O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), critica a atuação do ministro Sérgio Moro no comando da segurança pública. Segundo ele, Moro não libera verbas aos Estados e não ouve os secretários estaduais na hora de formular políticas públicas para a área. Rocha também diz que a redução nos índices de criminalidade no País não pode ser creditada ao governo federal.
"E ele (Moro) ainda teve a covardia de dizer que os resultados da segurança são por conta do trabalho dele e não por conta dos governadores e dos secretários estaduais, o que nos incomodou muito", disse, falando em nome de outros governadores com quem mantém contatos diários pelo Whatsapp.
Foi por meio de um grupo com outros governadores no aplicativo de troca de mensagens, segundo Rocha, que começou a ser combinado que seria levado ao presidente Jair Bolsonaro o pedido de recriação do Ministério da Segurança Pública. "O Anderson (Torres, secretário de Segurança Pública do DF) foi (para a reunião dos secretários, na quarta-feira, em Brasília) com determinação minha, acordado entre os governadores".
Em entrevista ao Estado, Rocha reclama de Moro por ter transferido, no início do ano passado, líderes de facções criminosas para o Distrito Federal, entre elas Marcus Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do Primeiro Comando da Capital (PCC). "Daqui a pouco, nós vamos ter o PCC tocando fogo em Brasília e o Moro não está nem aí para isso."
- A recriação do Ministério de Segurança Pública era pauta do presidente Jair Bolsonaro ou dos secretários de segurança dos Estados?
Estou trabalhando isso desde o ano passado. Meu secretário foi para a reunião (de quarta-feira) orientado por mim e desde o ano passado vocês têm me ouvido falar que o ministro Moro pode conhecer muito - e eu reconheço que ele conhece - de combate a corrupção, mas de segurança pública ele não entende nada.
- Pedir a recriação do ministério já estava na pauta dos secretários quando a reunião com Bolsonaro foi marcada?
Foi uma pauta desde o período da manhã (de quarta), o Anderson (Torres, secretário de Segurança Pública do DF) foi com determinação minha, acordado entre os governadores. (O assunto) Foi tratado no fórum dos secretários de segurança. No final do fórum, eles fecharam a pauta, foi pedida a reunião com o presidente Bolsonaro e os secretários foram para fazer o pedido em nome dos governadores dos Estados. Foi uma pauta totalmente acordada. Não tem nada de desrespeito ao ministro Moro, é uma pauta republicana, em favor da sociedade brasileira, que eu defendo abertamente.
- Quando esse assunto foi combinado com os governadores?
A gente trata no fórum em todos os momentos. Todos os governadores postam as suas ideias e eu coordeno esse whatsapp 24 horas.
- Por que o sr. é favorável à recriação dessa pasta?
Se você olhar no site do Supremo Tribunal Federal, tem uma ação movida por nós governadores que sequer o dinheiro do Fundo Nacional de Segurança, que foi criado, ele (Moro) liberou. E ele ainda teve a covardia de dizer que os resultados da segurança são por conta do trabalho dele e não por conta dos governadores e dos secretários estaduais, o que nos incomodou muito. Os resultados que nós tivemos na segurança pública vêm da política que foi feita ainda pelo ex-ministro da Segurança Pública (Raul Jungmann, na gestão Temer), que vinha fazendo um belo trabalho.
- O que o sr. acha da atuação do Moro?
O ministro (Moro) nunca fez uma reunião para tratar de segurança pública com os governadores. Essa (a recriação do Ministério da Segurança) é uma política de nós todos governadores. Não tem nada a ver com o Bolsonaro. E o grande erro, talvez um dos maiores erros do presidente Bolsonaro tenha sido não tratar a segurança pública com responsabilidade e ter ouvido os governadores nessa área. Eu sou um apoiador do presidente Bolsonaro mas eu posso garantir a você: os resultados que nós temos na área da segurança pública só não são melhores porque o ministro Moro não ouviu os governadores, não ouviu os secretários e não conhece de segurança pública.
- Foi isso que motivou a demanda na reunião?
Eu posso afirmar a você que a minha manifestação de ontem, a manifestação dos secretários, ela não tem nada a ver com a articulação do presidente Bolsonaro, ela tem a ver com a insatisfação da grande maioria dos governadores e com a insatisfação dos secretários de segurança dos Estados - todos nós que fomos desrespeitados pelo ministro Moro quando ele deu uma declaração no final do ano de que o resultado da segurança pública era trabalho dele, sem que não tivesse feito nada. Ele não fez nada pela segurança pública desse país.
- Mas de quem partiu a iniciativa de recriar o Ministério da Segurança Pública?
Eu estou desde o ano passado batendo nisso. O meu secretário de segurança foi indicado porque ele tem uma proximidade com o Bolsonaro. Eu queria ter proximidade por conta da segurança pública. Agora eu estou com um problema com o Moro muito sério que é esse presídio federal que ele tem aqui (no DF). Aí veja o que aconteceu: eu tive uma tentativa de fuga que foi contornada pelo Exército, sem comunicar a Secretaria de Segurança. Aí, logo em seguida, eu tenho uma tentativa de fuga do presídio no Paraguai. O Marcola vai (é levado) para o nosso instituto de gestão hospitalar, sem comunicação com o secretário de Segurança. Daqui a pouco, nós vamos ter o PCC tocando fogo em Brasília e o Moro não está nem aí para isso.