Moro privilegia articulação e recebe 1/6 do Congresso

Empenhado em aprovar o pacote anticrime, ministro da Justiça já se reuniu com 106 parlamentares, só atrás de Onyx

18 mai 2019 - 17h40
(atualizado às 17h55)

Ao mencionar na semana passada, de forma elogiosa, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, afirmando que ele "tem feito política", o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não jogou palavras ao vento.

Integrante de um governo que se mantém avesso à articulação com o Congresso, o sisudo ex-juiz da Lava Jato que mandou prender nomes de peso da política nacional não poupa esforços para aprovar o seu pacote anticrime e manter a estrutura de "superministério" da sua pasta.

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O ministro da Justiça, Sérgio Moro, em evento público 
O ministro da Justiça, Sérgio Moro, em evento público
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

Em menos de cinco meses de governo, ele já se reuniu com 106 parlamentares, segundo levantamento do Estado com base apenas em sua agenda oficial.

O ministro teve encontros com mais de um sexto do Congresso e rivaliza no governo com o ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, responsável pela articulação política do Palácio do Planalto. Onyx, deputado federal licenciado, esteve com 125 deputados e senadores.

Moro mostra empenho em deixar uma marca na sua passagem pelo Executivo. O ministro já colecionou constrangimentos e derrotas no governo - a última delas no dia 9 deste mês, quando a comissão especial que analisa a medida provisória da reforma administrativa decidiu devolver o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ao Ministério da Economia. Ter o comando do órgão tinha sido um dos pedidos de Moro ao presidente Jair Bolsonaro antes de assumir a pasta.

Após o revés, Moro intensificou ainda mais os encontros com parlamentares, que já haviam marcado presença de forma massiva no seu gabinete em abril, com média de mais de uma audiência por dia.

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Nesses quatro meses e meio de governo, o ministro reservou mais espaço em sua agenda para reuniões com integrantes da chamada "bancada da bala", como é conhecida a Frente Parlamentar da Segurança Pública. Foram 44 encontros com deputados ligados à frente, que tem algumas reivindicações abarcadas no pacote anticrime.

O presidente do grupo, deputado Capitão Augusto (PR-SP), foi quem mais visitou o gabinete de Moro no período: quatro vezes, empatado com o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP).

"(O pacote) É uma bandeira dos parlamentares, não tem nada a ver com o governo. Então, esse problema de articulação que hoje existe do Executivo com o Legislativo não vai afetar a votação do pacote porque ele é uma bandeira nossa", disse Capitão Augusto, que renunciou à vice-liderança do governo em abril com críticas à relação entre o Planalto e o Congresso.

Entre parte dos parlamentares, no entanto, persiste a resistência à figura de Moro. Deputados mais experientes costumam dizer que o ministro da Justiça ainda não abandonou o estilo de juiz, que o faz querer impor ao Parlamento, sem muita paciência para o processo de tramitação, suas ideias para o combate à criminalidade.

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"Moro deveria ter tido um diálogo anterior com vários setores da sociedade, inclusive dentro do próprio Ministério da Justiça, antes de formular esta proposta. Agora fica recebendo parlamentares", afirmou o deputado Rui Falcão (PT-SP).

"O governo utiliza ele como instrumento de propaganda. O governo não fez um gesto, não moveu uma palha para manter o Coaf no Ministério da Justiça", disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que se encontrou com o ministro uma vez e conversou sobre o pacote anticrime e a permanência do Coaf na pasta. "O governo está perdendo apoio popular e ele está indo junto. Se ele ainda quer salvar a biografia, acho que deveria cair fora do governo", declarou.

No início da semana passada, Moro foi obrigado a negar uma declaração do presidente e disse que não assumiu compromisso com Bolsonaro para ser indicado futuramente a uma cadeira no Supremo Tribunal Federal - a primeira vaga será aberta em novembro de 2020. O presidente recuou da declaração dias depois e negou que a ida do ex-juiz para o governo foi fechada com essa condição.

Uma condição, porém, admitida em público por Moro para encarar o trabalho é a recusa a se tornar um "advogado" do governo. O ministro costuma dar essa resposta quando questionado sobre as investigações que envolvem o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, e Fabrício Queiroz, ex-assessor do parlamentar na época em que ele ocupava cargo de deputado estadual no Rio de Janeiro.

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Além dos parlamentares, Moro já se reuniu até o momento com oito governadores - é nos Estados que a maioria das políticas de segurança pública é adotada. Mas o ministro mantém o foco de atuação no seu pacote anticrime no Congresso.

Propostas

Para a cientista política Lara Mesquita, da FGV, a articulação do ministro é natural, já que ele optou por fazer parte do mundo da política. "Como o ministro tem uma agenda que depende do apoio legislativo, ele está fazendo o que me parece razoável, que é conversar com parlamentares e apresentar as propostas que tem."

Antes de intensificar as reuniões políticas em sua agenda oficial, Moro foi alvo de Maia, que o chamou de "funcionário do Bolsonaro" e desqualificou o projeto anticrime ("copia e cola" do ex-ministro da Justiça e ministro do Supremo Alexandre de Moraes). O ministro havia cobrado mais celeridade à tramitação do pacote, o que irritou o presidente da Câmara.

Dois meses depois, Maia avalia "que a política tem de olhar o ministro Moro, hoje, de outra forma". "A gente está reclamando muito que o governo não faz política, e esse ministro, por mais que alguns tenham restrição ou não a ele, ele fez política, tem feito política."

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Procurado, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou em nota que as audiências são solicitadas pelos deputados e senadores para tratar de pautas como a "segurança pública em suas bases, investimentos, apoio para projetos de autoria dos parlamentares, contribuições para melhorias legislativas (o que inclui o pacote anticrime) e ações do ministério". / Colaboraram Marianna Holanda e Ricardo Galhardo

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