MST). "São diversos movimentos sociais e sindicais, do campo e da cidade", afirmou Fanton.

O vereador Eduardo Suplicy (PT) compareceu vestindo preto. Ele disse que ficou feliz em encontrar o neto Teodoro Suplicy, de 16 anos, entre os presentes. "É importante que os jovens estejam unidos com os veteranos."

Manifestantes protestam na Av. Paulista no 7 de Setembro
Foto: Taba Benedicto / Estadão Conteúdo

Rio de Janeiro

Centenas de manifestantes tomaram parte da Avenida Rio Branco, uma das principais vias do Centro do Rio de Janeiro, em protesto contra o governo de Jair Bolsonaro. O 'Grito dos Excluídos' acontece há 25 anos, nos dias de comemoração da Independência do Brasil. Neste ano, os participantes vestiram roupa preta, para se contrapor ao presidente, que convocou seus apoiadores a usarem as cores verde e amarela neste dia 7 de setembro.

Publicidade

A concentração do protesto começou por volta das 9h, nas proximidades da Avenida Presidente Vargas, na região central, onde desfilam os militares. Concluído o desfile oficial, por volta do meio-dia, os manifestantes seguiram em direção à Praça Mauá.

"A principal bandeira da manifestação é que nada nesse sistema tem solução: a saúde, educação, o uso da terra. Nenhuma reforma vai salvar o País", disse Marcelo Edmundo, diretor da Central de Movimentos Populares. Ele destacou que o tema da manifestação neste ano foi 'Esse sistema não Vale'.

O protesto aconteceu com tranquilidade, apesar de pessoas favoráveis ao governo Bolsonaro passarem pelos manifestantes vestidas de verde e amarelo. Apenas um homem com uma camisa do PSL, partido do presidente, provocou os manifestantes gritando 'mito'. Em resposta, foi vaiado. Logo se retirou do local de concentração do protesto.

A Polícia Militar formou um cordão de isolamento à frente dos manifestantes e seguiu todo o cortejo até a Praça Mauá.

"Estou aqui pelo Brasil da Amazônia e da Embraer. Não é pelo Brasil de Bolsonaro", afirmou a aposentada Maria das Graças Gama.

Publicidade

Presente ao protesto, o ex-senador Lindbergh Farias (PT-RJ) acredita que o mês de setembro será marcado por protestos, principalmente de estudantes.

"Não tenho dúvida de que uma reação forte virá dos estudantes. Esse é um setor mais dinâmico, que vai se posicionar. Porque as universidades vão fechar. Acredito que a educação será o estopim dos protestos, que devem vir no mesmo nível de 2013", avaliou.

Recife

Em Recife, os manifestantes participaram de uma caminhada de quatro horas, que começou às 8h, em direção ao Parque Amorim, na área central.

Vestidos de preto e vermelho, os participantes reivindicaram verba para o ensino público. É o caso de Ranielle Vital, de 24 anos, que acaba de entrar em mestrado na Universidade de Pernambuco. "A gente inicia uma seleção já sem nenhuma perspectiva de bolsa e está muito difícil fazer ciência no Brasil sem incentivo", disse.

Estudante de pedagogia e vice-presidente da UNE em Pernambuco, Débora Carolyne lembra que as universidades federais pernambucanas sofreram bloqueio de 30% do orçamento, o que já rendeu atos políticos no Estado.

Publicidade

A manifestação também chamou a atenção para as queimadas no Norte do Brasil. "São várias as situações que estão nos preocupando e a Amazônia é uma delas", destaca o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido.

A marcha ocupou quatro faixas da Avenida Agamenon Magalhães, uma das principais vias da capital, ao longo de duas quadras. Procurada, a Polícia Militar não estimou a quantidade de manifestantes.

Salvador

O Grito dos Excluídos começou a tomar forma por volta das 9h em Salvador. Vestidos de preto ou vermelho, manifestantes iniciaram uma marcha cerca de duas horas depois com um ato ecumênico. Entre os participantes, representantes de sindicatos, religiosos, estudantes e cientistas. O grupo tem a intenção de seguir até a Praça Castro Alves.

"O presidente convocou os patriotas para que usassem verde e amarelo em homenagem à Amazônia. Já os movimentos estudantis convocaram os estudantes e toda a sociedade para vir para a rua de preto, em luto pelo que está acontecendo na Amazônia e contra os atentados à educação. O que nos motiva é a defesa do nosso País, patriotismo de verdade, não essa imagem que ele está tentando vender", afirma Debora Nepomuceno, de 20 anos, vice-presidente nacional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

Publicidade

Questionada sobre o número de manifestantes, a Polícia Militar diz não ter uma estimativa.

Belo Horizonte

Estudantes, religiosos e representantes de ONGs, associações e sindicatos também participaram de protesto em Belo Horizonte contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. A Polícia Militar não repassou estimativa de presentes. O ato foi realizado embaixo do viaduto Santa Tereza, na Região Central da capital e integrou o Grito dos Excluídos, realizado nesta data. As tragédias da Vale em Brumadinho e Mariana também foram lembradas.

Os manifestantes, a maior parte vestindo roupas pretas, protestaram sobretudo contra a gestão ambiental do governo na Amazônia e os cortes na área da educação.

"Estamos lutando pelo direito dos estudantes. Na semana passada, por falta de recursos, foi cortada uma das quatro linhas de ônibus que atendem o campus e os arredores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É um exemplo concreto do governo Bolsonaro", afirmou o doutorando em Sociologia da escola, Gustavo Martins do Carmo Miranda.

Fernanda Nunes, Hairton Ponciano, Vinicius Britto, Leonardo Augusto e Renata farias, especiais para O Estado.

Veja também

Internautas querem que Bezos salve a Amazônia
Video Player
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se