O Ministério Público Federal deu andamento às primeiras diligências para investigar por suposta improbidade administrativa o delegado da Polícia Federal Felipe Alcântara de Barros Leal, afastado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, do inquérito que investiga o presidente Jair Bolsonaro por interferência política na corporação.
Leal foi excluído da condução do inquérito, em agosto, após pedir diligências que, segundo Moraes, não se relacionavam com o objeto original da investigação, aberta após a saída de Sergio Moro do governo Bolsonaro. A procuradora da República Melina Flores pediu acesso à íntegra do inquérito para comparar com as medidas tomadas pelo delegado e entender se eram, ou não, pertinentes à investigação.
O requerimento foi endereçado ao ministro do Supremo. Ela também aguarda a cópia dos documentos produzidos por Leal. Segundo a procuradora, "os fatos narrados podem tratar de possível desvirtuamento da finalidade" do inquérito "e configurar atos de improbidade administrativa".
Paralelamente, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, braço-direito do procurador-geral, Augusto Aras, pediu uma investigação à PF sobre possível abuso de autoridade do delegado.
Ao afastar Leal, Moraes citou diligências que o delegado encaminhou e o ministro considerou inadequadas, como um pedido para que a PGR encaminhasse cópia de qualquer eventual procedimento instaurado para averiguar se a Agência Brasileira de Informações (Abin) e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) haviam buscado informações com o fim de orientar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) no caso das rachadinhas.
Leal também pediu acesso ao procedimento de exoneração do colega Alexandre Saraiva do comando da Superintendência da PF do Amazonas - o mesmo que denunciou o suposto envolvimento do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles com o contrabando de madeira ilegal na região. Leal buscou, ainda, informações a respeito da não nomeação do delegado Franco Perazzoni para um cargo na cúpula da PF.
Em esclarecimentos enviados ao ministro, o delegado afirmou que, no caso da Abin, o episódio, revelado pela revista Época, tinha conexão com a investigação sobre a suposta ação do presidente Bolsonaro para usar órgãos de investigação e blindar seus aliados. E, no caso de Saraiva e Perazzoni, que protagonizaram investigações que acabaram atingindo Ricardo Salles, o delegado afirmou que queria entender se o presidente não estaria blindando o ex-chefe do Meio Ambiente. De acordo com Leal, as diligências cabiam ao caso para solucionar "lacunas investigativas".
Ao Estadão, o delegado afirmou que recebe a notícia da investigação com "serenidade, convicto de ter atuado nos limites legais, como sempre". "As diligências delineadas no inquérito possuem nexo com as linhas investigativas", disse.