Mauro Cid diz que Carlos Bolsonaro comandava 'gabinete do ódio', segundo jornal

Tenente-coronel também acusou diretamente Jair Bolsonaro pela propagação de notícias falsas, incluindo ataques às urnas eletrônicas

11 nov 2023 - 09h31
(atualizado às 09h53)
O tenente-coronel Mauro Cid ao lado do então presidente Jair Bolsonaro
O tenente-coronel Mauro Cid ao lado do então presidente Jair Bolsonaro
Foto: Dida Sampaio/Estadão / Estadão

Em sua delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou à Polícia Federal (PF) que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, comandava o "gabinete do ódio" - um grupo de assessores do Palácio do Planalto responsável por publicações em redes sociais. As informações são da jornalista Bela Megale, do jornal O Globo.

As publicações do "gabinete do ódio" estão sob investigação devido a suspeitas de ataques aos adversários e às instituições democráticas.

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Cid também acusou diretamente Jair Bolsonaro pela propagação de notícias falsas, incluindo ataques às urnas eletrônicas, corroborando as suspeitas anteriores da PF. Isso porque, os investigadores descobriram mensagens do então presidente enviadas ao celular do empresário Meyer Nigri, nas quais o chefe do Executivo incentiva Nigri a disseminar notícias falsas.

A delação premiada de Cid foi homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, no início de setembro. Após esse procedimento, o ex-ajudante de ordens da Presidência foi liberado da prisão

A investigação está sob a responsabilidade da equipe do subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos. Em entrevistas recentes, ele mencionou que Cid não apresentou evidências de suas acusações, e a Procuradoria-Geral da República (PGR) recomendou à PF a realização de diligências para obter elementos que possam corroborar os relatos.

Minuta do golpe

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Na delação, Mauro Cid detalhou o encontro em que foi apresentada a "minuta do golpe" durante encontro de Bolsonaro com a cúpula das Forças Armadas para discutir a possibilidade de uma intervenção militar. O documento serviria como um roteiro para anular o resultado das eleições de 2022, impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manter Bolsonaro no poder.

No dia 15 de junho, a PF encontrou um roteiro para um golpe de Estado no celular de Mauro Cid. O texto dá um passo a passo em oito etapas para que as Forças Armadas assumissem o comando do País diante da derrota de Bolsonaro nas urnas.

As Forças Armadas nomeariam um interventor, que fixaria um prazo para "restabelecimento da ordem constitucional", as decisões do Judiciário seriam imediatamente suspensas e os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) seriam afastados e substituídos. Por fim, seriam realizadas novas eleições.

A minuta reproduz ainda questionamentos de militares sobre o sistema de votação. O texto afirma que o TSE teria limitado a transparência do processo eleitoral e impedido acesso ao código-fonte das urnas, o que não é verdade. Também classifica como "arbitrária" a multa de R$ 22,9 milhões imposta ao PL, partido de Bolsonaro, pelo pedido para anular parte dos votos do segundo turno. A condenação foi por "litigância de má-fé" - quando a Justiça é acionada de forma irresponsável ou mal-intencionada.

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Quatro dias após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, outra minuta havia sido encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. Esse documento previa a decretação de estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral, com potencial para mudar o resultado das eleições.

Cid disse que Bolsonaro teria mostrado minuta para comandantes das Forças Armadas

Na delação premiada, Cid afirmou que Bolsonaro havia se reunido com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para anular o resultado das eleições. A informação foi publicada pelo portal Uol e pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estadão.

O ex-ajudante de ordens disse que o então presidente mostrou a "minuta do golpe" para os militares como forma de tentar convencê-los a participar da trama golpista. Cid disse que teria recebido o documento de Filipe Martins, então assessor de Bolsonaro e integrante do chamado "gabinete do ódio". No texto, estava previsto que o governo decretaria a prisão de adversários políticos e a convocação de novas eleições.

Segundo Cid, Bolsonaro levou o documento para a alta cúpula das Forças Armadas, mas apenas o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria se empolgado com a ideia. Os outros militares não concordaram com o plano e o ex-presidente chegou a ouvir de um oficial do Exército que, em caso de um golpe, ele também acabaria sendo retirado da Presidência.

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Memória de Cid e seus acessos no Planalto são problemas para Bolsonaro

Como ajudante de ordens, Mauro Cid teve acesso livre ao Palácio do Planalto, estando ao lado do Bolsonaro em entrevistas, lives, reuniões e salas de cirurgia, sendo o braço-direito e secretário particular de Bolsonaro nos quatro anos do governo passado. As memórias dele e os acessos que teve tornam a delação um problema para o ex-chefe do Executivo.

Cid foi preso no dia 3 de maio, em uma operação da PF que investiga a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19. Após ter a delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Cid foi liberado de um quartel onde estava detido no dia 9 de setembro.

*Com informações do Estadão Conteúdo

Fonte: Redação Terra
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