A Assembleia Legislativa de Mato Grosso comprou, de 2009 a 2011, mais de quatro milhões de litros de combustíveis de uma empresa suspeita de operar um grande esquema de lavagem de dinheiro e de fraudar o sistema financeiro. A Amazônia Petróleo, rede de postos de combustíveis do empresário Gércio Mendonça Júnior, é investigada pela Polícia Federal na operação Ararath. Gércio Júnior está colaborando com as investigações conduzidas pelo Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso.
As informações da compra de combustível foram prestadas pela Assembleia à ONG Moral, que atua no Estado. Segundo o presidente da entidade, o advogado Bruno Boaventura, os dados só foram repassados depois que a ONG recorreu à Justiça.
Os documentos mostram que a Casa comprou 4,139 milhões de litros de combustíveis da Amazônia Petróleo entre 2009 e 2011, época em que o deputado José Riva (PSD) presidia a Assembleia. Afastado da presidência da Casa desde 2013, o parlamentar foi preso na terça-feira na operação.
Segundo a ONG Moral, apenas em 2010 foram comprados 1,7 milhão de litros de gasolina. Com este volume, considerando uma média de consumo de oito quilômetros por litro, seria possível rodar quase 14 milhões de quilômetros. Ainda conforme as contas da entidade, mesmo que cada veículo percorresse 100 quilômetros por dia útil, seriam necessários quase 600 carros para consumir o volume de combustível que a Assembleia comprou.
A Assembleia Legislativa não se manifestou sobre a compra da gasolina. O Terra também procurou o advogado do deputado José Riva, mas ele não foi encontrado para comentar o caso.
ONG vai pedir processo por quebra de decoro
A ONG Moral vai entrar, nesta sexta-feira, com um pedido junto à Mesa Diretora da Assembleia para abertura de processo de quebra de decoro parlamentar do deputado Riva. “Estamos preparando o pedido com base principalmente no histórico do parlamentar, que já sofre mais de 190 ações de improbidade. Com essa operação da Polícia Federal e com a prisão, o momento é esse. Estamos há mais de 10 anos em cima disso”, disse o advogado Bruno Boaventura.
Operação Ararath
A operação, que entrou na quinta fase na manhã de terça-feira, investiga crimes contra o sistema financeiro, como lavagem de dinheiro. A PF cumpriu mais de 70 mandados de busca e apreensão, um deles na casa do governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB). Surpreendido pela operação, mantida em segredo de Justiça, uma arma calibre 380 foi encontrada em sua casa. Após as buscas, Barbosa foi conduzido à sede da PF, onde pagou fiança e foi liberado.
Batismo de fogo: Os nomes inusitados das operações policiais
Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa estadual e na prefeitura de Cuiabá. Policiais estiveram nos gabinetes do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Sérgio Ricardo, e do prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB). Na operação, foi preso ainda o ex-secretário de Estado da Fazenda e da extinta Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo do Pantanal (Agecopa), Éder Moraes. Os presos serão encaminhados à Brasília. Os mandados de prisão foram expedidos pelo STF e de busca e apreensão pela Justiça Federal de Mato Grosso.
A Polícia Federal teria chegado a todos esses nomes depois que Gércio Marcelino Mendonça Junior, dono de uma factoring, ligada ao grupo Amazônia Petróleo, preso na primeira fase da operação, fez um acordo com a PF e o MPF para receber o beneficio da delação premiada. Por meio de operações de empréstimo fraudulentas, as empresas lavavam dinheiro e fraudavam o sistema financeiro, movimentando mais de R$ 500 milhões de reais em seis anos. A base do esquema era uma empresa de Várzea Grande (MT) que, oficialmente, encerrou suas atividades em 2012.