O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem de Jair Bolsonaro (PL), pediu a ajuda de uma amiga e ex-assessora de Michelle Bolsonaro para transportar joias nos EUA, relatou a Polícia Federal no relatório final do inquérito que apura a venda ilícita de bens presentados à Presidência.
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No documento da PF, tornado público nesta segunda-feira, 8, constam conversas de Cid com Marcela Braga, apontada como amiga pessoal da ex-primeira-dama, pedindo ajuda para levar uma mala a Miami, na Flórida, Estados Unidos. À época do governo Bolsonaro, Marcela atuou como vice-cônsul em Orlando, assessora especial do gabinete pessoal da Presidência, além de trabalhar diretamente com Michelle.
A PF aponta que a informação sobre a atuação de Marcela como auxiliar de Michelle 'justifica o fato de Mauro Cid ter cadastrado o nome de Marcela seguido das letras PD', com a sigla em referência à primeira-dama, de acordo com o relatório remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Os indícios dão conta de que Mauro Cid 'tentou usar a estrutura logística do Itamaraty nos EUA para transportar a mala de Orlando para Miami', com Marcela Braga como intermediadora. A PF destacou, ainda que a nomeação de Marcela ao consulado ocorreu em 8 de novembro de 2022. Ela foi exonerada em fevereiro de 2023 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chanceler Mauro Vieira.
O registro da conversa entre Cid e Marcela é de 30 de dezembro de 2022, às vésperas do fim do mandato de Jair Bolsonaro. Na ocasião, o ajudante de ordem pediu um 'favor' em uma mensagem de áudio: "É, tem uma mala que eu preciso que vá lá pra, pra Miami. Não tem pressa. Não precisa ser pra agora não. Você conseguiria descer com essa mala pra mim?".
Marcela responsa, explicando que não iria ao aeroporto, mas orienta Cid a deixar a mala em um hotel. "A gente tem que ver como é que manda isso pra Miami. Porque aí tem que ser via Axel ou algo assim", diz ela em áudio. "A gente não tem esse transporte Orlando — Miami. A não ser quando o embaixador vier aqui. O embaixador André deve vir aqui meados de janeiro, aí ele poderia levar de voltar".
Cid, então, critica a equipe do Itamaraty: "Vocês não têm um motorista pra fazer isso... Puts, pessoal do Itamaraty é enroladinho, hein? Não... Acho que pode, acho que pode sim". O relatório da PF indica, ainda, que o tenente-coronel não conseguiu usar a estrutura do Itamaraty e fazer o transporte da mala por meio de Marcela Braga.
Nota da defesa do Presidente @jairbolsonaro referente ao caso das jóias. pic.twitter.com/Ucu3zyZpNp
— Fabio Wajngarten (@fabiowoficial) July 8, 2024
Associação criminosa pelo desvio de joias
A Polícia Federal concluiu, no caso do suposto esquema de venda ilícita de joias recebidas pela Presidência, que uma associação criminosa foi montada no governo Jair Bolsonaro (PL) para o desvio de bens destinados ao acervo público brasileiro. O valor movimentado apurado pela PF gira em torno de 1,2 milhão de dólares ou R$ 6,8 milhões.
Segundo a investigação, a associação criminosa integrada por Bolsonaro e 11 de seus aliados usou a estrutura do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica para 'legalizar' a incorporação dos bens de alto valor, presenteados por autoridades estrangeiras, ao acervo privado do ex-chefe do Executivo.
Após a conclusão das investigações, a PF indiciou o ex-presidente, além de outras 11 pessoas, por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Os advogados Fabio Wajngarten e Frederico Wasseff, além do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também serão indiciados.
Moraes determina quebra de sigilo
O ministro do STF Alexandre de Moraes determinou nesta segunda, 8, que a Procuradoria-Geral da República (PGR) analise o relatório da PF que pediu o indiciamento de Bolsonaro e outras 11 pessoas no caso das joias sauditas. A PGR tem 15 dias para analisar o material.
A fase de indiciamento é quando a polícia (Polícia Federal neste caso) identifica que há elementos de crime. A investigação aponta que Bolsonaro praticou os seguintes crimes: peculato (apropriação de bens públicos), associação criminosa e lavagem de dinheiro. Bolsonaro nega irregularidades e diz que há perseguição contra ele.
Na decisão, o ministro, relator do caso, retirou o sigilo do inquérito e determinou acesso aos advogados dos citados. Caberá à PGR se debruçar sobre o caso e decidir se aprofunda as investigações, arquiva o caso ou avança propondo uma ação judicial.
*Com informações de Estadão Conteúdo.