Uma fonte da Polícia Federal (PF) confirmou ao Fantástico, da TV Globo, que foram encontradas no celular de Mauro Cid mensagens do tenente-coronel com Jair Bolsonaro (PL) que indicam que o ex-presidente sabia das tentativas de Cid de vender e depois resgatar as joias. O programa exibido no domingo, 20, acompanhou o trabalho dos peritos da PF que analisaram as peças.
Mauro Barbosa Cid é ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e está preso desde maio no bojo de uma operação sobre a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. Ele também está entre os suspeitos de utilizar a estrutura do Estado para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior.
Além de Cid, o advogado criminalista Frederick Wassef também é suspeito de integrar o esquema e teve um dos seus imóveis, no bairro do Morumbi, em São Paulo, vasculhado no último dia 11. A PF aponta que Wassef teria recuperado o relógio que o ex-presidente ganhou de presente do governo da Arábia Saudita - cravejado com diamantes e platina -, após o Tribunal de Contas da União (TCU) determinar a devolução do item.
Wassef, inclusive, já mudou a versão sobre a participação dele no esquema das joias. Em nota divulgada dois dias após a operação da PF, ele negou ter conhecimento do caso e ter comprado quaisquer objetos de luxo. Já no último dia 15, o advogado admitiu ter recomprado o relógio da marca Rolex vendido no exterior por assessores do ex-chefe do Executivo com o objetivo de devolvê-lo ao TCU.
A Polícia Federal faz investigações para identificar quem mandou vender as joias nos Estados Unidos e quem recebeu o dinheiro. No complexo da PF, em Brasília, no Instituto Nacional de Criminalística, os presentes estão sendo analisados, e pelo menos quatro laboratórios estão envolvidos na perícia.
Colar com mais de R$ 3 mil diamantes
De acordo com o Fantástico, a caixa de joias femininas foi a primeira a ser analisada pela perícia. As peças foram apreendidas no Aeroporto de Guarulhos, na bagagem de um integrante da equipe do Ministério de Minas e Energia, quando a equipe retornava de uma viagem à Arábia Saudita. O caso foi revelado pelo Estadão.
Além das joias, havia com ele também a escultura de um cavalo feito de liga metálica e folhada a ouro. No conjunto de joias femininas, que seriam destinadas para Michelle Bolsonaro - à época primeira dama - a perícia identificou que há diamantes de "excelente qualidade", de tamanhos e formatos diferente. Além disso, os peritos identificaram 3 mil e 161 diamantes exclusivos no conjunto com o colar.
As peças, oriundas de uma tradicional joalheria de altíssimo luxo, tem valor estimado em aproximadamente R$ 4,15 milhões.
Na caixa de joias havia também um relógio todo de diamantes, da pulseira até o mostrador, e avaliado em R$ 1 milhão. Já os outros kits são masculinos – um de ouro branco, outro de ouro rosé –, com peças como caneta, abotoaduras, anel, rosário islâmico e relógio.
O relógio mais caro é o rosé, da marca Choppard, que custa cerca de R$ 695 mil. A caneta de ouro branco, com 1.120 pequenos diamantes, custa R$ 100 mil.
PF segue com as investigações
A Polícia Federal ainda analisa todos os celulares e computadores apreendidos na operação que investiga o esquema de joias e também fará a análise das contas bancárias que tiveram sigilo quebrado por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), entre elas as de Jair e Michelle Bolsonaro.
Ao Fantástico, a defesa de Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, não quis se manifestar. Enquanto o advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro informou que vai assumir também a defesa de Michelle Bolsonaro e que não vai se pronunciar, até o momento, sobre a ex-primeira-dama.
Os advogados do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque afirmaram ao programa da TV Globo que todos os esclarecimentos já foram prestados aos fiscais da Receita Federal, em Guarulhos. Enquanto o advogado Frederick Wassef não retorno à reportagem.
Rolex feito sob encomenda
Segundo o perito da Polícia Federal, o rolex recebido de presente por Bolsonaro foi feito sob encomenda. O acessório faz parte do kit ouro branco recebido pelo ex-presidente em viagem à Arábia Saudita, em 2019, e é cravejado com 184 diamantes.
"Esse [Rolex] é um relógio feito sob encomenda, de uma série especial e tem um calibre, mecanismo especial, para ele. Nesse caso foi muito fácil a gente identificar o relógio", disse em entrevista ao Fantástico Wilson Akira Uezu, perito criminal federal.
Segundo apurado pela PF, antes de serem reunidos na Polícia Federal, os kits foram desmembrados: o Rolex foi vendido por US$ 68 mil, junto com o Patek Phillipe que está desaparecido e foi avaliado pelos policiais federais em US$ 75 mil.