Marina sela aliança com Campos e o declara candidato à Presidência

5 out 2013 - 20h44

Em um movimento surpreendente, a ex-senadora Marina Silva decidiu se aliar ao PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o declarou neste sábado candidato à Presidência da República em 2014, numa decisão que coloca os dois ex-aliados do PT juntos na disputa contra a presidente Dilma Rousseff.

Ex-senadora Marina Silva comemora aliança com presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em evento em Brasília 5/10/2013
Ex-senadora Marina Silva comemora aliança com presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em evento em Brasília 5/10/2013
Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

O posicionamento de Marina no tabuleiro eleitoral do ano que vem era amplamente esperado, depois que o partido que ela buscava criar com vistas às eleições, a Rede Sustentabilidade, teve o pedido de registro negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quinta-feira. O prazo para escolha de uma legenda para as eleições do ano que vem se encerra neste sábado.

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Marina era cobiçada por vários partidos que lhe ofereceram a legenda para que fosse candidata ao Palácio do Planalto. A ex-senadora preferiu, no entanto, aliar-se a Campos, filiar-se ao PSB e declarar apoio ao nome do governador pernambucano para a Presidência.

"Você tem alguma dúvida em relação a isso?", respondeu Marina em entrevista coletiva, quando questionada se apoiaria o nome de Campos para a Presidência.

"O PSB já tem um candidato, e está posto. E por que não apresentar o nosso programa a este candidato?", acrescentou a ex-senadora, que disse que também optou pelo PSB, porque essa opção seria fazer o "inesperado", o que chamou de seu "plano C".

Marina, que evitou falar na possibilidade de ser vice numa chapa encabeçada por Campos, ocupa a segunda colocação nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2014, enquanto Campos aparece na quarta posição na preferência do eleitorado.

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Recentemente o PSB anunciou sua saída do governo da presidente Dilma Rousseff, abrindo caminho para uma candidatura própria do partido à Presidência da República.

Dilma lidera a corrida eleitoral do ano que vem à frente de Marina. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), está na terceira posição, de acordo com as pesquisas.

Marina decidiu tentar a criação da Rede Sustentabilidade depois de receber quase 20 milhões de votos e terminar a eleição presidencial de 2010, quando disputou pelo PV, na terceira posição. Na ocasião, ela adotou o discurso de uma nova forma de fazer política e quebrar a polarização existente há quase 20 anos entre PT e PSDB.

Foi justamente esta retórica que permeou todas as declarações tanto de Campos quanto de Marina no anúncio deste sábado.

"Hoje nós estamos quebrando uma falsa polarização que precisa ser quebrada na política brasileira", disse Campos ao anunciar a filiação de Marina e de outros integrantes de seu grupo no PSB e a criação de uma "coligação política e eleitoral" com a Rede Sustentabilidade.

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"Estamos recebendo a Rede no PSB para fazer uma aliança programática, porque nós reconhecemos a Rede como algo necessário para mudar a política no Brasil", disse o governador que insistiu em afirmar que uma decisão sobre candidatura será tomada "no tempo certo".

Indagado, no entanto, se a aliança com Marina aumentava as chances de o PSB chegar ao segundo turno das eleições presidenciais e eventualmente ao Palácio do Planalto, respondeu: "Acho que ninguém aqui tem dúvida disso não."

DISSIDÊNCIA INTERNA

Na avaliação do cientista político Roberto Romano, da Unicamp, a aliança com Marina traz novos ares para o PSB e muda o cenário eleitoral de polarização entre PT e PSDB.

"Marina vai trazer uma espécie de aura nova ao programa (do PSB) talvez até retomando a inspiração inicial do partido", disse Romano, ressalvando que ao não ser cabeça de chapa, Marina perde potência eleitoral, apesar de levar seu capital político para a candidatura do novo aliado.

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Tanto Marina quanto Campos têm histórico de ligação com o PT e ambos foram ministros do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-senadora na pasta do Meio Ambiente e o governador na de Ciência e Tecnologia.

"Eu acho que o Eduardo Campos foi um craque", disse à Reuters o cientista político Carlos Melo, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). "É uma dissidência interna que chega à eleição com potencial de ganhar a oposição... Tem muito potencial para crescer", acrescentou.

De acordo com o analista, o movimento de Campos e Marina não tira o favoritismo da presidente Dilma Rousseff na corrida presidencial do ano que vem, mas torna bem mais difíceis as pretensões eleitorais do presidente do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves.

"Acho que restringe a possibilidade do Aécio crescer. Eduardo Campos ganhou um round na disputa com Aécio", disse.

Em nota, o dirigente tucano, que ainda pode enfrentar a concorrência interna do ex-governador de São Paulo José Serra para viabilizar sua candidatura, elogiou a decisão de Marina de se manter "em condições de participar das eleições de 2014" filiando-se ao PSB.

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"O PSDB acredita que a presença de Marina Silva fortalece o campo político das oposições e contribui para o debate de ideias e propostas, tão necessários para colocar fim a esse ciclo de governo do PT que tanto mal vem fazendo ao país", disse Aécio na nota.

PARTIDO CLANDESTINO

Marina aproveitou o "ato político" em que anunciou sua aliança com Campos para criticar a rejeição da Rede Sustentabilidade pela Justiça Eleitoral. Ela disse que seu partido teve "cassado" o direito de disputar as eleições, mas que a Rede existe e que continuará na luta por sua formalização.

"Nós somos o primeiro partido clandestino criado em plena democracia", disse. "Àqueles que pensam que a história se resume numa canetada, a história é fruto de homens e mulheres que, quando não podem construir um novo caminho, se dispõem a uma nova maneira de caminhar."

A ex-senadora afirmou ainda que, assim como a Rede foi cassada, a candidatura de Campos também corre o risco de ser cassada por aqueles que tentam miná-lo.

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"Por que o PSB? Porque em muitas frentes de batalha nós estamos juntos, historicamente", disse Marina.

"Mas porque também tem um governador que trabalhou para viabilizar a sua candidatura legítima a presidente da República, que trabalha a duras penas para não ser cassado, de forma diferente da minha, mas igualmente com risco de ser cassado."

(Reportagem adicional de Maria Pia Palermo, no Rio de Janeiro; e Jeferson Ribeiro, em Brasília)

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