Uma nova rodada de manifestações a nível nacional contra o governo do presidente Jair Bolsonaro volta a acontecer neste sábado, 24. Os protestos de hoje defendem, assim como os anteriores, o impeachment do chefe do Executivo e criticam a condução da pandemia a nível federal. Segundo os organizadores, foram marcados mais de 400 atos, que ganharam o nome de #24JContraBolsonaro, em todos os Estados do País.
Esta será a quarta manifestação organizada pela oposição ao presidente em dois meses. A primeira aconteceu em 29 de maio; a segunda, em 19 de junho; e a terceira, em 3 de julho. A movimentação do dia 19 foi a maior até o momento, com 457 atos registrados. Ao menos 11 capitais brasileiras, como o Rio de Janeiro, São Luís, Recife e Belém, já registram atos contra o presidente, segundo publicações dos organizadores nas redes sociais.
As manifestações atuais reforçam os pedidos de vacinação e de ampliar a distribuição do auxílio emergencial, além de criticarem a alta nos preços de alimentos e apoiarem as investigações da CPI da Covid, em recesso até agosto. Ganharam força, contudo, com as recentes ameaças de membros do governo federal às eleições de 2022. Conforme revelado pelo Estadão, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, condicionou a realização do pleito no ano que vem ao voto impresso, fazendo coro a acusações infundadas de fraude por parte de Bolsonaro.
De acordo com os organizadores, a fala foi suficiente para aumentar a força dos atos de hoje. Segundo Raimundo Bonfim, líder da Central de Movimentos Populares (CMP) e um dos principais líderes das manifestações, foram agendados 123 novos atos pelo Brasil nas 24 horas seguintes à divulgação das ameaças. Outra fonte de incentivo foi o acordo com o Centrão de entregar o comando da Casa Civil ao senador Ciro Nogueira (PP-PI).
O deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, também deve voltar a ser foco dos manifestantes, que tentam pressionar a análise dos mais de 100 pedidos de impeachment entregues à Casa. No último sábado de protestos, eram comuns as menções ao parlamentar, chamando-o de "cúmplice" do presidente.
Rio de Janeiro
Manifestantes saíram em caminhada no Centro do Rio por volta das 11h30. O grupo começou a concentrar às 10h perto do Monumento Zumbi dos Palmares, ocupando a pista central da Avenida Presidente Vargas, via que liga a zona norte à região central da cidade.
Por volta de 11h15, a pista central em sentido oposto também foi fechada ao tráfego para comportar o ato, que é acompanhado por policiais militares e guardas municipais. Em seguida, foi fechada uma das pistas laterais -- a via tem 14 faixas de rolamento no total, em quatro pistas. A concentração da manifestação se estendia por cerca de 300 metros.
Muitos manifestantes levam cartazes e usam adesivos de repúdio a Bolsonaro. Há também adesivos e camisetas de apoio aos direitos das pessoas LGBTQI+, de repúdio ao machismo e de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um boneco inflável do ex-presidente usando a faixa presidencial se destaca na parte final do cortejo. A caminhada está prevista para seguir até a Igreja da Candelária, no cruzamento da Presidente Vargas com a Avenida Rio Branco, principal via do Centro carioca, um percurso de cerca de 2,7 quilômetros.
Na capital carioca, o ato foi convocado pela Campanha Fora Bolsonaro RJ, organizada por partidos políticos de oposição (PT, PCdoB, PSOL, PCB, PSB, PDT, PSTU, Cidadania, PV, Rede Sustentabilidade e Avante) e movimentos sociais, com a Frente Brasil Popular, a Frente Povo Sem Medo, o Fórum por Direitos e Liberdades, o Comitê em Defesa da Vida e a Coalizão Negra por Direitos.
Do principal carro de som do protesto, o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) pediu a prisão de Bolsonaro por negligência na condução do combate à pandemia de covid-19 e criticou a tentativa do ministro da Defesa de pressionar o Legislativo pela aprovação do voto impresso nas eleições gerais de 2022. Molon frisou que o voto impresso será decidido pelo Congresso Nacional e não por Braga Netto.
"Quem com suas ações e omissões provocou a morte de meio milhão de brasileiros não pode ficar no Planalto", disse o deputado. "Não pode apenas ser tirado da presidência, tem que ir para a cadeia."
Brasília
Manifestantes foram às ruas de Brasília na tarde deste sábado, 24, para protestar contra o governo de Jair Bolsonaro. O ato começou com concentração de pessoas e carros de som no início da Esplanada dos Ministérios, em frente à Biblioteca Nacional. Em seguida, os manifestantes caminharam com placas e cartazes em direção ao Congresso Nacional.
Além de "fora, Bolsonaro", com a defesa do processo de impeachment do presidente, manifestantes fizeram críticas ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e à proposta de implementação do voto impresso, bandeira de Bolsonaro.
Atos contra o governo foram registrados em outras capitais do País e do mundo. Os movimentos contam com apoio de movimentos sociais e políticos de oposição.
A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), participa do ato em Brasília. A parlamentar publicou fotos e fez transmissões ao vivo do local do protesto. "É o povo na rua por vacina no braço, comida no prato e fora genocida", escreveu em suas redes sociais. Outros políticos também participaram de manifestações em outros Estados do País durante este sábado.
São Luís
Na capital maranhense, os manifestantes se concentraram na região central da cidade para a quarta demonstração contra o governo Bolsonaro. Com frases de "Vacina no Braço e comida no prato" e "Evangélicos pelo fora Bolsonaro", o ato foi marcado por críticas ao presidente da República e também aos altos preços do arroz, feijão, óleo e gasolina.
"Defendemos a saída irrestrita do presidente, seja por impeachment ou pela mobilização das pessoas, contra a má gestão de Bolsonaro que levou à morte de mais 500 mil pessoas. O presidente cometeu um crime contra a humanidade. É um governo genocida", afirmou o jovem e co-vereador do Coletivo Nós, Eni Ribeiro.
A passeata deste sábado foi menor do que a realizada no dia 3 de julho. O protesto, que teve fim na Praia Grande, contou com a participação dos partidos PT, PSOL, PCO, PCdoB, PSTU e de entidades e classes sindicais CTB, Movimento dos Trabalhadores Rurais, UBES, CUT, Sinproessema, UJS e UNE.
Organização
Novamente, os principais organizadores dos atos pelo Brasil são centrais sindicais e movimentos sociais como as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, Coalizão Negra por Direitos, MTST, UNE e CMP, além de partidos da esquerda como PT, PSOL e PCdoB. Há, porém, registros localizados de apoio de grupos de outros espectros políticos, como o PSDB, em São Paulo.
A organização tenta, inclusive, evitar atos isolados de violência, como os do último protesto na capital paulista. Militantes do Partido da Causa Operária (PCO) se confrontaram com um grupo do PSDB na Avenida Paulista e, à noite, outros participantes do ato atearam fogo a uma agência bancária. Para evitar situações do tipo, a organização deve encerrar o ato antes do anoitecer. / COM VINICIUS NEDER, DO RIO; DAVI MAX, DE SÃO LUÍS, ESPECIAL PARA O ESTADÃO