"Nunca passou pelas minhas mãos", diz Moro sobre caso FHC

Ministro da Justiça e Segurança Pública rebateu críticas de que operação Lava Jato tenha tido motivações políticas

19 jun 2019 - 12h39
(atualizado às 13h25)

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse nesta quarta-feira que o caso referente a uma investigação sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nunca passou por suas mãos, e rebateu críticas de que a operação Lava Jato tenha tido motivações políticas.

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em audiência na CCJ do Senado
19/06/2019
REUTERS/Adriano Machado
Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em audiência na CCJ do Senado 19/06/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"O caso não era meu, nunca passou pelas minhas mãos", disse ele, em resposta ao líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), durante audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. "Como nunca passou pelas minhas mãos, como eu iria interferir nessas coisas?", questionou.

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Reportagem do site Intercept Brasil divulgada na terça-feira à noite relata uma suposta troca de mensagens entre Moro, então juiz da Lava Jato, com o chefe da força-tarefa da operação no Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, na qual o magistrado alegadamente quis saber se as suspeitas contra o ex-presidente tucano seriam "sérias".

Moro disse que o caso referente à FHC iniciou de uma delação premiada feita por executivos da Odebrecht homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que foi encaminhado para São Paulo, e não para a Vara Federal em Curitiba, onde ele oficiava.

Segundo o ministro, a Lava Jato atingiu "de forma severa" vários partidos, não apenas aqueles alinhados ao então governo do PT. "Não teve nenhum projeto político envolvido senão o projeto de cumprir a lei", disse.

O líder do PT pediu a demissão de Moro e que ele se desculpasse por, em sua opinião, ter cassado o direito de os brasileiros elegerem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições passadas. Moro foi o responsável pela primeira condenação de Lula no processo do tríplex do Guarujá, confirmada posteriormente pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que abriu caminho para enquadrá-lo na Lei da Ficha Limpa e torná-lo inelegível.

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O ministro declinou de responder a Humberto Costa ao considerar as declarações dele "bastante ofensivas". Em momento anterior, Moro disse que as condenações que impôs a Lula e ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) foram confirmadas pelo TRF-4, pelo Superior Tribunal de Justiça e também em parte foi levado ao STF.

"Sempre agi corretamente no exercício e aplicação imparcial da lei, mas eu não posso deixar a questão eleitoral influir no processo", disse. "Infelizmente essas pessoas cometeram crimes e têm que responder pelos seus atos", destacou.

Moro também destacou que, em 2017, quando condenou Lula no caso do tríplex, não tinha o "menor contato" com o atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Afirmou que só conversou com Bolsonaro após a vitória dele no segundo turno, após ter sido sondado pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes, e disse ter topado o desafio para avançar no combate à corrupção e a criminalidade no país.

O ministro da Justiça disse que não guarda mais as mensagens do aplicativo Telegram porque não o usa desde 2017, época em que foram noticiados vazamento de informações do aplicativo na eleição norte-americana.

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Ele destacou que não se recordava o conteúdo de mensagens enviadas dois a três anos atrás e, embora tenha ressalvado que não podia atestar a autenticidade das informações, afirmou que não via problemas ou irregularidades nos supostos diálogos até agora divulgados.

A audiência pública com o ministro contou com algumas altercações dele com senadores do PT e de partidos independentes ao governo, como PSD, mas também teve demonstrações de apoio, principalmente de parlamentares PSL, partido ao qual Bolsonaro é filiado.

Investigado na Lava Jato, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), fez um desagravo a Moro, ao dizer que ele foi "vítima de crimes graves" cujos autores precisam ser descobertos.

LAVA JATO

Em vários momentos, o ministro da Justiça afirmou que a invasão de telefones celulares de autoridades como ele e procuradores da República da força-tarefa da Lava Jato visa invalidar condenações por corrupção e lavagem de dinheiro e atrapalhar investigações em curso, além de representarem um ataque às instituições.

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"Utilizam isso para fins de minar os esforços anticorrupção, que não foi uma conquista de procuradores e minha, mas da sociedade brasileira", disse Moro, em declaração inicial durante audiência na CCJ.

O comparecimento de Moro à CCJ ocorre após o ministro se dispor a ir ao Senado para explicar supostas trocas de mensagens por aplicativo de celular quando era o principal juiz da Lava Jato com procuradores da força-tarefa da operação em Curitiba, noticiadas pelo site The Intercept.

O ministro da Justiça disse ter agido sempre conforme a lei à frente da condução da Lava Jato. Ele minimizou o teor das supostas conversas, que destacou não poder reconhecer a autenticidade, dizendo que eventualmente podem ter ocorrido, mas que não seriam nada que não pudesse ter havido em uma conversa informal.

"Evidentemente não tenho nada aqui a esconder, a ideia é vir aqui esclarecer o sensacionalismo que tem se criado em torno dessas notícias", disse ele, ao criticar o fato de o site não tê-lo procurado para se pronunciar antes da publicação. Moro disse que as mensagens podem ter sido total ou parcialmente adulteradas.

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Moro disse várias vezes que as supostas conversas, segundo juristas, não revelam quaisquer ilícitos ou irregularidades. Oposicionistas e mesmo integrantes de partidos independentes criticaram o ministro nos últimos dias diante das revelações, alguns deles chegando a defender até o afastamento de Moro do cargo. Bolsonaro, contudo, tem dado demonstrações públicas de apoio a Moro e já disse que a possibilidade é "zero" de demiti-lo.

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