Morre Paulo Egydio, ex-governador de SP, aos 92 anos

Governou o Estado durante o regime militar, entre 1975 e 1979, nomeado pelo então presidente Ernesto Geisel

13 fev 2021 - 07h56
(atualizado às 09h31)

O ex-governador de São Paulo e ex-ministro Paulo Egydio Martins morreu ontem, aos 92 anos. Paulo Egydio governou o Estado durante o regime militar, entre 1975 e 1979, nomeado pelo então presidente Ernesto Geisel. No período em que ocupou o Palácio dos Bandeirantes se destacou mais pelo perfil administrador. Na política, se consolidou como um liberal e seu êxito foi estimular a reabertura durante a ditadura.

ex-governador do Estado de São Paulo e ex- ministro, Paulo Egydio Martins, durante entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo, na capital paulista, para matéria sobre a PUC - 30 anos de invasão. Paulo Egydio governou o Estado durante o período da ditadura militar, entre 1975 e 1979. Morreu nesta sexta- feira, 12 de fevereiro de 2021, aos 92 anos. A causa da morte não foi mencionada. A notícia do falecimento foi transmitida pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
ex-governador do Estado de São Paulo e ex- ministro, Paulo Egydio Martins, durante entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo, na capital paulista, para matéria sobre a PUC - 30 anos de invasão. Paulo Egydio governou o Estado durante o período da ditadura militar, entre 1975 e 1979. Morreu nesta sexta- feira, 12 de fevereiro de 2021, aos 92 anos. A causa da morte não foi mencionada. A notícia do falecimento foi transmitida pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Foto: ANDRÉ LESSA / Estadão

Filiado à Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido de sustentação do regime de março de 1964, Paulo Egydio deu suporte civil à chamada política de distensão de Geisel.

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Nos quatro anos que comandou São Paulo por indicação do então presidente, Paulo Egydio se tornou o homem de confiança no Estado, e se opôs aos militares linha-dura. Manteve, desde o começo de sua gestão, relações delicadas com o general Ednardo Dávila Melo, comandante do 2.º Exército, um dos que queriam aprofundar o combate aos que tentavam "subverter" o governo.

"Desculpe incomodá-lo", afirmou Paulo Egydio a Geisel, por telefone, na noite de 18 de janeiro de 1976. "Morreu outro preso no DOI. Outro enforcamento." Era uma referência à segunda de duas mortes que representaram o momento mais delicado de seu governo e precipitaram o processo de distensão do regime militar.

O jornalista Vladimir Herzog e o metalúrgico Manoel Fiel Filho foram assassinados em outubro de 1975 e janeiro de 1976, respectivamente. Na época, Herzog, ex-repórter que ajudou a instalar a sucursal do Estadão em Brasília e então diretor de jornalismo da TV Cultura - emissora do governo paulista -, havia se dirigido às dependências do DOI-Codi para prestar um depoimento. De acordo com a versão oficial da ditadura, ele tirou a própria vida ao se enforcar na cela, com os joelhos dobrados.

A morte teve sérias repercussões, mobilizando a sociedade em repúdio às prisões e assassinatos políticos. A imprensa e o próprio presidente interpretaram o assassinato como um desafio do aparelho de repressão ao projeto de Geisel. No dia 19 de janeiro, após a ligação de Egydio, Ednardo foi exonerado.

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O projeto de abertura no interior do governo militar saiu fortalecido. "Militares linha-dura não queriam que o Geisel desse continuidade à abertura política que ele estava implementando", afirmou o ex-governador à Comissão da Verdade, em 2013. "Eles queriam um regime mais forte e violento", completou na época, acrescentando que as mortes faziam parte de uma estratégia para tirar o presidente do poder.

Ainda à frente do governo paulista, Egydio tentou, sem sucesso, fazer com que o prefeito da capital paulista, Olavo Setúbal, fosse escolhido como seu sucessor em São Paulo. Promoveu, em 1978, uma pesquisa plebiscitária com todos os prefeitos arenistas do Estado em que cada um enviou um telegrama ao presidente, general João Batista Figueiredo, com o nome do candidato de sua preferência.

O mais cotado foi Murilo Macedo, então secretário da Fazenda, seguido de Rafael Baldacci Filho, Laudo Natel, Antônio Delfim Neto, Setúbal, Manuel Ferreira Filho (vice-governador), Ademar de Barros Filho, Jorge Maluly Neto e, finalmente, Paulo Salim Maluf, ex-prefeito de São Paulo. Em seguida, Setúbal, Baldacci, Macedo e Delfim Netto assinaram um documento no qual atribuíam a Paulo Egydio poder de decisão na questão sucessória. Figueiredo, então, alertou para a possibilidade de intervenção federal no processo sucessório paulista, em caso de cisão dentro da Arena. No fim das contas, em 1979, Paulo Egydio transmitiu o cargo a Paulo Maluf, escolhido como candidato pelos políticos da Arena paulista, de quem depois virou crítico.

Liberal

No fim do mandato como governador, o paulista chegou a defender a legalização do Partido Comunista e o fim do exílio do secretário-geral da agremiação, Luís Carlos Prestes. Depois, já fora do cargo, passou a dar sucessivas declarações de cunho liberal, como no caso da defesa da proposta de "anistia ampla, geral e irrestrita" defendida pelo partido de oposição à ditadura, o MDB.

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Poucos anos depois do retorno do pluripartidarismo no Brasil, Egydio se filiou ao Partido Popular (de Tancredo Neves), do qual foi terceiro-vice-presidente da comissão executiva regional. Saiu, no entanto, antes de a sigla ser incorporada ao então PMDB. Teve uma passagem pelo Partido Democrático Social (PDS) antes de finalmente ingressar, em 1884, no PMDB a pedido de Tancredo, candidato da Aliança Democrática. Participou ativamente das articulações pela candidatura do político mineiro.

Em meados da década de 1980, abandonou a política partidária, para a qual só voltaria em 2006, com a filiação ao PSDB. A partir de então, foi para o setor privado, chegando a ser presidente do Banco Finasa S.A. e do Itaucorp S.A., do grupo Itaú. Também foi conselheiro da Câmara de Comércio Brasil-Suíça.

Paulo Egydio teve sete filhos do seu casamento com Brasília (Lila) Byington, filha do industrial paulista Alberto Byington, sócio da mineradora americana Alcoa, que ele mesmo chegou a presidir entre 1962 e 1964.

Uma década antes, havia trabalhado no departamento de engenharia da Byington & Companhia, de propriedade da família de Lila.

Paulo Egydio já estava no governo quando a Arena, o partido da ditadura, foi criado. A agremiação passou a existir só em 4 de abril de 1966, três meses depois de o paulista, um engenheiro por formação, assumir o Ministério da Indústria e do Comércio (MIC) no governo do presidente Humberto Castelo Branco. O Ato Institucional n.º 2, que extinguiu os partidos políticos e instaurou o bipartidarismo, havia sido publicado no fim do ano anterior.

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No MIC, ajudou a sustentar a política do ministro do Planejamento, Roberto Campos, uma das linhas mestras da linha econômica adotada pelo regime criado para combater a inflação.

O ex-governador nasceu em São Paulo, cursou ensino básico em Santos, e foi com sua família para o Rio de Janeiro, onde realizou seus estudos, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), formando-se em Engenharia em 1951.

A notícia do falecimento foi transmitida pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). A causa da morte não foi informada.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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